No Brasil, diante dos custos elevados dos tratamentos em clínicas de medicina reprodutiva, a prática da inseminação caseira (IC) ganhou destaque. Realizada em casa com materiais simples e orientações obtidas em redes sociais, a IC enfrenta desafios como a preocupação com a transmissão de doenças, a misoginia da sociedade e a falta de regulamentação específica.
A inseminação caseira consiste em coletar sêmen humano fresco em recipientes descartáveis e transferi-lo para uma pessoa com útero, utilizando seringas ou cateteres, sem envolvimento sexual direto, com o objetivo de fecundar óvulos. Ao contrário dos procedimentos em clínicas especializadas, a IC é caracterizada pelo seu caráter simplificado, acessível e baseado em informações compartilhadas em plataformas digitais.
O método tem sido procurado por mães solteiras, casais de mulheres lésbicas, pessoas interessadas em compartilhar a parentalidade de forma não convencional, e até por homens trans. Uma pesquisa conduzida em 2024 investigou as questões relacionadas à inseminação caseira, evidenciando a busca por alternativas econômicas e autônomas diante da inacessibilidade dos tratamentos tradicionais de reprodução assistida.
Desafios de Acesso aos Tratamentos de Fertilidade
O acesso a tratamentos de fertilidade é dificultado pelos altos custos. Dados indicam que, no Brasil, os procedimentos de fertilização in vitro custam em média R$ 30 mil por ciclo, o que limita o acesso a uma parcela da população. A escassez de serviços de medicina reprodutiva pelo SUS também contribui para a exclusão de muitos indivíduos desses tratamentos.
A prática da inseminação caseira surge como uma alternativa viável para pessoas que buscam contornar as barreiras financeiras, burocráticas e que desejam explorar novos arranjos familiares. No entanto, a disseminação da IC tem sido acompanhada por manifestações de misoginia, que enfatizam os riscos à saúde e a ausência de supervisão médica como pontos negativos do método.
Desafios Legais e Regulatórios
A ausência de regulamentação específica para a IC levanta incertezas legais. Embora a legislação reconheça a diversidade de arranjos familiares, a inseminação caseira ainda é estigmatizada por não envolver relações sexuais tradicionais ou a presença masculina direta. Questões relacionadas ao anonimato na doação de gametas e a proibição da comercialização desses materiais também influenciam nas incertezas legais.
A presunção de paternidade, que muitas vezes privilegia o homem cis-heterossexual no registro dos filhos, demonstra a necessidade de atualizações e adaptações jurídicas para reconhecer e proteger os diferentes modelos familiares resultantes da inseminação caseira. O reconhecimento da dupla maternidade em casos de IC tem sido um tema abordado recentemente em instâncias judiciais, buscando garantir os direitos reprodutivos das mulheres e a igualdade de tratamento com outros métodos de reprodução assistida.
A sociedade deve debater abertamente essas questões, considerando a diversidade de arranjos familiares e a importância de políticas que garantam o pleno exercício dos direitos reprodutivos. O documentário “E se (não) for Inseminação Caseira” incentiva reflexões sobre os desafios e potencialidades desse método, estimulando o diálogo e a busca por soluções que promovam a igualdade e o reconhecimento de novos modelos familiares.
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