Eleições livres e seguras (por Gustavo Krause)

Publicado:

compartilhe esse conteúdo

No dia 06 de outubro deste ano, ocorrerão as eleições em 5.568 municípios (o Distrito Federal – Brasília e o Arquipélago de Fernando de Noronha, embora incluídos pelo IBGE, não são definidos como esferas municipais da Federação Brasileira).

Com o encerramento do prazo legal de registro das candidaturas (15 de agosto), os números apresentam um total de 451.988 postulantes distribuídos da seguinte forma: 421.232 para vereadores, 15.341 para prefeitos e 15.415 para vice-prefeitos (fonte: Plataforma DivulgaCand, mantida pelo TSE para centralizar pedidos de candidaturas em todo o país).

Desde a eleição presidencial de 1989 (eleição “solteira”), o calendário eleitoral tem registrado 16 pleitos intercalando a cada dois anos, entre escrutínios locais (prefeitos e vereadores) e a participação nas urnas para a escolha das assembleias estaduais, câmara, senado, governadores e presidente da república.

O Brasil, que ocupa a quarta posição no ranking das maiores democracias do mundo, fica atrás apenas da Índia, dos EUA e da Indonésia, possuindo um colégio eleitoral de 155.912.680 cidadãos aptos para votar, dos quais 52% são mulheres, 48% são homens e 28.769 pessoas optaram por não declarar seu gênero de identificação.

As campanhas eleitorais estão no ar, dominando o cotidiano das pessoas. Na era da sociedade em rede, elas se propagam desde as ruas, lares e bares, até as informações veiculadas tanto como verdades quanto como manipulações.

A atmosfera ainda está tensa, com a possibilidade de acirramento de ânimos entre competidores e eleitores, o que pode prejudicar o cerne da questão: a tomada de decisão do voto, uma escolha que carrega enormes consequências. Apesar dos motivos que possam levar a decepções e desencantos, e até mesmo à rejeição raivosa à política, a conquista e a manutenção do regime democrático como defesa dos valores de liberdade e da capacidade de promover a alternância de poder falam mais alto, sendo um valor supremo.

As eleições trazem renovado vigor à democracia. Quando a disputa se dá no âmbito local, o voto de cada eleitor adquire significados especiais. Destacam-se, ao menos, três aspectos: o primeiro é o sentimento comunitário, o pertencimento a uma estrutura que une pessoas desde laços familiares até o ambiente ampliado da rua, bairro, igreja, clube, representando um sentimento tribal que atravessa gerações. Este exemplo ilustra a compatibilidade entre a história de Joaquim Nabuco, que mencionava o “arrocho do berço” no Engenho Massangana, e a visão cosmopolita do genial diplomata, defensor ferrenho da liberdade como valor universal.

Outro aspecto associado àA importância da vida local reside na capacidade de ter uma visão global e agir localmente. Transformações significativas surgem de baixo para cima, sendo as raízes o alicerce que sustenta e nutre uma sociedade ao longo do tempo. Da mesma forma, é fundamental construir e fortalecer uma perspectiva de mundo que valorize o próximo. Para isso, é essencial valorizar as origens, que não apenas oferecem ensinamentos, mas também impedem que a essência humana seja desvalorizada ou submersa na tristeza da insignificância. Além disso, as raízes alimentam emoções genuínas que, quando preservadas, nos mostram que somos mais semelhantes do que diferentes, independentemente de etnia, religião ou nacionalidade.

Em última análise, o espaço local funciona como uma espécie de escola primária para a democracia, não exatamente seguindo o modelo clássico de participação da antiga polis de Atenas, mas criando uma predisposição que permite uma proximidade entre governantes e governados, representantes e representados, sem comprometer a natureza da democracia representativa. Isso não só a aprimora, mas também auxilia na identificação das prioridades sociais e na execução crítica delas com o envolvimento ativo dos cidadãos em direção a uma sociedade mais equitativa.

No dia 6 de outubro, o ato de votar, de forma livre, consciente e íntegra, fortalece nossa democracia e garante que, apesar de suas imperfeições, evitaremos a imposição do novo verbo da tirania política: “venezuelizar”.

Gustavo Krause ocupou o cargo de ministro da Fazenda em determinado período, destacando-se por sua contribuição na área financeira.

Facebook Comments

Compartilhe esse artigo:

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Orçamento aprovado no Congresso deve promover corte de quase R$500 milhões nas universidades federais, aponta entidade

Meta descrição: Cortes de 488 milhões de reais nos recursos destinados às universidades federais em 2026, segundo a Andifes, podem impactar o ensino,...

Novo partido do MBL declara primeiro real que recebeu ao TSE

Meta description: A Missão, novo partido do MBL, declara o primeiro recurso recebido e traça metas para 2026, enquanto Kim Kataguiri pode concorrer...

Prefeitura instala Banco Vermelho como símbolo de combate à violência contra a mulher em Salvador

Um marco no enfrentamento à violência contra a mulher foi inaugurado na tarde desta segunda-feira, 22, na Praça Thomé de Souza, no Centro...