Força da Palavra:Ulysses, D, Avelar, Gal Tomás (por Vitor Hugo Soares)

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Gato escaldado – e cético por dever de profissão – depois de escutar a fala do militar na TV – e conferir mais de uma vez, até entender bem a intenção e o alcance das palavras do general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva em defesa do respeito à democracia e à Constituição, com acatamento ao voto livre nas urnas das eleições presidenciais passadas, senti o alívio da tensão que rondava no ar, em geral, e em particular nos círculos de governo e do poder político, além dos homens de togas e de fardas. Rápido levantamento de perfil biográfico, e logo vi estar diante de uma daquelas figuras que no sexto mandamento de seu Decálogo do Estadista, Ulysses Guimarães chama de “um arquiteto da esperança, e não uma coruja que só pia agouro, nem Cassandra de catástrofes”.

Na mente os atos de terror golpista de 8 de Janeiro, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Cujo escárnio e covardia ficaram mais patentes e indignantes nesta quarta-feira, 24, com a exibição das imagens gravadas pelas câmeras do STF: cenas inéditas de ferocidade, vilania e provocação dos golpistas – de delituosa omissão (ou cumplicidade?) das forças de segurança. Em contraste, as imagens do militar defensor da legalidade e das práticas de convivência democrática – com folha profissional exemplar na passagens por várias partes do país, além da atuação de confiança nos gabinetes dos ex -presidentes FHC e Itamar Franco, no Palácio do Planalto. O vídeo do general de pensamente e fala como há tempo não se via ou se ouvia por aqui, discursando em S. Paulo para a tropa, viralizou de norte a sul.

E, assim, contribuiu para abortava o surto golpista, vinculado ao bolsonarismo de extrema direita, que fluia solerte em serpentários do DF e várias regiões. São evidentes os efeitos distensores da força da palavra do militar paulista, sobretudo após a decisão pronta e firme do governo recém empossado do presidente Luís Inácio Lula da Silva de ir direto ao ponto: e afastar do comando do Exército o general Júlio César de Arruda, alçado ao posto estratégico das FFAAs pelo ex-mandatário do Palácio do Planalto, Jair Bolsonaro, agora de “férias” na Flórida (EUA), investigado quanto ao seu efetivo papel nos atos golpistas. O ex-comandante do Exército foi afastado do posto, com formal agradecimento do ministro da Defesa, José Múcio, “pelos serviços prestados” e substituído pelo general legalista de S. Paulo, que tomará posse nos próximos dias, logo que a poeira assentar de vez nos quartéis.

Força do verbo. Assim como as falas de Ulysses, ou as homilias das missas dominicais de Dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo de Salvador e Cardeal Primaz do Brasil, nos anos loucos da ditadura. Voz pacificadora de defesa das liberdades civis, de imprensa, de livre expressão e dos direitos humanos, que então ganhava tratamento factual nas redações locais, e sucursais – a exemplo do Jornal do Brasil, onde eu trabalhava, em Salvador – que quase invariavelmente publicava com destaque e em espaço generoso de circulação nacional da época, na edição da segunda-feira. Palavras poderosas pela inteligência, moderação, atitude, mérito e senso de oportunidade. Tal qual o discurso do general paulista Tomás à sua tropa, neste caso de impacto bem maior, porque de repercussão nacional e no exterior imediata. Agora ele é o novo comandante do Exército, já se movimenta, se informa e toma providências essenciais antes da posse. O resto a conferir.

Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.E-mail: [email protected]

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