A notícia da morte de Alvinho ‘Barriga Mole’ no dia de Natal deixou Paulo Leandro sem chão por algum tempo. Não apenas pela dose extra de sensibilidade que a data festiva provoca, mas porque a perda acessou memórias de uma vida inteira como rubro-negro. Ele conheceu o torcedor-símbolo muito antes de se tornar jornalista e pesquisador, quando o pai o levava ao estádio para ver o Vitória jogar.
“Eu ainda era criança e via aquela figura diferente levando uma imagem do Padre Cícero, até hoje uma das principais lideranças políticas do nosso Nordeste. Ajoelhado, ele atravessava todo o gramado da Fonte Nova nos momentos de alegria do time, de títulos, que eram muito raros. Ele enfrentou com muita força a época ruim. Lembro de muitas coisas dele. Uma pessoa bondosa e maravilhosa”, recorda Paulo Leandro, emocionado.
O Natal também não foi fácil para Rosicleide Aquino, 63 anos. Torcedora-símbolo do Vitória assim como Alvinho, ela precisou dar adeus de longe ao amigo e companheiro de tantos jogos. Em Brasília na casa de uma das filhas, Rosicleide se emocionou muito ao falar da perda.
“Para mim, o Natal não tem mais alegria. Ele sempre estava ao meu lado. Me levava ao estádio, me apoiava. Viajávamos muito para ver o Vitória. Uma perda que nenhum torcedor do Vitória queria passar. Alvinho continuará representando para mim um dos maiores ícones do Vitória como torcedor. Sempre será lembrado dentro de todos os corações rubro-negros. Jamais poderia imaginar que aconteceria logo numa data dessa”, lamentou, em lágrimas.
Álvaro Ribeiro dos Santos morreu neste domingo (25), aos 89 anos. Ele deixou viúva Marlene Santos e três filhos: Celso, Almerinda e Cátia Ribeiro. O velório e a cremação aconteceram no Cemitério do Jardim da Saudade, em Salvador. A família optou por não divulgar a causa da morte.
Na opinião de Paulo Leandro, a morte de Alvinho ‘Barriga Mole’ representa a extinção de um paradigma. “Alvinho representa o valor da persistência, da perseverança. Com ele, morre um paradigma do torcedor que é um apaixonado incondicional pelo clube. Ele enfrentou com aquela imagem o tempo das vacas magérrimas do Vitória. Tempo sem título, o tempo que, para ganhar um título estadual, era muito raro. Ele representa, de um ponto de vista histórico, o paradigma desse torcedor que, incondicionalmente, se apaixonava”, afirmou o pesquisador de 58 anos.
“Hoje já estamos migrando para o paradigma do torcedor cliente, aquele que paga o Sou Mais Vitória, que quer que o time ganhe porque ele pagou para isso. Hoje é tudo muito caro e higienizado”, comparou.
Coautor do livro ‘Memórias do Esporte Clube Vitória’, Tiago Bittencourt é de uma geração diferente da de Paulo Leandro, mas também guarda recordações de Alvinho.
“Eu não cheguei a conhecê-lo, mas vi nos gramados e era marcante, porque para um menino, uma criança, estar no gramado do Barradão era um sonho. Depois de um título, comemorar com os jogadores, Minha história de torcedor é da década de 90 e a gente via Alvinho atravessar de joelhos o gramado do Barradão. Isso era uma coisa fascinante. Era realmente incrível. Todo torcedor do Vitória tem a lembrança”, afirma o jornalista e torcedor rubro-negro de 37 anos.
“Ele já tinha idade avançada e, nos últimos anos já não participava, mas são esses ícones da torcida que o futebol sempre teve que, aos poucos, vão se apagando. O futebol tem que voltar realmente a ter esses ícones, essas figuras folclóricas, que você admira de longe pelo diferencial que eles têm. E Alvinho tinha esse diferencial realmente”, completa Bittencourt.
O clube divulgou uma nota lamentando a morte do torcedor-símbolo: “O Vitória lamenta, com profundo pesar, o falecimento do torcedor e ex-conselheiro, e se solidariza com os familiares e amigos de Alvinho ‘Barriga mole’ neste momento de imensa tristeza. Descanse em paz”.
Presidente rubro-negro, Fábio Mota também falou ao CORREIO. “Alvinho é um torcedor chave e símbolo do Vitória. É uma pessoa que inspirou muitos e muitos torcedores. É uma perda irreparável para a torcida. Nós estamos muito tristes com o acontecimento. Alvinho representa muito a torcida do Vitória, pela sua representatividade, pelo seu jeito de ser, pelo seu espírito guerreiro de devoção e fé. Inspirou muitos jogadores, diretores, presidentes a seguir o barco e comigo não foi diferente”, afirmou o dirigente.
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