Bolsonaro, o aprendiz, deve estar rindo à toa de Trump, o mestre

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Bolsonaro, o aprendiz, deve estar rindo à toa de Trump, o mestre

“Congratulations”, Bolsonaro. Pela primeira vez, se não erro, saiu na frente de Donald Trump, seu ídolo e condutor, deixando-o a comer poeira. É sobre o combate à corrupção.

Quando deputado federal, você sempre viu com simpatia a Lei da Ficha Limpa, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 2010 após um amplo movimento de mobilização popular.

Líderes de esquerda, à época, fizeram cara feia para a lei. Achavam que ela fora concebida justamente para pegá-los. Sequer começara no Supremo Tribunal Federal o julgamento dos mensaleiros do PT.

Em 2018, você se baseou na Lei da Ficha Limpa para contestar no Tribunal Superior Eleitoral a candidatura de Lula a presidente. Ele estava preso em Curitiba e não poderia se candidatar.

Em março de 2019, já como presidente da República, você publicou um decreto mantendo como exigências para a ocupação de cargos no governo não ter sido punido pela Lei da Ficha Limpa.

E não parou. Ainda em 2019, você vetou dispositivo de um projeto aprovado pelo Congresso que poderia facilitar a diplomação de políticos que deveriam ser enquadrados na Lei da Ficha Limpa.

É verdade que para compensar, digamos, tamanho rigor no combate à corrupção, você esvaziou a Operação Lava-Jato, livrou-se de Sérgio Moro e entregou ao Congresso o orçamento da União.

Agora, uma vez que está ameaçado de ser condenado e preso, você quer mandar a lei da Ficha Limpa para o lixo porque, segundo já disse, o único propósito dela “é perseguir a direita”. E quer mais.

Cobra ao Congresso que aprove uma anistia que reduza de oito para dois anos o prazo de inelegibilidade previsto na lei da Ficha Limpa. Assim, você poderá se candidatar a presidente em 2026.

Mas, que diabos, onde Trump entra nessa história? Por que digo que você, Bolsonaro, saiu na frente dele em alguma coisa? Simples: porque comparo o que você já fez com o que ele começa a fazer.

Nas últimas 48 horas, duas ações quase simultâneas do governo Trump sinalizam uma abordagem nova para o tratamento de casos de corrupção pelo Departamento de Justiça americano.

Trump assinou uma ordem executiva suspendingo investigações e processos de corrupção corporativa em países estrangeiros para não prejudicar a vantagem competitiva dos Estados Unidos.

“Isso vai significar muito mais negócios para a América”, disse ele com a maior naturalidade sobre sua decisão de suspender a aplicação do Foreign Corrupt Practices Act de 1977.

Por sua vez, um alto funcionário do Departamento de Justiça ordenou que promotores federais em Manhattan retirassem as acusações de suborno contra o prefeito Eric Adams, de Nova York.

Começou o abandono da tradição americana de responsabilizar funcionários públicos, executivos corporativos e outros por corrupção dentro ou fora dos Estados Unidos. Que tal?

Foi substituído o principal funcionário do Departamento de Justiça encarregado dos casos de corrupção. E Trump perdoou um ex-governador condenado por tentar vender uma cadeira no Senado

Trump, como um político que enfrentou várias acusações e um magnata do mercado imobiliário que prioriza a realização de negócios, sempre foi contra limpar a política e as corporações.

As ações “enviam uma mensagem de que, daqui para frente, você pode obter bons contratos pagando propinas”, disse ao The New York Times uma ex-agente do FBI, Debra LaPrevotte.

Ela acrescentou:

“Lutei contra a corrupção por 28 anos e não acho que os esforços para combater a cleptocracia e a corrupção tenham ido longe demais. Queremos um mundo onde as regras se apliquem.”

Bolsonaro deve estar rindo à toa. O aprendiz viu primeiro que o mestre.

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