São João, festa de afetos e oportunidades

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À mesa da sala de jantar, bolos, canjica, pipoca, amendoim, uma garrafa de licor. Da janela, aberta, entram a música tocada pelo sanfoneiro na praça logo ali, e também um pouco da fumaça da fogueira, da luz dos fogos de artifício das crianças, das cores das roupas de vizinhos e turistas. Sim, São João passa por aqui, promove encontros e movimenta a economia de centenas de cidades baianas. Trata-se de uma tradição que precisa ser preservada, estimulada e impulsionada. Em tempos que violência, polarização política, redes sociais, o cotidiano acelerado e plataformas de streamings desfazem o tecido social, as festas juninas atuam no sentido contrário: reúnem famílias ao redor da mesa farta, do calor da fogueira e da música e dança. Fortalecem os nós – sobretudo afetivos – que conectam pessoas, grupos e coletividades. Afeto, inclusive, é uma palavra adequada para falar do São João. Os deslocamentos da capital para o interior ou de outros estados para a Bahia têm nele um de seus maiores combustíveis. As famílias se reintegram, as amizades se renovam, as memórias são revividas e as histórias, recontadas. Existe ainda, claro, o capítulo à parte da cozinha afetiva, das receitas de família e dos sabores da infância, do reencontro com as raízes. A economia reflete esse movimento. A Fecomércio estima que o São João deste ano vai fazer as vendas crescerem 40% em relação ao ano passado. A estimativa da entidade é de que o comércio fature R$ 2 bilhões no período. A data também impacta positivamente o setor de serviços, especialmente nos segmentos de turismo e eventos. Oportunidades de trabalho e geração de renda surgem nos quatro cantos do estado. O mercado imobiliário se aquece, com o aluguel por temporada de casas e quartos nas cidades que concentram artistas mais populares. Famílias produzem e vendem produtos típicos, empresas organizam shows e organizam excursões. Músicos amadores são contratados para palcos públicos e privados. Cabe aos poderes públicos garantir, multiplicar e democratizar os efeitos positivos e os ganhos criados pelos festejos juninos. Neste contexto, o primeiro item da pauta deve ser sempre a segurança, com reforço de policiamento ostensivo em locais com grande concentração de público; fiscalização das estruturas montadas para as festas (palcos, barracas de lanche etc.); garantia de atendimento de qualidade para casos de emergência em saúde, fiscalização sanitária de comidas e bebidas; atuação tempestiva de órgãos de defesa do consumidor para evitar abusos. Do lado da cultura, o dever é o de preservar e valorizar as tradições ligadas às festas de Santo Antônio, São João e São Pedro. Sem que isso signifique bloqueios a inovações. E também garantir a visibilidade de artistas locais com pouco espaço midiático, sem que seja aberta uma guerra contra artistas de outros estados e ritmos. É válido, ainda, uma profissionalização cada vez maior da festa, e um olhar especial para os empreendedores, garantindo e ampliando um ambiente favorável à criação de negócios e otimização das oportunidades econômicas em todos os níveis e setores. A promoção do São João como atrativo turístico para as cidades do interior tem de ser um capítulo à parte nessa estratégia. Assim, o mês de junho – quando se celebra a vida de três santos – pode ser um segundo fevereiro. Alegria, criatividade e disposição para celebrar, trabalhar e festejar não falta aos baianos. Nem aos turistas o desejo de conhecer e experimentar nossas tradições e afetos.

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