Após uma acirrada campanha eleitoral permeada por debates sobre imigração e crise econômica, o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) desponta como a segunda maior força no Parlamento Alemão (Bundestag).
Nas eleições federais antecipadas realizadas no último domingo (23/2), a AfD praticamente dobrou sua votação em comparação com o pleito de 2021, alcançando 20,4% dos votos conforme as primeiras projeções. Uma ascensão de dez pontos percentuais em relação à última eleição.
O partido ultrapassou legendas tradicionais como o Partido Social-Democrata (SPD) e os Verdes, integrantes do atual governo liderado pelo chanceler federal Olaf Scholz, que enfrenta altos índices de impopularidade.
A ultradireita ficou somente atrás da União Democrata-Cristã (CDU), liderada pelo deputado Friedrich Merz, que provavelmente dirigirá o próximo governo. A derrota expressiva nas urnas fez com que o SPD, historicamente consolidado, caísse para a terceira posição entre as bancadas futuras.
Em meio a este cenário político, a AfD apresentou como candidata a chanceler uma de suas colíderes, a deputada Alice Weidel.
Após a divulgação dos resultados, Weidel comemorou o desempenho. “Somos o único partido a dobrar o resultado em relação à última eleição – o dobro!”, declarou Weidel aos apoiadores na sede do partido em Berlim. Ela enfatizou: “Agora, resta aguardar os desdobramentos nas próximas semanas”, referindo-se às negociações para a formação de uma coalizão. Weidel também dirigiu palavras ao conservador Friedrich Merz, político mais cotado para presidir o novo governo.
No entanto, apesar do crescimento expressivo nas urnas, a AfD ainda enfrenta obstáculos para obter poder efetivo, visto que os partidos tradicionais manifestaram a intenção de não se aliarem à legenda para formar um novo governo.
A AfD lança suas esperanças na possibilidade de os conservadores da CDU romperem o “cordão sanitário” político estabelecido por outros partidos e firmarem uma coalizão com os ultradireitistas, evitando assim acordos com os social-democratas e/ou verdes. Entretanto, o conservador Merz reiterou que não tem intenção de negociar com a AfD, especialmente após a repercussão negativa de uma moção parlamentar aprovada em janeiro com votos dos ultradireitistas.
É recorrente a situação de crescimento da AfD sem alcançar efetivamente o poder, cenário observado em eleições estaduais, onde o partido não conseguiu participar dos governos locais, mesmo obtendo expressiva votação. No estado da Turíngia em 2024, por exemplo, o partido se posicionou em primeiro lugar, porém viu outras legendas menores se unirem para formar o governo local.
Fundado em 2013 como um partido inicialmente eurocético e de orientação liberal, a AfD passou rapidamente para a ultradireita, especialmente após a crise migratória de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, o partido é frequentemente alvo de acusações de abrigar simpatizantes neonazistas.
O partido possui diversos diretórios estaduais classificados como “extremistas de direita” pelos serviços de inteligência, que monitoram de perto as atividades de seus membros.
Apesar das controvérsias, a AfD tem registrado crescimento nas últimas décadas. Formou sua primeira bancada federal em 2017 e, após uma leve queda em 2021, retomou seu crescimento neste último pleito.
A AfD é particularmente relevante no Leste alemão. Em uma eleição estadual tripla na região em 2024, o partido ficou em primeiro lugar em Thuringia e em segundo em Saxônia e Brandemburgo, conquistando inclusive a maior parcela de eleitores entre 16 e 24 anos em Brandemburgo.
Nessas eleições federais, reforçando seu discurso anti-imigração, a AfD recebeu apoios externos durante a campanha, inclusive do bilionário sul-africano Elon Musk e do vice-presidente americano J.D. Vance, o que suscitou acusações de interferência externa por parte dos rivais políticos.
No ano anterior, Musk causou polêmica ao afirmar que “Só a AfD pode salvar a Alemanha”, declaração prontamente aclamada por lideranças do partido.
Acusações de ingerência externa são recorrentes em relação à AfD. Em 2024, um deputado do partido foi acusado de receber financiamento da Rússia, e um assessor foi preso sob suspeita de espionagem para a China.
No encerramento da campanha, o governo alemão acusou a Rússia de manipular as redes sociais e minar a confiança na democracia durante o processo eleitoral alemão.
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