São Paulo — Em uma terça-feira qualquer chegam a passar em média 2,3 milhões de passageiros nas linhas administradas pelo Metrô de São Paulo.
É a segunda maior rede de transporte em número de passageiros de toda a capital paulista, perdendo apenas para o sistema de ônibus, que registra uma média de 7,3 milhões de embarques por dia segundo a SPTrans.
Não é difícil entender com isso o tamanho do impacto que uma greve nas linhas do Metrô pode gerar na cidade de São Paulo.
Durante a última paralisação dos metroviários, no dia 23 de março deste ano, a capital registrou mais de 700 km de congestionamento.
Naquele dia, a Prefeitura reforçou a frota de 13 linhas de ônibus que cruzam a cidade. Mesmo assim, o cenário no transporte público foi de caos, com veículos lotados e muita dificuldade para o embarque.
A situação que se desenha para esta terça-feira (3/10), no entanto, promete ser ainda pior se houver paralisação completa. Isso porque além da greve dos metroviários, os ferroviários também vão paralisar as atividades.
A previsão é de que tanto as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata, que são do Metrô, quanto as linhas 7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade, que são da CPTM, fiquem paradas.
Com isso, os passageiros precisarão buscar alternativas para se locomover entre os diferentes bairros e regiões da Grande São Paulo.
Contra privatizações A greve dos funcionários deve durar 24 horas e é um protesto das duas categorias contra os projetos de privatização do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A paralisação também contará com trabalhadores da Sabesp, que reivindicam a manutenção da companhia sob a administração estatal.
A privatização da Sabesp e as concessões de linhas da CPTM e do Metrô para a iniciativa privada são alguns dos principais projetos do Palácio dos Bandeirantes para este mandato.
O governo defende a desestatização argumentando que mudança na administração trará vantagens para a população, com a melhoria dos serviços.
Os trabalhadores, no entanto, discordam da posição e utilizam o exemplo das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda para contrapor a ideia. Antes administradas pela CPTM, desde que as linhas foram concedidas para a ViaMobilidade tiveram um aumento significativo no número de falhas, entrando na mira do Ministério Público.
No caso da Sabesp, os funcionários afirmam que a empresa tem bons resultados, não gera despesas para o estado e tem planos de universalizar o saneamento em pouco tempo, o que, segundo eles, não justificaria uma privatização.
A paralisação nas atividades desta terça-feira é defendida pelo grupo de grevistas como uma maneira de pressionar o governo a recuar nos projetos de desestatização da administração das empresas.
Como alternativa para diminuir o impacto da manifestação nos moradores da região metropolitana, os funcionários da CPTM e do Metrô propuseram trabalhar com catracas liberadas, ou seja, sem a cobrança de passagem para os usuários do transporte público.
Já os trabalhadores da Sabesp asseguram que manterão um efetivo para emergências e que não haverá problema no abastecimento de água.
Embate na Justiça Na quinta-feira (28/9), no entanto, a juíza Raquel Gabbai de Oliveira, do Tribunal do Trabalho da 2ª Região (TRT-2), recusou a proposta de liberação das catracas nas estações de trem, que havia sido defendida pelo sindicato dos ferroviários.
Ela estabeleceu ainda uma multa diária de R$ 500 mil em caso de descumprimento da decisão.
Além disso, a juíza determinou que a CPTM mantenha efetivo total dos trabalhadores nos horários de pico no dia 3 de outubro e 80% dos funcionários no restante do tempo.
Na sexta-feira (29/9), os grevistas tiveram outro revés. O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região concedeu liminar ao governo de São Paulo determinando que os metroviários mantenham 100% da operação nos horários de pico.
O desembargador Celso Ricardo Peel Furtado de Oliveira disse que a circulação da frota deve acontecer de forma integral das 6h às 9h e das 16h às 19h, e com 80% nos demais períodos, sob pena de multa de R$ 500 mil.
No caso da Sabesp, a Corte determinou a manutenção de 85% do efetivo de trabalhadores vinculados aos setores responsáveis pela prestação dos serviços essenciais de saneamento básico, tratamento e abastecimento de água e esgoto, sob pena de multa diária de R$ 100 mil para cada entidade sindical que representa os obreiros.
Os sindicatos das três categorias afirmaram ao Metrópoles na última sexta que vão recorrer das decisões e que a greve está mantida.
“A greve é um direito assegurado na Constituição Federal”, afirmou Eluiz Alves, presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo.
Presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa disse que o grupo já buscou a Justiça para reverter a decisão.
“Entramos com uma ação questionando essa decisão e sugerindo que, no lugar da greve, a gente possa fazer liberação das catracas”, disse a presidente.
José Faggian, do Sintaema, que representa Sabesp e Cetesb, disse que o grupo tem uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho nesta segunda.
“Vamos argumentar e demonstrar para o tribunal que o que a empresa pede é absurdo, e que faremos a greve com responsabilidade garantindo o abastecimento de água para a população e o atendimento de eventuais emergências”, disse Faggian.
Protesto USP Também no dia 3 de outubro, alunos da Universidade de São Paulo (USP) cogitam fazer um “grande ato” na cidade. Os estudantes estão em greve para reivindicar a contratação de mais professores e a ampliação das bolsas de permanência. O protesto, no entanto, ainda não foi confirmado e deve ser decidido em assembleia nesta segunda-feira (2/10).
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