Futuro terá óculos que encaixam perfeitamente e carros que sabem o que você quer comer

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Quem usa óculos sabe o quanto é frustrante encontrar um modelo que agrade, colocar no rosto e perceber que ficaram pequenos, ou grandes. Sem o encaixe ideal, os utensílios ficam escorregando pelo nariz e pedindo ajustes o tempo inteiro. Mas, e se fosse possível fabricar os assessórios sob medida para um rosto específico? Foi exatamente esta a solução pensada por uma startup baiana chamada YoFace, desenvolvida no Senai Cimatec. 

Com o uso de tecnologias como a inteligência artificial e manufatura aditiva, é possível mapear o rosto humano em aproximadamente 500 pontos e entregar um produto que atenda exatamente à necessidade de um determinado cliente. E as demandas podem ser tanto de natureza estética, quanto de saúde, ou mesmo profissionais. Todas resolvidas sob medida. 

A customização da vida é uma tendência que vai ganhar cada vez mais força à medida que tecnologias como impressão 3D, inteligência artificial, conectividade e metaverso se tornarem comuns. Hoje, empresas já trabalham para colocar no mercado óculos sob medida, próteses que se encaixam perfeitamente a um corpo e até mesmo tecidos construídos para um paciente específico. Mas no futuro, é bastante provável que este processo de customização alcance um patamar que hoje é praticamente inimaginável. 

csm Luismar Porto sobre carne do futuro no Cimatec Talks Fotos Ana Lucia Albuquerque 8 f52cc36db0
Luismar Porto, presidente da JBS Biotech Innovation Center

“Eu não sei dizer quando isso irá acontecer, mas eu imagino que em algum momento do futuro, nós iremos entrar em nosso carro autônomo, que irá nos conduzir para a nossa casa, ao mesmo tempo em que nos escaneia e percebe que estamos com fome”, sonhou Luismar Porto, presidente da JBS Biotech Innovarion Center, durante sua participação no Cimatec Talks +20, realizado na última quarta-feira. “Nosso carro irá usar uma rede de internet de alta velocidade para informar à nossa casa que estamos chegando e iremos encontrar uma refeição pronta para atender todas as nossas necessidades nutricionais”, ri. 

Mas será que este alimento feito para atender necessidades nutricionais, fabricado com base na funcionalidade, será tão gostoso quanto uma fatia de picanha feita no carvão na brasa? “Será muito melhor. Não há limites para a criatividade e a engenhosidade do homem”, projeta Luismar. 

Segundo Luismar a ideia de fazer carne cultivada é antiga.

“Churchil sugeriu em 1951 que não se deveria matar um frango para retirar carne, mas que deveríamos multiplicar células”, lembrou. “Ele errou por 50 anos, mas vai acontecer. Em 2031 acredito que teremos carne cultivada no mercado”, projeta.

Os avanços da impressão 3D são tão grandes que quatro anos se tornam uma eternidade neste universo, aponta Fernanda Grego, engenheiro de Aplicações da HP. As impressoras, cada vez mais avançadas e capazes de usar uma gama maior de materiais, além das resinas termoplásticas são a base para a formação de uma nova indústria, chamada de manufatura aditiva. Simplificando, em algum momento da história da humanidade deverá ser possível imprimir os produtos dentro de casa, no lugar de comprá-los. A comida também? Sim, não se faz ideia de quando isto será possível, mas este é o caminho tecnológico. 

Além de permitir soluções cada vez mais customizadas, permitindo a construção de produtos com design muito mais complexos que na manufatura tradicional, espera-se grandes mudanças em relação à logística. “Um ponto que merece muito destaque é o da customização de produtos, como órteses e próteses. Cada uma pode ser feita sob medida para um paciente”, destaca. 

Durante a pandemia, quando os custos e o tempo de frete apresentaram crescimento, a impressão 3D foi uma alternativa da HP para fornecer diversos produtos necessários para a contenção da pandemia, conta Grego. “Com a Ziggzagg, fizemos os dipositivos para testes de covid. Os dispositivos impressos reduziram extremamente os custos para produção”, conta. 

“Com este grande problema logístico, ter produção local, própria ou usando um bureau de impressão, pode reduzir muito tempo e custos, dando vantagens em relação a competidores”, acredita. “Com o design correto, você vai mandar para a impressora e terá um bom resultado final”, diz. 

Pernas mecânicas podem ser fabricadas com um encaixe perfeito, assim como os capacetes para tratamentos de deformidades cranianas em recém-nascidos, exemplifica.

