Os abusos sexuais cometidos por padres contra crianças foram ocultados por décadas, desafiando o papa Francisco, o primeiro pontífice sul-americano, que tomou iniciativas notáveis para abordar essa questão. Com a morte do pontífice em 21 de abril, o conclave se aproxima, levando as questões de abuso para o centro das discussões. O documento “Vos Estis Lux Mundi” tornou obrigatória a comunicação à Igreja sobre qualquer suspeita de agressão sexual ou tentativas de encobrimento. O Vaticano destacou que “a evangelização, a relação com outras religiões e o tema do abuso” são prioridades.
Os cardeais agora reconhecem a necessidade urgente de que o próximo papa, que será escolhido a portas fechadas na Capela Sistina nesta quarta-feira (7), dê prioridade ao combate à crise de abuso. “A obrigação mais sagrada do próximo papa deve ser proteger as crianças de abusos”, afirmou Anne Barrett Doyle, da ONG Bishop Accountability. Quando Francisco assumiu em 2013, a Igreja enfrentava uma onda de revelações que chocaram muitos católicos.
Um ponto de virada ocorreu em 2018, quando o papa admitiu “graves equívocos” após inicialmente defender um bispo chileno acusado de encobrimento. Ele forçou a renúncia de todos os bispos do Chile e criticou o cardeal Theodore McCarrick, condenado por abusos. Em 2019, Francisco eliminou o sigilo pontifício sobre agressões sexuais, permitindo que denúncias fossem entregues à Justiça civil, embora sem obrigações.
Apesar das mudanças, as vítimas continuam a clamar por ações mais efetivas. “Precisamos de uma ação significativa do próximo papa, que revele os nomes dos sacerdotes culpados e promulgue uma lei universal da Igreja que exclua permanentemente abusadores de crianças”, afirmou Doyle. A associação de vítimas Snap criticou o Vaticano por reter documentos sobre abusos e considera a medida de denúncia obrigatória insuficiente.
Com a Bishop Accountability, a Snap está concentrando esforços para garantir que o próximo papa enfrente essa problemática. Doyle viajou a Roma para defender sua causa e criou um site, ConclaveWatch.org, para investigar os históricos de cardeais em relação a abusos. “Não podemos permitir que o próximo papa também encubra o abuso sexual do clero”, declarou.
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