Amiga de Caetano Veloso e Gilberto Gil – dois artistas que ela fotografou bastante -, Lita Cerqueira é uma autêntica baiana. Apesar de ser uma cidadã do mundo, conhecendo vários países, ela não abre mão de manter suas raízes em Salvador, onde nasceu e mantem uma casa no Centro Histórico. O Rio de Janeiro é uma segunda casa, na qual ela se encontra atualmente depois de passar uma temporada na capital baiana.
Suas fotos fazem parte do Acervo da Biblioteca de Paris, na França. Na capital francesa tem um curador Ricardo Fernandes que tem uma galeria e desde 2010 faz trabalhos com ele. Expôs na Inglaterra em 2016 e em Veneza, na Itália, no ano de 2017. Ela também faz parte do acervo da Pinacoteca de São Paulo e tem uma exposição fixa no Museu Afro, numa iniciativa de Emanuel Araújo.
Solteira, mãe do produtor musical Pedro de Lita que mora em Paris, Lita fez em 2008, na capital paulista, a exposição “A fotografia Como eu sou”, com curadoria de Diógenes Moura. Atualmente em parceria com o pessoal da Loja Boqueirão em Salvador, Tânia Povoa e Alfredo está preparando um livro com retrospectiva de suas fotos.
E vem muito mais novidades por ai. Aos 70 anos, ela diz que não tem tempo pra se aposentar. E enquanto tiver forças vai continuar produzindo fotos e mais fotos.
Em conversa com o Baú do Marrom, Lita falou de suas origens, do seu amor pela Bahia, do prazer em exercer sua profissão e arrematou: ??? O amor de fotografar 80% do povo da Bahia, isso pra mim é tudo, é amor.
Baú do Marrom: Para quem não lhe conhece, fale um pouco de suas origens. Quem é Lita Cerqueira?
Lita Cerqueira: Eu nasci na Caixa D???água e basicamente fui criada no Santo Antônio, para onde minha família se mudou e fomos morar na Vila do Carmo 33. Estudei na Escola Marques de Abrantes. Praticamente eu sou do Santo Antônio que é onde eu criei raízes e onde o peso é mais forte
Baú do Marrom: Qual a importância da fotografia em sua vida como uma mulher e negra?
Lita Cerqueira: O amor de fotografar 80% do povo da Bahia, isso pra mim é tudo, é amor.
Baú do Marrom: Existe uma relação especial sua com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Você chegou a ir a Londres, quando eles estavam exilados?
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Gil num momento familiar com a irmã Gildina e a mãe Claudina (Foto: Lita Cerqueira) |
Lita Cerqueira: Não fui a Londres. Morava em Salvador, trabalhava na Rua Chile, numa butique onde todo jovem quer comprar sapatos e roupas. Um dia eu desisti de tudo isso, fui para Arembepe para a casa de Sonia Dias (atriz e mãe da roteirista Manoela Dias). Na volta eu fiz curso de teatro, lá eu conheci milhões de pessoas na casa de Sonia. E essas pessoas são minhas amigas até hoje, como cineastas, modelos, uma turma maravilhosa que se hospedava na casa de Sonia Dias.
E essas pessoas diziam: Lita, vamos morar no Rio. Quando eu fui morar, conheci umas pessoas, uns jornalistas na revista Bondinho e numa revista de fotografia que eu conheci em Salvador. E eles me convidaram para morar em São Paulo. Eu fui. Depois fui para o Rio.
Baú do Marrom: Você tem preferência por algum tipo de fotografia? Por exemplo: gosta de fotografar mais pessoas, ou lugares, ou ambos?
Lita Cerqueira: Eu gosto de fotografar quase tudo, na realidade coisas bonitas. Não gosto de tragédia e gosto de paisagens, lugares que eu nunca fotografei e principalmente crianças e o povo local, aonde eu chego.
Baú do Marrom: Apesar de ser uma cidadã do mundo você nunca se afastou da Bahia, de Salvador onde, inclusive tem uma casa no centro histórico. O que a Bahia significa para você?
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Caetano Veloso pela lente de Lita Cerqueira |
Lita Cerqueira: A Bahia, Marrom, me deu tudo. A Bahia eu piso mais forte, não sei porque, é diferente. Nunca quis morar na Europa. Tenho três irmãos que moram na Europa, trabalham. Um é professor na França, outro fez Enfermagem, trabalha como cuidador de idosos em hospital. Francisco, meu irmão caçula que eu gosto muito, que tem uma pousada em Santo Antônio é um que trabalha na Mercedes Benz, que hoje em dia é aposentado, que é mais velho do que eu.
Mas eu nunca quis morar em outro país, a não ser o Brasil. E a Bahia, apesar de eu morar no Rio, a Bahia me trás belas recordações da minha infância, Nunca fui uma criança rica, minha mãe teve 11 filhos e foi muito difícil, mas eu sempre quis ser o que eu sou, artista, que eu bordo, eu cozinho, faço comida, dou aula de culinária quando estou fora, invento. Mas eu nunca quis lavar prato nem Paris, nem Londres e nem começar e nem namorar com gringo pra viajar de jeito nenhum. Sempre gostei de carioca e é isso aí.
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