Militares temem que ato do 8/1 volte a azedar relação com Planalto e reacenda críticas

Publicado em

spot_img
Tempo estimado de leitura: 3 minutos

CATIA SEABRA E CÉZAR FEITOZA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A convocação pelo presidente Lula (PT) de um ato em memória aos ataques do 8 de janeiro virou motivo de apreensão no meio militar.

Oficiais ouvidos pela Folha de S.Paulo reservadamente afirmaram estar preocupados de que o evento reacenda críticas à vinculação de militares com o governo Jair Bolsonaro (PL) e à postura permissiva dos ex-comandantes com os acampamentos golpistas que se formaram em frente a quartéis, após a vitória eleitoral do petista no final de 2022.

Receosos com a repercussão do aniversário do 8 de janeiro na caserna, os atuais comandantes das Forças Armadas chegaram a questionar o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, sobre a necessidade de participar da cerimônia no Senado Federal, prevista para a tarde de segunda-feira (8).

São esperados cerca de 500 convidados, entre ministros de Estado, governadores, parlamentares, lideranças da sociedade civil e integrantes da cúpula do Judiciário, entre outros.
Os comandantes argumentaram que o ato terá caráter político e que, por isso, eles deveriam ser dispensados de participar e Múcio teria de representá-los.

O tema foi tratado durante um almoço entre os comandantes da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, e da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, e o próprio Múcio.
As objeções já tinham sido discutidas entre os chefes militares em conversas informais que antecederam a reunião com o ministro.

De acordo com pessoas com conhecimento do assunto, Múcio ressaltou a importância da participação dos comandantes por se tratar de um convite de Lula, formulado em conjunto com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso.

Além dos chefes das Forças, o secretário-geral do Ministério da Defesa, Luiz Henrique Pochyly da Costa, e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Renato de Aguiar Freire, deverão comparecer à cerimônia no Congresso Nacional.

A superação desse impasse não afasta o temor de que o ato, batizado de Democracia Inabalada, acabe por reabrir feridas entre militares e governo e reacenda o clima de tensão de um ano atrás.

A relação entre Lula e as Forças Armadas foi marcada por desconfianças desde a transição, mas houve um gradual distensionamento nos últimos meses. O pano de fundo da desconfiança sempre foi a avaliação, entre conselheiros de Lula, de que oficiais de alta patente estavam comprometidos com o projeto político de Bolsonaro –capitão reformado do Exército.
O próprio Lula já sinalizou que viu participação de fardados no 8 de janeiro.

Poucos dias depois das cenas de vandalismo em Brasília, ele declarou em entrevista à GloboNews que os ataques eram um “começo de golpe de Estado” e que integrantes das Forças Armadas que quiserem fazer política têm de tirar a farda e renunciar do seu cargo.

“Enquanto estiver servindo às Forças Armadas, à Advocacia-Geral da União, no Ministério Público, essa gente não pode fazer política. Tem que cumprir com a sua função constitucional, pura e simplesmente”, declarou na ocasião.

Integrantes das Forças Armadas relatam estar preocupados com o ressurgimento de movimentos como o Sem Anistia, marcado pela cobrança de punição aos participantes dos ataques de 8 de janeiro, entre eles os fardados.

Há ainda o receio sobre uma possível reação de militares da reserva, sempre mais ruidosos do que os da ativa.

Outro foco de apreensão é que o ato político volte a impulsar dentro do PT propostas no Congresso para tentar extirpar atribuições dos militares e alterar o artigo 142 da Constituição.
Enquanto as investigações relacionadas aos ataques golpistas miram os vândalos presos nos prédios públicos, os incitadores em frente ao quartel-general do Exército e os financiadores, até o momento altos oficiais das Forças Armadas estão livres de responsabilização –apesar de vozes influentes do Executivo e do Judiciário considerarem que eles foram, no mínimo, omissos.
Na sexta (5), o Exército disse em nota que houve punições a dois militares no âmbito do 8 de janeiro, mas não detalhou quais condutas causaram a punição disciplinar e quais foram as penalidades.

A Força também disse que abriu quatro processos administrativos (sindicâncias) para apurar eventuais irregularidades nas condutas de militares, mas que não encontrou indícios de crimes.

O Exército também abriu quatro inquéritos policiais militares, que foram concluídos e encaminhados à Justiça Militar. Em um dos casos, o coronel da reserva Adriano Camargo Testoni foi condenado por postagens ofensivas a seus superiores hierárquicos em grupos de conversas no 8 de janeiro. A pena imposta a ele foi de um mês e 18 dias de detenção, em regime aberto.

Leia Também: Nove em cada dez brasileiros reprovam invasões de 8 de janeiro

Que você achou desse assunto?

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

- Publicidade -

ASSUNTOS RELACIONADOS

Família de Michael Schumacher recebe R$ 1,1 milhão de revista por falsa entrevista feita por IA

A família Schumacher recebeu 200 mil euros (cerca de R$ 1,1 milhão) de indenização de uma revista alemã que gerou respostas de Michael Schumacher por inteligência artificial, dizendo que tinha realizado uma entrevista exclusiva com o heptacampeão mundial de Fórmula 1. A informação foi divulgada pelo portal alemão Übermedien. Em abril de 2023, a revista Die

PF vasculha 18 endereços e põe tornozeleiras eletrônicas em financiadores do 8 de janeiro

A Polícia Federal (PF) abriu nesta quinta-feira, 23, a etapa 27 da Operação Lesa Pátria, no rastro de financiadores dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Agentes foram às ruas para vasculhar 18 endereços em cinco Estados, além de instalar tornozeleiras eletrônicas em dois suspeitos. As diligências são cumpridas nos Estados de Paraná

Neymar volta aos treinos do Al-Hilal e diz que vai se ‘divertir’ muito com a torcida na próxima temporada

Neymar, jogador mais caro da história do Al-Hilal, está ansioso para voltar aos gramados após uma grave lesão no joelho que o afastou da conquista do título saudita. O camisa 10 retomou os treinos e deve ser liberado entre setembro e outubro para jogar. Recebendo uma calorosa recepção na Arábia Saudita, Neymar está feliz por