Novo olhar
O fundador da YoFace, Ivan Cavilha, lembra que os óculos sob medida da startup têm potencial para resolver um grande número de problemas. Inclusive financeiros e relacionados à sustentabilidade. Hoje grande parte dos produtos manufaturados atravessam o planeta em navios oriundos da China. “A indústria chinesa é capaz de fornecer um volume imenso de produtos a preços competitivos, então existe um fluxo logístico imenso para atender às demandas do mercado”, diz. “A gente consegue entregar ao cliente um produto final customizado, personalizado, levíssimo e produzido aqui ao lado”.

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Fundador da YoFace, Ivan Cavilha

Fabricado a partir da poliamida, o “nylon em pó”, a matéria-prima é 100% reaproveitada, destaca Cavilha. 

O cliente pode ser alguém que queira óculos mais confortáveis, alguém com algum tipo de deformidade craniana, ou um profissional que precisa do uso contínuo das lentes para desenvolver bem o seu trabalho, como profissionais de saúde e soldados. O rosto é escaneado em 500 pontos e um software de inteligência artificial simula o produto que melhor se adequa às necessidades do usuário.

Outra conexão
O gerente executivo do Senai Cimatec, Luiz Taboada Gomes Amaral, destaca a importância da conectividade para as novidades que estão por vir. “O 4G conectou todas as pessoas, mas o 5G vai conectar todas as coisas, é um outro passo”, aponta. 

Na mesma linha, Tiago Fontes, diretor de Marketing Estratégico da Huawei, compara o 4G e o 4G com estradas. “Imagina uma via com uma mão de ida e outra de volta, isto é o 4G. Com 5G, são 10 de ida e mais 10 de volta. Dá para andar em alta velocidade, baixa latência e alta conectividade”, explica. “É algo que terá um impacto imenso na vida das pessoas e na rotina das indústrias, que poderão ter todos os seus processos conectados de maneira rápida”, aponta. 

O aumento da conectividade deve proporcionar mudanças significativas. Além de permitir uma navegação mais fluída, o consumo de produtos que fazem uso da realidade aumentada, vídeos em 360 graus e com diversas opções de visualização (multiview) devem se tornar cada vez mais frequentes. “Imagina assistir um filme, ou um jogo de futebol e poder ir escolhendo o ângulo de visão”, diz. “A produção de conteúdos vai se tornar cada vez mais interessante, prevendo muito mais interações, realidade virtual e aumentada”.

Alex Machado, diretor de desenvolvimento de produtos da Ford, diz que a montadora norte-americana enxerga o futuro da mobilidade intimamente ligado à conectividade. “Nossos carros serão nossos escritórios, salas de estar. Acredito que faremos tudo no veículo, menos dirigir”, aponta. 

Ele explica que a conectividade fornecerá tanto entretenimento para quem está nos veículos, como permitirá a comunicação entre veículos e dos veículos com a realidade urbana. “Essas mudanças irão permitir uma ressignificação do espaço. Não terá volante, por exemplo”.
 

Alguns conceitos do futuro

Metaverso é a terminologia utilizada para indicar um tipo de mundo virtual em que se pode entrar através do uso de dispositivos digitais. 

Impressão 3D é um processo que opera diversas ferramentas para imprimir objetos por meio da sobreposição progressiva de um material em camadas. Assim, é possível criar com base num modelo digital.
 
Inteligência artificial é a capacidade de máquinas executarem tarefas complexas associadas a seres inteligentes.

Internet das coisas é um conceito que se refere à interconexão digital de objetos cotidianos através da internet, criando uma rede capaz de reunir e de transmitir dados entre si.

ENTREVISTA: Felipe Tavares, professor do curso de Arquitetura da UFPB

‘Seria uma grande ganho para a humanidade se deixássemos os trabalhos mais braçais para as máquinas’

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Quem é
Felipe Tavares

Professor de disciplinas da graduação e pós-graduação com experiência em modelagem e simulação numérica de sistemas do edifício e da cidade. Engenheiro Civil com Mestrado (Estruturas – UFPE) e Doutorado (Mecânica – UFPB) em Vibração de Estruturas. Pós-Doutorado em Modelagem Paramétrica e Fabricação Digital (Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – UNICAMP).

