O jornalismo político

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Nem precisava de redundância. Apenas para ressaltar a coerência da escolha da data de amanhã, 7 de abril, como Dia do Jornalista. A data é referência de um fato político, a abdicação de Dom Pedro I, em 07/04/1831, supostamente envolvido, ou ciente, no episódio do assassinato de Líbero Badaró, em 20 de novembro do ano anterior. O Google, coitado, confundiu as coisas, e na primeira busca aponta o 7 de abril como a data do assassinato do jornalista. O fato é que a morte de Badaró foi o pretexto para a oposição se organizar, tecer conspirações e provocar o impeachment de nosso Imperador do jeito “botar para correr”, que era o padrão da época.

Os americanos inventaram o conceito de quarto poder e empoderaram a imprensa que acreditou ser esse poder do limbo. Acabou sendo um cordão umbilical dos poderes, quando não um puxadinho. Nas ditaduras, do poder autoritário do executivo, nas democracias dos três poderes. E a supostamente independente, não sobreviveu. O jornalismo nasceu da política, nas suas origens servia os interesses de guerra dos monarcas europeus. No Brasil, não foi diferente. Até a história da imprensa brasileira foi politizada. Nosso maior historiador, Nelson Werneck Sodré, criou a metodologia, seguida por muitos, do filtro sistema de governo: a imprensa avaliada a partir dos eventos políticos da Colônia, Império, Primeiro Reinado, Segundo Reinado, República Velha, Ditadura Vargas, Ditadura Militar…

E assim como a renúncia de Dom Pedro I foi pretexto para oficializar o Dia do Jornalista, um lobby político contribuiu para mudar a data do Dia da Imprensa que durante mais de seis décadas foi comemorado em 10 de setembro e passou a ser 01 de junho. Iniciativa da Associação Nacional de Jornais-ANJ, em 1999, através de seu presidente Paulo Cabral, diretor do Correio Braziliense, naquele ano sancionada pelo presidente FHC. Embarcaram nessa canoa a ABI e a Fenaj, senadores e deputados. O objetivo de Cabral era dar notoriedade ao jornal, sob sua direção.

O lobby deu certo diante da argumentação de que A Gazeta era situação e áulica e o Correio oposição, e de que ambos eram jornais. Meias verdades A Gazeta foi um jornal, o Correio Braziliense, um mensário. A Gazeta publicava notícias, cartas, artigos e anúncios; o Correio longas dissertações, de um escriba só. A Gazeta tinha formato, diagramação e distribuição de jornal; o Correio circulava com 160 a 180 páginas por edição, com diagramação de livro.

E se o Correio Braziliense foi oposição, recebeu subsídios através do governo do Maranhão, para não chamar a atenção, autorizados por Dom João VI. Alguns autores chamaram isso de propina e suborno e enfatizaram o propósito do apoio financeiro: direcionar críticas aos “adversários” dentro do governo, minando aliados, fritura. Barbosa Lima Sobrinho contemporizou, chamou de “um pecadilho” que mereceria ser anistiado, considerando o relevante papel do jornalista como formador de opinião.

Na Bahia a grande imprensa nasceu dentro da política, os principais títulos, todos sem exceção, foram iniciativa de políticos, assumidos, ou atuando nos bastidores. Senão na estreia, na sequência. Títulos como o Diário da Bahia, Jornal da Bahia (século XIX), O Monitor, Jornal de Notícias, Diário de Notícias, Gazeta de Notícias, Gazeta do Povo, A Tarde, A Notícia, A Manhã, O Imparcial, Jornal da Bahia (século XX), Tribuna da Bahia, Correio da Bahia.

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras.

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