Uma mãe que luta para enterrar o filho em uma só lápide, um pai que provou o assassinato do filho por PM’s e a angústia de uma mulher em risco de perder o auxílio do Bolsa Família. Três histórias que renderam ao CORREIO três premiações em duas categorias diferentes no Prêmio OAB de Jornalismo Barbosa Lima Sobrinho, que teve cerimônia realizada nesta terça-feira (13). Com as três conquistas, o jornal foi o veículo mais vitorioso desta edição.
A repórter Fernanda Santana ganhou o primeiro lugar na categoria Jornalismo em Texto com a matéria ‘As duas mortes de um filho’. Já o repórter Bruno Wendel ganhou o segundo lugar na mesma categoria com a matéria ‘PMs são denunciados pela morte de deficiente’. A fotojornalista Paula Fróes ganhou o segundo lugar na categoria Fotojornalismo com imagens da matéria ‘Obituários do Bolsa Família’.
Os três vibraram com a conquista. Fernanda se disse muito feliz por ganhar com uma história que a marcou. “Me sinto muito honrada como repórter e pessoa. Mais honrada ainda por ser com essa reportagem relacionada a direitos humanos, democracia e justiça, que são pilares do jornalismo que eu acredito”, fala.
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A história de Franciele foi tema da matéria vencedora (Foto: CORREIO) |
A jornalista afirma ainda que essa história, que traz a batalha de uma mãe que teve seu filho enterrado em lápides diferentes, foi uma reportagem marcante.”Ela sintetiza a profundidade da infração de direitos humanos, principalmente, nos interiores e redutos conservadores. Essa é uma prova de como há tantas histórias que a gente como jornalista precisa denunciar”, diz Fernanda. Veja um trecho da matéria abaixo:
Um adeus está engasgado na garganta de Franciane de Souza, 45 anos, há um ano e oito meses. Duas vezes por mês, ela conversa sobre isso com um psicólogo. “É o lugar onde você fala o que mais dói”, explica. Nela, o que mais dói é uma história que começa de madrugada, na Rua Ibitiba, passa por uma sala de onde saiu com restos mortais do filho em um saco e continua no Cemitério Municipal de Luís Eduardo Magalhães, onde ele foi enterrado em dois caixões sem ela saber.
As duas gavetas em que Guilherme foi sepultado, aos 21 anos, estão a 200 metros de distância. Na primeira, na ala de adultos, está o que Franciane acreditou se tratar de todo o corpo do filho, de quem achava ter se despedido em setembro de 2020. Na segunda, na ala das crianças, é onde o Estado diz ter colocado outra parte do cadáver, sem aviso à família, que desconhecia esse pedaço até o Instituto Médico Legal (IML) de Barreiras entregá-lo para a mãe.
Coordenadora da edição do CORREIO de fim de semana, onde a matéria foi publicada, Mariana Rios afirma que o prêmio é fruto de um trabalho apurado de mais de um mês da repórter.”Ela teve muita sensibilidade em conduzir esse trabalho. Entregou algumas versões do texto e trabalhamos juntas nisso. É interessante o reconhecimento para visibilizar a história dessa e de outras mães que sofrem para que os direitos do filhos sejam reconhecidos”, diz.
Outro premiado, Bruno Wendel venceu o Prêmio OAB de Jornalismo pela segunda vez e comemorou. “Em tempos de notícias falsas, esse prêmio valoriza a prática do jornalismo de credibilidade, que checa as fontes e ouve todos os lados. Muito feliz por mim e pelos colegas que receberam”, afirma Bruno.
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Eduardo dos Anjos foi vítima de policiais militares (Foto: Acervo Pessoal) |
Ele afirma que a matéria é importante por contar a saga de um pai, mostrando erros da polícia no caso. “O pai tenta provar a inocência do filho quando a polícia apontava que ele teria reagido a uma abordagem, sendo que era deficiente e mal andava. A gente mostra tudo sobre essa história de luta de forma séria e com todos sendo ouvidos”, completa. Veja um trecho da reportagem:
Até onde um pai é capaz de ir em busca da verdade sobre a morte do filho? Inconformado com a versão de que o seu caçula, Eduardo dos Anjos Menezes, 27 anos, havia reagido a abordagem policial, o lavrador Anésio Bispo de Menezes, 52, passou um ano e meio correndo atrás de documentos que provassem a execução do rapaz, que era deficiente físico e não tinha antecedentes criminais. Ele apresentou dossiê à Justiça, que converteu o auto de resistência instaurado em janeiro do ano passado em denúncia contra um tenente, um soldado e um cabo da Polícia Militar. Em julho, os três policiais viraram réus e podem ir à júri popular em Barreiras.
Os PMs foram denunciados por homicídio qualificado, quando não há chance de defesa da vítima. São eles: o tenente Wudson Sulivan Araújo dos Santos, o soldado Edicarlos Araújo dos Santos e o cabo Marcos Ney Alves, todos da Rondesp (Rondas Especiais) de Barreiras. Eduardo, que possuía deficiência na perna esquerda, condição que lhe impedia desde criança de locomover-se com agilidade, foi baleado na presença da família, dentro da própria casa. A filha de 6 anos da vítima presenciou a cena. Os três agentes também são investigados em um Inquérito Policial Militar (IPM).
Sobre o prêmio para a categoria de Fotojornalismo, Paula Fróes destacou o triunfo em uma pauta sobre a luta pelo assistencialismo social.”Me inscrevi com fotografias de extrema importância pra mim e estou muito feliz. Esse reconhecimento é fundamental para nossa categoria que sofre diariamente para mostrar essas questões. É uma bandeira que eu levanto”, afirma Paula.
A fotojornalista ganhou o primeiro com um retrato de Maíra Ferreira, 32 anos, que usava o Bolsa Família para comprar comida para as filhas e estava com medo diante do fim do programa e a chegada, desconhecida por muitos na época, de um novo em seu lugar. Veja a imagem:
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Foto de capa com Maíra ganhou prêmio (Foto: Paula Fróes/CORREIO) |
Chefe de fotografia do CORREIO, Sora Maia também comemorou a premiação e destacou a sua temática. “Direitos humanos e democracia são valores que precisamos estar atentos para defender. Ter Paula como representante nesse prêmio é um orgulho e mostra como estamos comprometidos com essas causas”, fala.
CORREIO em destaque
Linda Bezerra, editora-chefe do CORREIO, declara que o resultado é a vitória do jornalismo profissional. “São reportagens bem apuradas com histórias originais e inéditas. É a vitória de um projeto que não fica só no factual, mas que traz algo a mais para o leitor. Esses conteúdos vitoriosos são produtos que tiveram tempo de apuração e dedicação. Vitória de uma equipe comprometida e muito afinada”, afirma.
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA), que promove o prêmio, destacou as premiações do CORREIO. “Sem dúvida, a quantidade de prêmios que os jornalistas do CORREIO receberam decorre da qualidade do trabalho que é feito por esse veículo tão importante que faz parte da história do nosso estado”, fala Daniela.
Vice-presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI), Luis Henrique Pontes também fez elogios ao jornal e os vencedores. “A OAB valoriza o trabalho jornalístico no estado e a premiação do CORREIO é mais do que justa. É um jornal de referência com o quadro de profissionais de muita qualidade e que nos surpreende com iniciativas de reportagens que tinham desaparecido”, complementa Pontes.
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