Uma Copa do Mundo na medida para ricos e reaças

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Não poderia a Fifa ter escolhido país mais conectado ao ideal do pensamento conservador na prática dos costumes e no tratamento dos trabalhadores: o Catar, sede da Copa, a começar dia 20, tem tanto luxo como também desigualdade.

Para construção dos estádios, o relacionamento com os operários poderia sugerir um regime análogo à escravidão, pois recebem ordenado menor em relação ao combinado e o passaporte é logo retido, impedindo a volta ao país de origem.

A peãozada vem do Bangladesh, Nepal e Índia, trabalha em condições precárias e vive em alojamentos imundos, sem acesso a banheiro, dormindo em colchonetes, alimentando-se de ração, além do convívio com pulgas e baratas.

Estimam-se 15 mil mortos durante o trabalho de construir e reformar as arenas, algumas com apartamentos e shoppings, a preços apropriados às contas bancárias de fazendeiros do agro, banqueiros, rentistas e barões em geral.

O ingresso mais barato passa dos 500 reais (a moeda deles é o rial) e quem quiser assistir à decisão vai pagar cerca de 8 mil, enquanto uma hospedagem dentro de um estádio pode surpreender mesmo um milionário.

O país vive sob uma austera monarquia, com indicação pelo soberano de grande parte dos políticos, para fazer de conta existir um arremedo de Parlamento, sem a presença de mulheres, claro, pois são tratadas como um gênero inferior.

As catarianas vivem obrigadas a vestir burca, aquela roupa preta cobrindo o corpo todo, e usam uma máscara, pois na ideia deles, este cuidado evita assédio, impedindo a praga de “ricardão”.

Imagina se Avicena e Averróis, entre outros pensadores árabes, voltassem à vida para verificar este e outros costumes, em total contrassenso à capacidade de reflexão tão desenvolvida pelos muçulmanos séculos atrás.

Alerta! Mesmo quem precisa torrar a grana da exportação de produtos agrícolas, do tráfico de cocaína e da rede de prostituições, entre outros negócios lucrativos, tome sua cautela.

Beijar, abraçar e andar de mãos dadas pode dar cana de seis meses para os casais apaixonados, enquanto tomar uma cervejinha (a 70 reais a lata) só é permitido dentro dos hotéis, e se ficar 
“bebo”, será isolado até curar a cachaçada.

Galera LGBTQIA+++ nem pense em ir para Doha pois, se a galera de lá perceber algo diferente do sexo biológico, denuncia na hora aos homens da lei islâmica: o acusado corre risco de sair da cadeia só depois de o juiz decretar apedrejamento.

Não se sabe como a Fifa decide levar a Copa, patrimônio da humanidade, para um lugar com este perfil, onde mesmo um jogador ou torcedor, caso fale um palavrão, pode ser sentenciado à prisão por seis meses.

Só muito petrodólar para tentar construir hipótese mais provável, dando visibilidade a um lugar tão “diferente” na mentalidade média, embora parecida com a de nossos cidadãos de visão curta.

Um país de bola murcha, onde se curte mais corrida de camelo, sob 50 graus centígrados, gerando a necessidade de ar-condicionado em todo canto, vivendo sob leis severas de restrição ao comportamento, eis a sede do Mundial.

A Copa do Catar demonstra como a mecânica de mercado visa só o lado financeiro. Não há como desenvolver valores de convívio quando a força do capital é campeã antes mesmo de a bola rolar.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.

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