“Meu amuleto de sorte”, diz Nelfon Rufino sobre seu sonhado aniversário de 80 anos

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nelson rufino foto por ana lucia albuquerque 1

Quem conversa com Nelson Rufino tem uma oportunidade única de falar com poesia. Primeiro, porque na primeira oportunidade que tiver, ele vai cantar ou recitar um verso, confirmando que aquele homem é um samba em carne e osso. Segundo, porque quem gosta de poesia, sabe quando se depara com uma. 

O homem-samba-poesia completou 80 anos na última segunda-feira (12) e tem muito a comemorar. Chegar às 8 décadas de vida era um sonho do autor de clássicos como Verdade, Todo Menino é um Rei e Vazio (Está faltando alguma coisa em mim). Ele recebeu o CORREIO para uma conversa na varanda do Estúdio Duarte e abriu seu coração: 

???Era um dia que eu almejava muito. Eu cultuei, cultivei e pensamentei muito os meus 80 anos. Eu queria fazer. Deus me deu muita coisa, eu sou muito agradecido. ?? muito importante pra mim completar 80 anos. Essa idade é meu amuleto de sorte. Eu queria muito que Deus me desse essa felicidade e Ele me deu. Tem horas que me toco assim???, disse o menino Corumbá ou o velho Rufa, enquanto batia no braço para ter certeza da própria vida.  

A vida nem sempre foi fácil. Mas ele teve no samba um amigo e aliado, principalmente nos momentos de tristeza, quando se sente mais inspirado a escrever. Sua primeira letra foi um bolero aproveitando o talento de um cunhado no violão. O primeiro samba veio em 1962, quando havia acabado de deixar a Bahia para tentar a vida como jogador de futebol no Rio. 

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Nelson Rufino escreveu seu primeiro samba por conta da saudade. Ele diz que escreve melhor durante a tristeza (Foto: Ana Lúcia Albuquerque/CORREIO)

O jovem tinha um teste marcado no Fluminense  e contava com a sorte nos gramados para sustentar a família após a morte do pai – o carnavalesco que fez com que ele se apaixonasse pelo samba. A ideia não deu certo: o teste foi um fiasco e ele arrumou as malas de volta, assim que recebeu uma carta avisando que sua mãe estava triste de saudade. Antes disso, pegou papel, caneta e violão. Assim nasceu Bahia, Meu Primeiro Travesseiro.

???O samba chegou a mim aos poucos, devagar, devagarinho – como diz Martinho da Vila, que é uma das minhas referências. Ele um dos três. O outro é Dorival Caymmi, desde que ouvi Jorge Valentão, de 9 pra 10 anos. Depois, Batatinha, que conheci por causa de meu irmão???, enumera – enfiando uma poesia no meio da prosa.

Filho do Tororó

Depois de ouvir Bahia, Meu Primeiro Travesseiro, seu irmão saiu espalhando pelo Tororó que tinha um compositor dentro de casa e que ele iria fazer um samba para o  Apaxes. Só esqueceu de consultá-lo e lhe deu um susto enorme ao contar da promessa – que foi cumprida mesmo assim e se tornou o pontapé inicial para que a Escola de samba do bairro nascesse: a Filhos do Tororó, fundada por Antonio Belmiro.

???Arnaldo Presidente e Zezito diretor foram lá em casa encomendar um samba enredo. E a escola foi campeã com meu samba, eu com 22 anos. Eu chorava na avenida. E peguei gosto???. Pronto. Não parou mais de escrever. Rufa gosta de pensar a vida em ciclos de dez anos. Um luxo que se dá após oito décadas neste plano. O ciclo que mais o marcou foi entre os 60 e 70, quando realizou o sonho de gravar um DVD Ao Vivo e fazer tudo do jeito que sonhou.

 Apaixonado pelo viver e grato aos amigos, reuniu as duas coisas em Minha Vida, lançado em 2013, depois de gravar um show com participações de Jorge Aragão, Ivete Sangalo, Martinho da Vila, Mariene de Castro e Carlinhos Brown e tantos outros nomes para quem já escreveu.

Zeca Pagodinho classifica Nelson Rufino como um grande parceiro. ???A gente se conhece há mais de 30 anos e desde então, ele já me deu vários  sucessos, sambas que o público não deixa sair do repertório dos meus shows. Verdade e Cadê Meu Amor são alguns deles. Saúde e vida longa pra Nelson Rufino???, deseja Zeca, para quem ele escreveu duas das letras que mais se orgulha: Mangas e Panos, do disco Ser Humano; e Permanência, do Mais Feliz.

???60 pra 70 me marcou muito. Eu sonhava muito com um DVD no tipo que ele foi feito. Com convidados… o gordo ali me ajudou a materializar esse sonho???, diz, referindo ao músico Fernando, seu filho,  do grupo Batifun. Agora, diz Rufino, está se preparando, ???já na marca do pênalti???, para um segundo projeto dos 55 anos de samba. Por enquanto não vai dar muitos detalhes, para ???os anjos de boca mole??? não atrapalharem.

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Nelson e Fernando Rufino, seu filho e produtor (Foto: Ana Lúcia Albuquerque/CORREIO)

Nelson Rufino espera que dos 80 aos 90 volte a ser feliz como foi no seu penúltimo ciclo, já que o último foi mais sofrido e teve percalços como a pandemia, que o impôs um cuidado maior consigo mesmo e afastamento até da boemia e cervejinha gelada que tanto gosta. ???Tomei essa decisão porque preciso do Velho Rufa bem. Tenho um sonho aqui na cabeça, que preciso estar forte para realizar???, revela.

Feliz com os 80, ele  vai fazer o que mais sabe para comemorar: sambar e cantar. No domingo, às 10h, comanda o Samba no Parque, gratuito, no Parque da Cidade, convidando Ilê Aiyê, Batifun, Viva Vós, Gal do Beco e Elienai e Coral Família Pena Branca. No dia 25, vai para a Praça Pedro Arcanjo fazer uma grande celebração, convidando Bambeia, Batifun, Chocolate da Bahia, Fora da Mídia e diversos outras ???prata da casa???.

???Juro que não pensava que Coruba, meu apelido de infância na curva grande, que virou Nelson Rufino, viria chegar até onde estou nesse exato momento. ??s vezes me pego chorando porque a emoção rola. Ouvindo o que as pessoas falam, cada declaração de respeito pelo que tenho feito até aqui é impressionante???, disse, emocionado. 

Orgulhoso de saber que 80 anos não são 80 dias, ou mesmo 80 minutos, Nelson Rufino continua fazendo questão de agradecer a Deus e aos amigos pela vida. Com a certeza de que ainda sonha feito menino, cheio de sonhos, tesão e samba no pé. Que venham mais 80 anos, seu Rufa!

10 sambas de Nelson Rufino

Durante a conversa, Nelson Rufino revelou algumas de suas músicas favoritas e que mais se orgulha de ter feito a composição. Na lista abaixo, também trazemos algumas das canções mais famosas escritas pelo baiano do Garcia.

  • Vazio (Está Faltando Alguma Coisa em Mim)

  • Pago Pra Ver

  • Colheita

  • Verdade

  • Todo Menino ?? Um Rei

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