Disputa territorial no Pará pode afetar oferta de dendê em Salvador

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A chamada “guerra do dendê”, que acontece no Pará, entre empresas de produção de óleo de palma e moradores locais, já coloca em risco o abastecimento do produto na Bahia. Desde o dia 18 de agosto, policiais da Força Nacional de Segurança Pública têm atuado na região onde é produzida a maior parte do insumo que abastece o mercado baiano. 

A presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam), Rita Santos, afirmou ao Correio que “a Bahia não tem produção capaz de abastecer o mercado local, então estamos à mercê do Pará”, e se preocupa com as consequências deste conflito para o mercado de quitutes baianos. 

Os conflitos territoriais ocorrem nos municípios de Acará, Tomé-Açu e Tailândia, onde estão empresas produtoras de óleo de palma, outro nome utilizado para o azeite de dendê. As principais empresas envolvidas, BBF (Brasil Biofuels) e Agropalma, estão sendo acusadas pelos moradores locais de ocuparem terras indígenas e de contaminarem o meio ambiente com descarte de resíduos químicos da produção. 
O confronto, que já persiste desde 2010, deixou quatro indígenas mortos em agosto e a partir do último dia 18 de agosto, tem a intervenção Força Nacional de Segurança Pública no local, a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Em nota, o Ministério de Justiça e Segurança Pública disse que a atuação foi autorizada por um período de 30 dias.

Na Bahia, os impactos econômicos da “guerra do dendê” preocupam as baianas de acarajé que dependem do ingrediente para o sustento de milhares de famílias. “Não tem como Salvador, que é uma cidade que tem cheiro de dendê, ficar sem dendê. Não tem cabimento a gente ficar com medo de desabastecimento por conta de problemas que acontecem em outros estados. Só de pensar nisso, depois de viver todos os prejuízos que a pandemia causou às baianas de acarajé, já é horrível. O tabuleiro é sustento de toda a família”, afirmou a baiana de acarajé Alessandra Braga, ao Correio. Em dezembro do ano passado, com a baixa na produção local, ela relata que o balde de 18 litros saltou de R$75 para R$170.

Em resposta à situação, Rita, presidente da Abam, procurou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), considerando o fato de que o acarajé é patrimônio cultural do Brasil e afirma que recorrerá ao Ministério da Agricultura. Em nota, a superintendência do Iphan na Bahia reconheceu a relevância do tema, mas ressaltou as limitações do instituto em relação ao problema, afirmando que está à disposição para “auxiliar em possíveis articulações e aproximações entre a Abam e Ministérios e Secretarias que podem pensar tecnicamente e politicamente estratégias para estimular o plantio do dendê e outras formas de circulação no mercado nacional”.

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