Mulheres pensam mais nas tarefas domésticas e carga cognitiva faz mal

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*O texto foi desenvolvido pelas professoras de psicologia Darby Saxbe e Lizzie Aviv, candidata ao PhD em psicologia, ambas da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, e publicado na plataforma The Conversation Brasil.

Quando se fala em afazeres domésticos, de imediato vêm à mente ações como lavar louça, seguir uma lista de tarefas ou preparar legumes para as refeições. Não é novidade que, em sua maioria, as mães acabam assumindo a maior parte dessas atividades.

No entanto, há uma dimensão invisível que permeia esse cenário: o esforço cognitivo necessário para antecipar necessidades, planejar, organizar e delegar. Em outras palavras, alguém precisa se lembrar de repor o sabão para lavar louça e escolher quais legumes cortar para a refeição.

Uma nova pesquisa revelou que essa vertente cognitiva do trabalho doméstico, conhecida como “carga mental”, é distribuída de maneira ainda mais desigual entre casais do que a parcela física e parece impactar especialmente a saúde mental das mulheres. De acordo com um estudo publicado no “Archives of Women’s Mental Health”, mães que assumem uma parte desproporcional do trabalho doméstico cognitivo relatam níveis mais elevados de depressão, estresse, insatisfação no relacionamento e exaustão.

Divisão de Tarefas e Carga Mental

Ao questionar 322 mães de crianças pequenas sobre a responsabilidade de 30 tarefas domésticas comuns em suas famílias, em colaboração com os desenvolvedores do sistema Fair Play – um livro e um jogo de cartas que visam quantificar a divisão do trabalho nas famílias – as tarefas foram divididas em duas dimensões: cognitiva (antecipar, planejar, delegar e mentalizar sobre o que precisa ser feito em casa) e física (execução prática dos serviços). Posteriormente, foi analisada a divisão dessas responsabilidades entre os casais.

Foi observada uma disparidade de gênero impressionante: em comparação com seus parceiros, as mães não só executavam mais tarefas domésticas físicas, mas também assumiam uma parcela significativamente maior do trabalho cognitivo.

Em média, as mães se declararam responsáveis por cerca de 73% de todo o trabalho doméstico cognitivo, enquanto os maridos ficaram com 27%. No caso do trabalho doméstico físico, elas assumiram 64%, contra os 36% dos parceiros. Curiosamente, para cada tarefa analisada, a diferença de gênero foi mais evidente na dimensão cognitiva do que na execução prática física.

Excetuando um serviço em que os pais realizaram mais planejamento, ficou claramente evidenciado o desequilíbrio na distribuição das tarefas e da carga cognitiva dentro do contexto doméstico. Essa disparidade tem impactos diretos na saúde mental e bem-estar das mulheres, salientando a necessidade de uma divisão mais equitativa e consciente das responsabilidades domésticas nos relacionamentos.

A execução de tarefas domésticas pode variar entre os membros de uma família, sendo comum que as mulheres assumam mais responsabilidades relacionadas ao planejamento enquanto os homens se dedicam a atividades físicas, como levar o lixo para fora. Estudos indicam que essa divisão desigual de trabalhos em casa pode impactar a qualidade do relacionamento do casal, sendo a carga cognitiva um fator determinante para o bem-estar psicológico das mulheres, podendo afetar sua saúde mental de forma significativa.

A dinâmica familiar, incluindo a distribuição desigual das ocupações dentro de casa, desempenha um papel fundamental na perpetuação da desigualdade de gênero. Essa disparidade limita a participação das mulheres na força de trabalho remunerada e influencia diretamente sua saúde e bem-estar. A sobrecarga cognitiva que muitas vezes passa despercebida, por envolver atividades de planejamento não reconhecidas pelos outros, pode esgotar as energias mentais das mulheres, impactando sua qualidade de vida.

Pesquisas apontam que as mulheres sofrem mais consequências negativas decorrentes das responsabilidades relacionadas aos cuidados com os filhos e as tarefas domésticas, sendo mais propensas a enfrentar problemas como depressão, em parte devido ao peso maior da carga cognitiva que carregam em relação aos homens. Essa disparidade pode gerar desequilíbrios nos relacionamentos familiares e afetar o bem-estar de todos os membros envolvidos.

Apesar dos avanços nas investigações sobre a divisão do trabalho doméstico e seus impactos, ainda há lacunas a serem preenchidas. Estudos futuros podem explorar a dinâmica entre casais de diferentes configurações, bem como avaliar os efeitos a longo prazo da distribuição desigual da carga cognitiva na saúde mental, especialmente das mulheres. É essencial ampliar o foco na sobrecarga mental decorrente das responsabilidades domésticas para promover relacionamentos saudáveis e equilibrados.

A divisão injusta do trabalho doméstico e da carga cognitiva continua sendo uma fonte de tensão nos relacionamentos, levando muitas mulheres a considerarem essa disparidade como motivo para separações. É fundamental que terapeutas, profissionais de saúde mental e educadores deem a devida importância à carga cognitiva relacionada às tarefas domésticas, a fim de promover relações mais equitativas e saudáveis. A conscientização e ações nesse sentido podem contribuir significativamente para a melhoria do bem-estar das famílias e indivíduos envolvidos.

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