O sol ainda não tinha raiado quando todos se juntavam em casa ou nas ruas e ligavam a TV. A milhares de quilômetros dali, os gramados japoneses eram o palco para quem produziu a alegria de tantos e tantos brasileiros no lado oposto do planeta. Duas décadas depois, um novo grupo de protagonistas quer repetir a história, agora com um roteiro diferente. O primeiro de sete possíveis capítulos é hoje (24).
Desta vez, não será necessário despertador. A partir das 16h (de Brasília), o Brasil enfrenta a Sérvia pelo Grupo G e inicia a caminhada em busca do sonho de voltar a conquistar a Copa do Mundo. O cenário não poderia ser melhor: o Estádio Icônico de Lusail, palco da final do Mundial do Catar.
A cidade construída para a competição é lar da maior arena do país. São mais de 80 mil lugares para quem testemunhará a história do futebol na decisão de 18 de dezembro. Mas o sonho – ou obsessão – de tantos por vezes se faz pressão, entre jovens e experientes.
Richarlison, por exemplo, tinha cinco aninhos em 30 de junho de 2002, quando o camisa 9 Ronaldo, o Fenômeno, levou Oliver Khan à lona e fez os dois gols do triunfo contra a Alemanha, em Yokohama.
Aos 25, o capixaba de Nova Venécia assume uma missão inglória. O dono da camisa 9 da Seleção não balança a rede há nove jogos na Copa do Mundo. O jejum iniciado com Fred no mata-mata do Mundial de 2014, no Brasil, passou pela Rússia nas costas de Gabriel Jesus e desembarcou no Catar na bagagem de Richarlison.
O último gol de um camisa 9 do Brasil na Copa foi de Fred na última rodada da fase de grupos de 2014 contra Camarões, no Mané Garrincha, em Brasília. Depois disso, o Brasil enfrentou Chile, Colômbia, Alemanha e Holanda naquela edição sem Fred balançar a rede.
Aposta de Tite há quatro anos e meio, na Rússia, Gabriel Jesus deu sequência à abstinência. Não balançou a rede contra Suíça, Costa Rica, Sérvia, México e Bélgica.
Depois de ostentar falsos e autênticos centroavantes como Tostão (1970), Reinaldo (1978), Serginho Chulapa (1982), Careca (1986 e 1990), Romário (1994) e Ronaldo (1998, 2002 e 2006), o Brasil procura um matador substituto.
Vice-artilheiro da Era Tite nesse ciclo de Copa com 17 gols, o jogador do Tottenham manifestou na última terça-feira prontidão para a missão dada por Tite.
“Não estou 100%, estou 200%. Chegou o momento, o momento de ser feliz, se divertir, e eu estou aqui para isso, ajudar meus companheiros e fazer o meu melhor para a Seleção sair vitoriosa de todos os jogos”, disse.
A abstinência da camisa 9 do Brasil não pressiona o dono da posição na conquista da medalha de ouro nos Jogos de Tóquio. Embora usasse a 10 na Olimpíada, Richarlison terminou artilheiro do torneio com cinco bolas na rede.
“Quando você veste a camisa 9, a primeira coisa que vem na cabeça é fazer gols. Graças a Deus eu tenho bastante gols com a camisa da Seleção jogando como 9. Acho que com esses companheiros que tenho ali no ataque, creio que os gols vão sair naturalmente. Claro que na última Copa a gente viu o esforço do Gabriel Jesus, o papel importante que ele fez na equipe, mas a cobrança vem porque ele é o 9, e o 9 tem que marcar gols. Essa cobrança é normal, acontece aqui, acontece no meu clube”, admite.
Nervosismo
Richarlison é um dos 16 estreantes do Brasil em Copa do Mundo. Coincidentemente, Tite trouxe ao Catar a mesma quantidade de calouros convocados por Didier Deshamps na conquista da França em 2018. O mix de experiência e juventude necessita de elos para amenizar a pressão e a ansiedade, especialmente na estreia. Um deles é o capitão.
“Eu sempre estive preparado para todas as situações. É um momento especial, agradeço à comissão pela capitania desse jogo. É uma competição de tiro curto, temos de estar preparados para o primeiro confronto, sabemos a pressão e a importância do primeiro jogo. Nervosismo faz parte, mas estamos bem equilibrados para fazer uma boa estreia”, admitiu o zagueiro Thiago Silva, capitão brasileiro nas Copas de 2014, 2018 e nesta estreia em 2022.
Com semblante tranquilo, Tite diz estar “mais leve, mais em paz, mais Adenor”. Ao longo da semana, calmamente repetiu o ritual que antecede todos os jogos da Seleção desde 2016.
