Ou os golpistas do 8 de janeiro são punidos com a maior severidade possível ou não haverá pacote de novas medidas em defesa da democracia que os impeça no futuro de tentar derrubar governos eleitos. E o futuro pode ser a qualquer momento.
O país dispõe de leis e de meios de repressão capazes de desestimular novas aventuras. Ocorre que todos os meios falharam quando os golpistas acampados à porta do QG do Exército, em Brasília, invadiram a Praça dos Três Poderes.
O golpe era pedra cantada. O presidente derrotado estimulou-o abertamente ao longo do seu mandato de 4 anos. Na véspera, a Polícia Federal avisou aos interessados sobre a chegada a Brasília de milhares de bolsonaristas em pé de guerra.
Mais de mil foram presos; uma parte foi solta; mais de uma centena já foi denunciada. As investigações estão longe de acabar. Mas é evidente o receio de parte da República de que o arrastão capture peixes graúdos – militares, políticos e empresários.
A tudo, as Forças Armadas assistiram deitadas em berço esplêndido sem tomar providências; a mais bem paga e poderosa Polícia Militar do país, a do Distrito Federal, idem. O governador Ibaneis Rocha fingiu que nada tinha a ver com o que se passaria.
No caso específico do Exército, seu comandante tolerou a volta ao acampamento dos que haviam participado do assalto e ameaçou disparar contra um destacamento da Polícia Militar que insistiu mais tarde em prender os rebelados; deu-lhes tempo para fugir.
O governo diz que os culpados não ficarão impunes. Simultaneamente, Lula adianta sua posição contrária à instalação de uma CPI no Senado para apurar o que de fato aconteceu. Ora, CPI é direito da minoria assegurado pela Constituição.
A CPI proposta pela senadora Soraya Thronick (União-MS) colheu assinaturas suficientes para ser instalada. Se reeleito, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, promete instalá-la. Será pitoresco ver o PT e seus aliados se oporem à CPI do Golpe.
Lula diz que o governo, a Polícia Federal e até a Procuradoria-Geral da República estão empenhados em radiografar o golpe e levar os culpados às barras dos tribunais. Que pitoresco! Bolsonaro valeu-se da mesma desculpa para tentar barrar a CPI da Covid-19.
Quanto mais luz for jogada sobre o 8 de janeiro de triste memória, menos chances haverá de que algo parecido se repita em breve. Sem anistia para ninguém, é claro. Mas também sem página virada às pressas por medo ou excessiva cautela.

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