A Inteligência Artificial já é parte da nossa realidade. Qual é o futuro desta tecnologia e como ela vai impactar nossas vidas?
É difícil a gente falar com certeza sobre como será o futuro. O que ajuda a responder esta pergunta é pensar se o que está disponível hoje vai se tornar normal em nossas rotinas. A gente tem essa gravação de dados contínuos cada vez mais. A partir disso, se consegue treinar uma inteligência artificial. Tem diversas atividades que podem melhorar nossa capacidade cognitiva, aprimorar os sistemas que a gente usa, desde dirigir um carro ou automatizar tarefas em diversas áreas de trabalho, seja no Direito, no comércio, na Arquitetura, ou no Jornalismo.

O que eu penso é que tem muita coisa que está disponível, mas está evoluindo tão rapidamente que as pessoas têm dificuldade de assimilar e colocar no dia a dia. Eu acredito que as grandes transformações podem vir com as novas gerações que estão sendo formadas para usar essas inovações e implementar em nosso dia a dia. 

Em relação ao desenvolvimento destas ferramentas, o Brasil caminha para ser mais consumidor ou produtor de tecnologia?
Os dois casos. Temos aqui centros de excelência científica que não deixam nada a dever para países mais desenvolvidos, ou mais ricos. Cientificamente já se desenvolve muita coisa aqui no Brasil para pesquisas em diversas áreas. Agora, eu acho que mais importante do que desenvolver é saber utilizar aplicações com o que já foi criado. A gente pode pensar que o desenvolvimento passa muito pela aplicação das tecnologias. Precisamos ter conhecimento para aplicar essas ferramentas. Não é plug-in play. Precisa ter um pessoal formado para aplicar. Tem a dimensão do desenvolvimento, a partir de conhecimento que já se tem. Agora, o desenvolvimento de uma nova inteligência artificial também pode ter uma participação nossa. 

Você acha que conseguir usar é tão impactante quanto criar?
Eu acredito que temos que pensar em como incorporar porque ajuda muito. Existem cirurgias de muita precisão que podem ser feitas com o uso de robôs. Tem trabalhos braçais que são muito perigosos ou danosos para a saúde. É importante automatizar processos robotizáveis. Existem muitos trabalhos que não são bons para uma pessoa fazer, que prejudicam a saúde porque são maçantes, prejudicam a saúde física ou mental, e poderiam ser feitos por máquinas. Seria um grande ganho para a humanidade se deixássemos os trabalhos mais braçais para as máquinas. Se fala tanto que estamos na era da imaginação e é difícil a gente conseguir identificar exatamente como será o futuro.

Nosso desafio é incluir na educação urgentemente, em todas as áreas, o ensino de linguagem de programação para crianças.

Claro que ela não vai fazer um programa para a Nasa, mas já pode ir se habituando com a linguagem. O problema é que existe uma resistência parecida com aquela que houve na entrada dos computadores ou dos smartphones. 

Uma crítica que se faz à automação é por retirar espaço do ser humano. Como resolver isso?
Tem gente que acha que vai roubar trabalho. Não é isso, vamos ter uma mudança estrutural no sistema econômico. As pessoas que trabalham exclusivamente no trabalho braçal, como vai ser o sustento delas? Isso vem sendo discutido em várias arenas. Nós temos um protótipo do que se aponta como uma das possíveis soluções, que é a de se oferecer uma renda universal básica. O Bolsa Família ou Auxílio Brasil já é um protótipo disso. Estamos falando de uma coisa que já foi defendida exclusivamente pela esquerda e que atualmente encontra espaço no pensamento político de direita também, já não é tão absurdo pensar em garantir subsistência para todas as pessoas. 

Por outro lado, chega a ser desumano pensar em manter uma parte da sociedade fazendo coisas que ninguém escolheria fazer, não é?
Existem ocupações que diminuem a expectativa de vida do trabalhador. É uma questão a se pensar em termos de humanidade. Claro que há um processo histórico que explica como chegamos aqui, mas eu tento ver isso com otimismo, como uma coisa boa. Não de maneira catastrófica como o cinema muitas vezes mostra, de os robôs dominarem o mundo. E eu não estou dizendo que isto não pode acontecer, se não conduzirmos esse processo de transição direito.

Vivemos um momento crítico em que precisamos nos preparar para que a tecnologia, que virá, sirva para melhorar as nossas vidas. 

Quais são as outras grandes questões relacionadas à automação?
Uma outra coisa que se discute muito é a questão das responsabilidades. Hoje, se uma pessoa fere outra no trânsito, sabemos quem responsabilizar. Agora, um veículo autônomo se envolve em um acidente, isto é responsabilidade de quem está no veículo, é de quem produz o automóvel, ou da cidade? São questões que precisam ser definidas. Quem pagará pelo erro do robô? São coisas que precisam ser discutidas. 

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