Ex-presidente do TJ-SP diz que corrupção é responsável pelo desinteresse pela política

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O Secretário Municipal de Mudanças Climáticas de São Paulo e ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo José Renato Nalini afirmou que a corrupção é um problema que vai além das cifras desviadas e das práticas ilícitas; trata-se de uma “chaga que atormenta o mundo”.

A fala foi feita durante o 9º Seminário Caminhos Contra a Corrupção, promovido pelo Estadão e pelo Instituto Não Aceito Corrupção. Ele argumenta que, para combater esse problema, a educação e a incorporação de valores éticos desde a infância são fundamentais. E as práticas corruptivas no sistema público são a principal causa do “desinteresse” pela política por parte da população, em sua avaliação.

“Fico espantado que nas eleições municipais tivemos uma abstenção maior do que a que tivemos na pandemia. O que evidencia essa abstenção maior do que um terço? É o desinteresse pela coisa pública”, diz. “É injustificável que a pessoa não queira saber qual será o destino da sua cidade. Ela tem obrigação de participar da vida urbana. Falta essa virtude do devotamento à causa pública”, declara Nalini ao associar o fato à corrupção no poder público.

O sócio-fundador da Menestys Investimentos, Lucas Bartman, evita relacionar a corrupção como algo exclusivo de políticos. “A sociedade culpa muito a classe política, mas é uma responsabilidade geral”, declara o empresário.

“O importante é discutir, desde a infância, a necessidade de não transigir com a verdade, de não pactuar com a mentira”, declarou Nalini. Segundo ele, a corrupção nasce de pequenos atos, e o aprendizado ético precisa ser contínuo e praticado nas escolas e nas famílias. “Existe uma virtude cujo objeto é evitar o engano: a veracidade. Ela consiste no hábito da adequação entre o que se pensa e o que se diz ou faz”, reforçou.

Durante o encontro, Nalini também fez uma associação direta entre a corrupção, as desigualdades sociais e o impacto no desenvolvimento da sociedade. “À medida que alguns se enriquecem em demasia, estamos aprofundando o poço que nos separa daqueles que estão sem o mínimo existencial.” Para ele, a corrupção, quando “rouba” dos mais pobres e das comunidades mais necessitadas, compromete recursos essenciais destinados a políticas públicas e à melhoria da qualidade de vida da população.

A educação, defende Nalini novamente, é a base para qualquer tentativa de se criar um País menos corrupto e mais justo. “Educação formal de qualidade pode ser projeto para barrar a corrupção. Educação que se espalhasse por um processo contínuo de aprendizado. Um dia que você nada aprende, é um dia perdido”, enfatizou. O secretário alerta que a falta de uma educação de qualidade cria um ambiente propício para o desenvolvimento de práticas antiéticas.

Nalini enxerga a virtude como um hábito cultivado: “Virtude é hábito, é costume. Não é dom. Basta você praticar um ato bom, um ato virtuoso por dia, e, com o passar do tempo, você queira ou não, vai se tornar uma pessoa virtuosa.” Para ele, a prática cotidiana de ações éticas transforma o indivíduo e o protege contra o vício, que ele descreve como o oposto da virtude.

Como Secretário de Mudanças Climáticas, Nalini também aponta para uma correlação entre a ética e a preservação do meio ambiente. Segundo ele, há em curso “um projeto para enfeiar o mundo, tornar o mundo mais feio. A natureza dá uma resposta cruel hoje ao homem”. Ele acredita que a degradação ambiental é uma forma de corrupção contra as futuras gerações.

Nalini destacou ainda o papel dos meios de comunicação nesse cenário, ressaltando que eles têm um dever ético que vai além de informar. “É necessário discernir o verdadeiro do falso. Os meios de comunicação têm um dever de formar, além de apenas informar.”

Para o secretário, a corrupção é mais do que um problema de ordem penal; é um desvio ético, uma “injustiça” que reflete a hipocrisia dos que praticam a mentira e o engano. “Quando uma empresa, uma pessoa física, se apropria indevidamente de uma quantia destinada a melhorar a condição de vida, principalmente de pessoas mais carentes, está enganando a população”, pondera.

O Seminário Caminhos Contra a Corrupção se consolidou como um dos principais espaços de debate nacional sobre transparência, integridade, compliance, ESG e o universo anticorrupção. Quase 80 mil pessoas acompanharam as duas últimas edições, em 2022 e 2023. Os painéis e conferências deste ano serão transmitidos ao vivo no site do Estadão.

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