Bangladesh sob toque de recolher após protestos violentos

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As ruas movimentadas da capital de Bangladesh, Daca, estão sob vigilância de unidades militares neste sábado devido a um toque de recolher imposto pelo governo para conter a violência decorrente dos protestos estudantis contra as cotas para o serviço público.

Desde o início dos conflitos na terça-feira passada, pelo menos 110 pessoas perderam suas vidas, de acordo com levantamentos feitos por agências de notícias com base em informações hospitalares. Os protestos também resultaram em milhares de feridos, conforme os mesmos dados.

Os registros indicam que a sexta-feira (19/7) foi o dia mais violento dos protestos, com 59 fatalidades, incluindo muitos estudantes, segundo informações da agência espanhola EFE.

Apesar dos números divulgados pelas agências de notícias, as autoridades de Bangladesh não emitiram dados oficiais sobre os mortos e feridos.

Uso de Força pela Polícia

O país está sob toque de recolher desde a meia-noite, com a presença do Exército para auxiliar no controle da situação. O toque de recolher foi parcialmente suspenso neste sábado, das 12h às 14h, para permitir atividades essenciais, devendo se estender até as 10h de domingo (21/7). A polícia tem autorização para utilizar armas de fogo em situações extremas, conforme indicado pelas autoridades.

Desde quinta-feira (18/7), os serviços de internet e mensagens de texto estão interrompidos, isolando o país do resto do mundo.

Por cinco dias consecutivos, as forças de segurança enfrentaram os protestos com gás lacrimogêneo, enquanto os manifestantes retaliavam atacando policiais com tijolos e incendiando veículos.

Controvérsia sobre Cotas no Serviço Público

Os manifestantes reivindicam o fim de uma lei controversa de cotas em empregos públicos que favorece determinados setores da sociedade, incluindo familiares de combatentes que participaram da guerra de independência contra o Paquistão. A demanda surge em meio ao alto índice de desemprego entre os jovens em um país com 170 milhões de habitantes.

O sistema de cotas reserva até 30% das vagas em empregos públicos para familiares de veteranos que lutaram na guerra de independência em 1971.

Em 2018, as cotas de emprego foram suspensas pelo governo após intensos protestos estudantis. No entanto, em junho deste ano, a Suprema Corte de Bangladesh reverteu essa decisão e restabeleceu a lei de cotas após ações movidas por familiares dos veteranos de 1971.

A Suprema Corte reconsiderou sua própria decisão após um recurso do governo.Neste domingo, o tribunal irá avaliar o caso, após concordar em adiantar uma audiência originalmente marcada para 7 de agosto. A primeira-ministra Sheikh Hasina fez um apelo aos manifestantes para aguardarem a decisão do tribunal.

Os manifestantes alegam que o sistema de cotas é discriminatório e favorece os seguidores de Hasina, cujo partido Awami League liderou o movimento de independência. Eles demandam a substituição desse sistema por outro baseado no mérito.

Em seu quarto mandato, a premiê defendeu firmemente o sistema de cotas, destacando que os veteranos merecem respeito por suas contribuições durante a guerra contra o Paquistão, independente de suas filiações políticas.

Representantes de ambos os lados se reuniram no final da sexta-feira em uma tentativa de encontrar uma solução. Durante o encontro, pelo menos três líderes estudantis estiveram presentes e clamaram pela reforma do atual sistema de cotas, pela reabertura dos dormitórios estudantis fechados pela polícia após os confrontos e pela renúncia de alguns funcionários universitários que falharam em proteger os campi da violência. O governo demonstrou disposição em debater as demandas.

Estas manifestações representam o maior desafio enfrentado por Hasina desde sua reeleição para o quarto mandato consecutivo nas eleições de janeiro, que foram boicotadas pelos principais grupos de oposição. Diante dessa crise, Hasina teve que cancelar uma visita diplomática que faria à Espanha e ao Brasil.

Para ler a notícia completa, acesse o site da DW, parceira do **Metrópoles**.

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