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Reajuste de aluguel de 14% leva inquilinos a renegociarem valores

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Aluguel Reproducao

Em Salvador, um imóvel estimado em R$1.500, em março de 2022, atualmente pode ser alugado por R$1.711,80. O preço reflete a alta de 14,12% no acumulado de março de 2022 a março de 2023, de acordo com dados levantados pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FipeZAP+), que acompanha o preço médio de locações de apartamentos prontos anunciados na internet. Nem mesmo a queda do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M/FGV), indicador que mede a inflação do aluguel e que registrou -2,17% no acumulado do último ano, deve garantir imóveis mais baratos. Diante da diferença de preço em desfavor do bolso do locatário, a alternativa encontrada por muitos é a busca por imóveis mais em conta para morar ou a renegociação de valores com os proprietários. 

No caso da estudante Laiz Andrade, 23, a decisão foi de se mudar da kitnet em que morava no bairro da Federação. Sozinha, ela arcava com R$1.300 de aluguel e como solução, quando viu que o reajuste estava próximo, decidiu buscar outro imóvel e repartir o valor com mais uma pessoa. “Atualmente o aluguel é de R$2.000, mas eu divido. Eu não conseguia encontrar um aluguel acessível para pagar sozinha, então eu decidi dividir com mais uma amiga e talvez surja uma outra pessoa, então vai ficar mais em conta. O locador queria cobrar R$100 a mais, mas eu negociei e ficou por esse valor mesmo”, conta. 

Quando o aviso de que o aluguel seria reajustado chegou, já no início do ano, o estudante Anderson dos Santos, 24, se preparou para negociar o valor do imóvel onde vive há mais de um ano. Morador do bairro de Pernambués, ele conta que foi fácil explicar que não poderia arcar com a diferença de R$100, que elevaria o preço do aluguel para R$550, porque a proprietária era uma parente.  

“Expliquei o meu ponto de vista sobre a situação. Eu acreditei que as condições da moradia tinham que melhorar também. Não haveria melhoria, eu continuaria tendo que arcar com a manutenção da casa, então faz diferença nesse sentido. E sendo ela uma pessoa da família, eu acreditei que deveria haver uma consideração em relação a cobrança, até porque esse foi um valor acordado inicialmente e que ela também achou justo. Cem reais fariam diferença para a conta de luz, água e reforma de outra casa”, detalhou Anderson. 

Assim como feito por Laiz e Anderson, a negociação é fortemente recomendada pelo advogado imobiliário e corretor de imóveis Moisés Gomes nos casos em que os reajustes não se baseiam na inflação. “A negociação é sempre bem-vinda na época do reajuste. Tem que haver a razoabilidade, a proporcionalidade e o senso humano na hora de negociar. Tendo em vista termos um judiciário abarrotado de ações judiciais e que são demoradas, as relações extrajudiciais estão sendo mais eficazes e mais céleres”, afirma. 

Para a corretora Dirlene Rocha, a prática recomendada pelo especialista já virou rotina. Ela relata que o condomínio em que trabalha costuma aplicar o reajuste pelo IGP-M, mas sempre concede descontos aos inquilinos quando o valor fica alto. “Um cliente com um imóvel alugado no Condomínio Máximo Club Residence, no bairro do Cabula, pagava o valor de R$2.200 com o condomínio e IPTU e ia passar a pagar R$.2800 devido ao aumento. Então, fechamos a negociação e chegamos ao valor de R$2.500 com as taxas”, conta. 

Diretor de patrimônio e segundo vice-presidente do Creci-BA, José Alberto Oliveira também é corretor e proprietário da imobiliária José Alberto Imóveis e afirma que seu critério para a concessão de descontos no valor do reajuste da IGP-M é a análise de mercado. “Já renegociamos e já concedemos descontos várias vezes. Já cansamos de conceder 50% do valor do índice. Em alguns casos, nem reajustamos, porque analisamos se o valor do apartamento está dentro do mercado. Ou seja, perguntamos: se ele estivesse vago, ele alugaria por esse preço reajustado? Se concluímos que ele não alugaria, não aplicamos o índice”, esclarece. 

Reflexos da pandemia 

O aumento do aluguel de residências na capital baiana segue a tendência nacional, uma vez que, no Brasil, os aluguéis apresentaram alta de 17,18% entre março de 2022 e março de 2023, a maior desde 2011, ainda conforme a FipeZAP+. Ambos os aumentos, tanto o nacional quanto o local, são três vezes maiores do que a inflação oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA/IBGE), que é de 4,65%.  

Segundo José Noel Silva, diretor do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA), o aumento é facilmente explicado como reflexo da pandemia. “Muitos imóveis foram devolvidos aos proprietários na pandemia e, com isso, o valor do aluguel médio baixou porque passou a ter mais oferta. A partir de 2022, esse processo começou a se inverter porque as pessoas que entregaram o apartamento começaram a buscar outro apartamento para alugar, então aumentou a demanda. E a procura implica em aumento de preço, essa é a lei do mercado”, resume. 

Presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-BA), Kelsor Fernandes também é proprietário da imobiliária Kelsor Fernandes Imóveis e afirma que, por lá, os inquilinos procuram imóveis que sejam relativamente perto do trabalho, tenham uma estrutura confortável e segura para deixar o filho e seja perto da escola dos pequenos.  

Dessa forma, seus contratos são mais longos e a renegociação do preço não é uma opção que costuma adotar porque os clientes são antigos e pagam valores de aluguel desatualizados. Ele aponta o contexto econômico e o contexto pandêmico como motivadores dessa realidade.  “No Brasil primeiro teve uma recessão profunda, depois veio a pandemia e os aluguéis foram ficando com o preço defasado. Aqui na minha empresa a busca por renegociação não existe porque os preços estão desatualizados. Quando a pessoa fica querendo tentar renegociar, eu mostro isso”, diz. 

A boa notícia para quem está com o contrato para vencer é a queda do índice IGP-M, que foi de -0,95% em abril. Apesar de não promover a diminuição dos preços, Noel Silva ressalta que o indicador é favorável para quem vai renovar o contrato e quer convencer o proprietário a não reajustar o valor.  

“Quem está com contrato vigente está numa posição favorável, uma vez que o IGP-M está dando negativo. O proprietário, por outro lado, também não vai aplicar índice negativo porque fere o equilíbrio econômico do contrato. Portanto, nos contratos que estão vencendo ou vencidos, realmente a recomendação é negociar porque, se for trazer para a realidade atual de preços, a pessoa vai pagar muito mais caro”, reitera. 

Confira dicas para a renegociação: 

  • Estar munido de dados atualizados sobre o mercado imobiliário local; 
  • Avaliar se o preço do imóvel está dentro do mercado; 
  • Analisar as características do imóvel e comparar preços com as condições encontradas; 
  • Evidenciar que é um bom pagador; 
  • Expressar desejo de permanecer no imóvel a longo prazo; 
  • Apontar o baixo crescimento do salário mínimo, que seria desproporcional à alta correção do índice utilizado para reajuste do aluguel; 
  • Para quem mora em apartamento, argumentar sobre as altas taxas de reajuste do condomínio e pedir desconto; 
  • Deixar claro que está considerando alugar outros imóveis; 
  • Cobrar melhorias no imóvel como condição para o reajuste do aluguel; 
  • Pedir intermediação de um corretor de imóveis. 

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