Sócio do Bloco Cheiro explica retorno ao Carnaval de Salvador em 2025; Número de blocos caiu em 41% de 2016 para 2024

Publicado:

### Sócio do Bloco Cheiro revela planejamento para o Carnaval de Salvador em 2025 e destaca a redução significativa de blocos

Com mais de quarenta e cinco anos de existência, o retorno do Bloco Cheiro ao Carnaval de Salvador em 2025 traz consigo uma carga histórica relevante, contrariando a tendência que algumas agremiações têm seguido nos últimos anos ao optar por não desfilar.

Sob uma nova gestão, a cantora Raquel Tombesi assume o comando vocal da banda Cheiro de Amor, promovendo uma renovação sem perder a essência dos tempos áureos, mas ciente das mudanças que o tempo trouxe. Em uma entrevista ao Bahia Notícias, o empresário Valter Britto comemorou o novo momento da banda e do bloco, que gerou apreensão no público com a ausência em 2023.

Valter Britto explicou: “Havia o desejo de retornar ao Carnaval de Salvador, porém, não da mesma forma extensa de antes. A intenção era resgatar o formato tradicional de bloco com trio elétrico, mas os planos para 2023 e 2024 não se concretizaram devido à saída de Vina da banda para seguir carreira solo. Assim, decidimos marcar esse retorno em 2025, celebrando também os 45 anos de história do bloco com a troca de vocalistas.”

Mesmo diante das especulações sobre o declínio dos blocos no Carnaval de Salvador, Valter Britto acredita no sucesso da retomada do Cheiro na folia, comprovado pelas vendas bem-sucedidas logo após o anúncio. O empresário expressa cautela, porém, a motivação para reviver a tradição é ainda maior.

A principal dificuldade apontada por Valter para o retorno do bloco ao Carnaval é a falta de patrocínio. Segundo ele, a mudança no perfil do folião e a diversificação de espaços na festa têm afastado os investidores dos blocos, tornando desafiador manter a presença do trio elétrico na folia.

Num contexto em que os blocos sofrem com a escassez de patrocínio, a dedicação de entusiastas como Valter Britto e a disposição em preservar a tradição do Bloco Cheiro ganha ainda mais destaque e relevância para a manutenção viva do espírito carnavalesco em Salvador.Investimento destinado à preparação do bloco para o desfile é um segredo bem guardado. Nery, responsável por um dos maiores blocos do Carnaval de Salvador, optou por não revelar detalhes financeiros, mas assegurou que o montante investido está relacionado a todas as despesas envolvidas no desfile dos blocos, desde a corda que separa os foliões dos espectadores ao que é oferecido aos artistas nos camarins dos trios elétricos.

Já Washington Paganelli, presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar) e sócio do bloco As Muquiranas, estima o investimento mínimo no bloco em R$ 3 milhões.

Mas afinal, o que levou o Bloco Cheiro e outros grandes nomes a saírem do Carnaval de Salvador? Nos últimos 10 anos, a folia baiana testemunhou uma redução no número de blocos desfilando no Circuito Dodô (Barra-Ondina), escolhido pelo Cheiro para seu retorno à festa.

De acordo com uma análise conduzida pelo Bahia Notícias com base em dados divulgados pela Prefeitura de Salvador na programação do Carnaval, foi observada uma diminuição de 31 para 13 blocos. A diminuição no número de blocos ocorreu mesmo antes da pandemia da Covid-19.

Questionado sobre o que poderia ter motivado a saída dos blocos do circuito, Valter acredita que o alto investimento nos camarotes pode ter influenciado a decisão dos foliões.

“No formato em que os camarotes funcionam hoje, para 5 mil ou 6 mil pessoas, oferecendo um conforto que os blocos de rua não podem proporcionar devido à estrutura, as pessoas optaram pelos camarotes, pela segurança, pelo conforto, e deixaram de frequentar os blocos. Foi uma mudança gradual, mas esperada. Aos poucos, o número de blocos diminuiu, e hoje vemos uma nostalgia em relação a eles”, revelou.

No início do ano, o Bahia Notícias investigou o investimento necessário para montar um camarote no Carnaval baiano. Na época, Michel Cohen, responsável pelo Camarote Harém do Gigante, informou que o investimento inicial para ter presença garantida na folia baiana varia entre R$ 7 milhões, podendo chegar a até R$ 30 milhões para camarotes mais luxuosos.

Outro ponto destacado pelo empresário foi o aumento dos trios independentes, que desfilam com apoio do Governo e da Prefeitura. Em 2024, por exemplo, na quinta-feira de Carnaval não houve nenhum bloco desfilando.

“Há um fator crucial, pois, ainda que haja investimento do governo e da prefeitura, eles não conseguem suprir a demanda de artistas que os blocos permitiam. Antes, a Banda Cheiro de Amor se apresentava durante quatro dias no Carnaval de Salvador, o mesmo com Ivete, Durval, mas isso era financiado pela iniciativa privada. Não é viável para a prefeitura e o governo manter esse padrão de qualidade com artistas se apresentando todos os dias do Carnaval. Essa perda também ocorreu. Muitas vezes, há falta de atração”, explicou.

