A Universidade de São Paulo (USP), por meio da Escola Politécnica (Poli), encerrou o funcionamento da Sala Lilás Janaína Bezerra Vive, espaço destinado ao acolhimento de mulheres vítimas de violência sexual na instituição. O fechamento foi motivado, segundo a direção da unidade, por questões de segurança estrutural e presença de animais. Esse local foi criado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario como um espaço de apoio a mulheres que tenham sofrido violência sexual na universidade, uma vez que, de acordo com o movimento, a USP não possui medidas suficientes para lidar com essa questão. Além disso, a universidade é acusada de recusar-se a tomar medidas legais contra agressores de alunas, mesmo quando estas possuem ordens de proteção contra eles.
Naomi Asato, membro do Movimento de Mulheres Olga Benario, destaca que a ocupação do espaço na Poli não era permanente, mas sim uma forma de evidenciar a falta de capacidade da universidade em oferecer um local apropriado para acolher vítimas de violência de gênero no campus. Ela ressalta que a justificativa da direção da Poli para o fechamento da sala devido à falta de segurança estrutural é inconsistente, visto que o espaço estava fechado há anos, e os riscos à saúde, como a presença de escorpiões e morcegos, são consequências desse abandono.
“Para nós, mulheres estudantes, não é justo que haja diversos locais fechados e abandonados há anos e até uma base da Polícia Militar dentro do campus e não exista qualquer espaço físico para acolher vítimas de violência sexual”, afirma Naomi.
A Escola Politécnica informou, em nota ao Metrópoles, que notificou extrajudicialmente o caso em 6 de fevereiro, estabelecendo um prazo para desocupação do espaço. Após uma reunião entre representantes do movimento e a direção da Poli, a sala foi fechada devido aos riscos de segurança. A administração da Poli anunciou que obteve recursos para reformar o local, que abrigará atividades atualmente realizadas no prédio da Engenharia Civil.
O Movimento de Mulheres Olga Benario está em negociação com a universidade sobre a realocação da sala, sendo uma das possibilidades a utilização da cozinha do Conjunto Residencial da USP (Crusp), local desativado que já foi cenário de violências passadas. No entanto, as negociações enfrentam obstáculos, uma vez que a Reitoria alega que o diálogo deve ocorrer com cada unidade, enquanto estas afirmam que a decisão deve partir da Reitoria, resultando em falta de decisões concretas.
A Sala Lilás Janaína Bezerra Vive
Inaugurada em novembro de 2024 pelo Movimento de Mulheres Olga Benario e pelo Movimento Correnteza, a Sala Lilás Janaína Bezerra Vive ocupava um espaço no campus da USP no Butantã, dentro da Escola Politécnica. O local, abandonado por anos, não atendia a propósitos sociais. Nas redes sociais, o espaço reivindica ações da universidade para acolher mulheres vítimas de violência sexual, como a aceitação de medidas protetivas e a criação de um centro de referência para dar continuidade às denúncias recebidas.
Janaína Bezerra, que empresta seu nome ao espaço, foi uma estudante de jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI) vítima de estupro seguido de feminicídio em 2023 no campus. Somente um ano após o crime o agressor foi expulso da UFPI.
Violência sexual na USP
No final de 2024, alunas protestaram no campus da USP no Butantã após denúncias de estupro no conjunto residencial e uma tentativa na Praça do Relógio, ambas em agosto. Além disso, a USP investiga desde dezembro o caso do professor Alysson Mascaro, da Faculdade de Direito, acusado de assédio e abuso sexual por vários alunos, o que resultou em seu afastamento da instituição.
Comentários Facebook