Na mesquita localizada no Centro de Treinamento do Brasil em Doha, o comandante foi falar com Deus. Ele sabe que hoje terá um compromisso bem diferente dos demais, mas decidiu manter o que tem dado certo para controlar os nervos.
“O nervosismo é menor (do que em 2018). Faço minhas as palavras do Thiago. O aprendizado pode ser teórico, mas é fundamental prático. Os jogos têm um componente emocional muito forte, a estreia ainda mais. Pela expectativa que gera, é humano”, disse Tite.
“Talvez isto interfira nas expectativas do que acontece no jogo. Temos o maior torneio do mundo, os maiores atletas do mundo, talvez a maior visibilidade de um esporte do mundo. Mas temos de ser o que somos na nossa essência”, tranquilizou-se.
Escalação do Brasil
É de Tite a responsabilidade de definir 11 jogadores para o início do torneio mais importante do planeta. Em um jogo mental com o adversário, prefere se conter ao ser questionado sobre quem serão os eleitos – embora, no fundo, saiba que todos já imaginam os escolhidos.
“A equipe não vou definir (publicamente), para não dar ao adversário a oportunidade de saber. As variações vocês sabem e não vou falar. Eu faço escolhas, agrado a uns e a outros, não. Isto é da escolha e da função do técnico, mas os atletas do meio para frente se escolheram também. Em cada clube eles estão com protagonismo e qualidade excepcionais”, disse.
O mistério se desfaz apenas parcialmente pela amostra de 76 jogos à frente da Seleção Brasileira nos últimos seis anos. Foram muitas as variações testadas ao longo de um ciclo e meio de preparação para dois Mundiais. E a escolha para esta quinta-feira deverá ser inédita.
Tite decidiu por uma escalação bastante ofensiva do Brasil para a estreia. O ponta Vinícius Júnior será titular no lugar do volante Fred. Com isso, Lucas Paquetá atuará como segundo homem de meio-campo, à frente de Casemiro.
No papel, serão quatro atacantes de origem: Vini, Raphinha, Richarlison e Neymar – o último atuará centralizado, como ’10’, e terá menos responsabilidades defensivas.
Dessa forma, o Brasil deverá ir a campo com Alisson; Danilo, Thiago Silva, Marquinhos e Alex Sandro; Casemiro, Lucas Paquetá e Neymar; Raphinha, Richarlison e Vinícius Junior. Na vitória por 3 a 0 no amistoso contra Gana, Tite testou um desenho tático parecido. A diferença foi nas laterais, ocupadas na ocasião por Éder Militão e Alex Telles.
Sérvia sem medo
O mistério brasileiro não preocupa o técnico Dragan Stojkovic, da Sérvia. Ao menos não no discurso. “Não temos medo de ninguém no mundo, nem mesmo do Brasil”, disse o comandante de 57 anos. O ex-meio-campista assumiu a seleção local em 2021. Desde então, são 21 partidas, com 14 vitórias, quatro empates e três derrotas.
“Não me importa como o Brasil vai jogar, me importa como a Sérvia vai jogar. É difícil defender contra jogadores tão bons como os do Brasil, mas temos que nos concentrar no jogo de modo completo e pará-los de um jeito inteligente por zona. Não vamos correr atrás para fazer uma marcação homem a homem. Vai ser difícil, mas é possível pará-los”, completou.
Embora o técnico tenha frisado a necessidade de marcar o forte ataque brasileiro, a Sérvia concentra seus melhores jogadores do meio para frente. A dupla de centroavantes é formada por Mitrovic, do Fulham, e Vlahovic, da Juventus, dois dos jogadores mais letais do futebol mundial. Na área central, Tadic, Sergej Milinkovic-Savic e Kostic se destacam – o último deles, porém, não deve jogar por questões médicas.
BRASIL X SÉRVIA
Brasil
Alisson; Danilo, Thiago Silva, Marquinhos e Alex Sandro; Casemiro, Lucas Paquetá e Neymar; Raphinha, Vinícius Júnior e Richarlison
Técnico: Tite
Sérvia
Vanja Milinkovic-Savic; Milenkovic, Veljkovic e Pavlovic; Zivkovic, Gudelj, Sergej Milinkovic-Savic, Miadenovic e Tadic; Mitrovic e Vlahovic
Técnico: Dragan Stojkovic
Motivo: primeira rodada do Grupo G da Copa do Mundo
Local: Estádio Icônico de Lusail, em Lusail, no Catar
Data e horário: quinta-feira, 24 de novembro de 2022, às 16h (de Brasília)
Árbitro: Alireza Faghani (Irã)
Assistentes: Mohammadreza Mansouri (Irã) e Mohammadreza Abolfazli (Irã)
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