No retorno do Carnaval após a pandemia, o circuito Dodô (Barra-Ondina) contou com 110 trios independentes, divididos entre trios patrocinados pela Prefeitura de Salvador e o Governo da Bahia. Naquele ano, a Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) projetou uma arrecadação estimada em R$ 1,8 bilhão durante o evento e um movimento financeiro de R$ 479 milhões apenas na capital.

Para uma análise mais aprofundada, o Bahia Notícias conduziu um estudo sobre a programação do Carnaval de Salvador no Circuito Dodô (Barra-Ondina) entre os anos de 2014 e 2024, totalizando 10 anos de análise. A escolha desse circuito se deu em razão do…O circuito Barra-Ondina será o percurso em que o Bloco Cheiro voltará a desfilar em 2025, sendo também o trajeto com a maior concentração de blocos no carnaval baiano.

A análise realizada se fundamentou na programação divulgada pela Prefeitura de Salvador ao longo da última década. Cabe ressaltar que os anos de 2021 e 2022 não foram analisados devido à não realização do Carnaval devido à pandemia da Covid-19.

Através da análise, foi possível identificar que:
– Houve uma variação no número total de blocos ao longo dos últimos 10 anos, sendo 2016 o ano com mais blocos desfilando (31 blocos no total) e 2024 o ano com menos blocos (13 blocos).
– A queda no número de blocos começou em 2018, coincidindo com a ausência de Ivete Sangalo na folia devido à gestação de suas gêmeas, o que resultou na retirada de 2 blocos da folia: Coruja e Cerveja e Cia.
– Em 2015, o bloco Me Ama, com André Lelys, se despediu da folia. Já o Cocobambu, de Durval Lelys, deixou o Carnaval após a edição de 2018, mantendo apenas o bloco Me Abraça.
– O cantor Tomate lançou o bloco ‘Amanhecer’ em 2015, substituindo o Voa Voa na época do Chiclete com Banana, porém, o bloco durou apenas um ano.
– Os blocos Filhos de Gandhy, Filhas de Gandhy, Camaleão e Olodum foram os únicos a desfilar todos os anos de 2014 a 2024.
– Em 2018, o Nana Banana passou a ser liderado por Léo Santana, sucedendo anos sob o comando do Chiclete com Banana e Timbalada.
– Após uma pausa em 2018, o bloco Cerveja e Cia não desfilou mais no Carnaval de Salvador.
– Bell Marques é o artista com mais blocos no Carnaval de Salvador, tendo lançado o ‘Vumbora’ em 2014 após saída do Chiclete com Banana e mantendo o Camaleão. Em 2023, lançou o Bloco de Quinta.
– O ano de 2017 marcou a despedida do Pirraça como bloco no Carnaval de Salvador, conhecido por trazer artistas sertanejos para a avenida.
– Saulo Fernandes deixou de sair em blocos no ano de 2016, focando no folião pipoca desde então.
– Os blocos Harém, Nu Outro, Eu Vou e Yes tornaram-se atrações independentes, sem venda de abadá.
– Em 2020, o bloco Praieiro se despediu da folia, assim como a saída de Levi Lima do Jammil, que atualmente conta com Rafa Barreto como vocalista, mas sem bloco na avenida.
– Após a pandemia da Covid-19, surgiram dois novos blocos em Salvador: o Agrada Gregos, voltado para a comunidade LGBTQIAPN+, e o Bloco da Quinta, de Bell Marques.
– Em 2024, a Timbalada não desfilou no Carnaval de Salvador, sendo que Denny Denan, vocalista do grupo, indicou um possível retorno do bloco em 2025.
– A média de blocos desfilando durante o período analisado pela reportagem foi de 15,45 por ano.

Segundo o empresário Valter Britto, não se vislumbra o fim dos blocos no Carnaval de Salvador. Assim como ocorreu com as festas particulares de São João, o sócio do Cheiro acredita que os blocos existentes devem passar por reformulações para se adaptar às novas demandas e realidades do cenário festivo.

“Eu acredito que o formato tradicional de blocos desfilando por três a quatro dias não retornará. Porém, a presença do artista puxando um bloco ainda é valiosa. Recentemente, no Fortal, vimos artistas liderando blocos. Existe demanda, carência por esse tipo de celebração. Mesmo diante das dificuldades e das mudanças, o conceito de bloco continua presente. Obstáculos sempre existirão, fazem parte de qualquer empreendimento. Devemos trabalhar para superá-los.”

Comentários Facebook

spot_img

Compartilhe esse artigo:

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Yuri Alberto treina e deve ser reforço do Corinthians contra o Criciúma

O Corinthians enfrentará o Criciúma neste sábado (30), às 19h30 (de Brasília), em Santa Catarina, pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro. Yuri Alberto...

Vai ficar? Dono do Cruzeiro abre o jogo sobre futuro de Diniz

O técnico Fernando Diniz está pressionado e vem sofrendo duras críticas em Belo Horizonte após derrota para o Racing, da Argentina, na final...

Bahia demite Rogério Ferreira, técnico da equipe Sub-20

Após a eliminação da Copa do Brasil na quarta-feira (27), o Bahia anunciou nesta quinta-feira (28) a saída do técnico Rogério Ferreira do...