Salvador é um dos palcos mais vibrantes do cinema nacional, reconhecida pela sua rica história cinematográfica. O momento culminante dessa trajetória foi a conquista do 1º Oscar pelo Brasil com “Ainda Estou Aqui”, que recebeu o prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. A Praça Castro Alves, especificamente o Cine Glauber Rocha, foi onde o público teve seu primeiro contato com a talentosa Fernanda Torres no papel de Eunice Paiva, através da obra de Walter Salles.
O filme estreou em 19 de setembro e ficou em cartaz até o dia 25, atraindo 2.800 espectadores ao longo de 14 sessões, todas aplaudidas de pé. Mas que oportunidade tiveram aqueles que não puderam assistir em uma das 70 salas de cinema disponíveis na capital? O que aconteceu com o acesso a essa festa cultural?
Em resposta a essa questão, a vereadora Aladilce Souza (PCdoB) apresentou uma proposta ambiciosa: o Projeto de Lei 189/2025. Esta iniciativa visa instituir o Programa Municipal “Cinema Nacional para Todos”, que prevê a exibição gratuita de filmes brasileiros nas escolas públicas municipais e em espaços culturais não comerciais da cidade.
A justificativa do projeto destaca a urgência de aproximar a população, especialmente crianças e jovens, ao vasto repertório do cinema nacional, que narra a riqueza da nossa diversidade cultural e social. “Salvador, reconhecida como um importante polo cultural, possui uma produção cinematográfica significativa, mas que frequentemente escapa ao melhor público devido a barreiras econômicas e à concentração de salas em áreas centrais”, enfatiza a vereadora.
Filmes como “Ó Pai ó” e “Bacurau” são citados como exemplos de obras que não apenas entretêm, mas também provocam reflexão sobre questões brasileiras, através de suas narrativas acessíveis. O projeto sugere quatro locais para a difusão gratuita do cinema: escolas públicas, bibliotecas comunitárias, centros culturais e praças, todos espaços fundamentais para a cultura.
Os longas a serem exibidos passarão pela análise de um comitê consultivo composto por representantes da Secretaria Municipal de Educação, da Secretaria de Cultura, além de professores, estudantes e coletivos de cinema independente. As produções selecionadas devem abordar a diversidade cultural brasileira, enfatizando obras baianas e periféricas, sempre com garantia de acessibilidade, incluindo legendas, audiodescrição e LIBRAS.
Recentemente, um levantamento da Agência Nacional do Cinema (Ancine) revelou que as 142 salas de cinema na Bahia estão concentradas em apenas 24 dos 417 municípios, correspondendo a apenas 5,7% das cidades baianas. De acordo com a vereadora, este projeto será uma ferramenta vital para democratizar a sétima arte.
“A iniciativa se alinha ao artigo 215 da Constituição Federal, que assegura o direito ao pleno exercício da cultura. Além disso, dialoga com a Lei 13.006/2014, que já estabelece a obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais nas escolas, ampliando essa abordagem a outros espaços coletivos”, acrescenta a vereadora. O PL foi encaminhado na última segunda-feira (26) para análise nas comissões competentes.
Nos bastidores do cinema em Salvador, 2023 trouxe promissoras notícias com um plano de investimento de R$ 32 milhões no desenvolvimento audiovisual da capital, conforme anunciado pelo então secretário de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho. O início de 2024 sinaliza ainda mais: a construção de um parque cinematográfico no Subúrbio Ferroviário é uma meta em andamento.
Tourinho destaca a necessidade de mais estúdios audiovisuais para gerar empregos e renda em Salvador, enfatizando que o setor pode emergir como uma das principais atividades econômicas da cidade nos próximos anos. “O programa SalCine é um case de sucesso”, afirmou em entrevistas.
O projeto “Salcine – Polo de Audiovisual de Salvador” foi criado para fortalecer a indústria cinematográfica local, buscando equiparar-se à potência dos centros tradicionais do Sudeste. Com planos de construir uma nova sala de cinema e uma escola de audiovisual, o projeto visa tornar o cinema um setor industrial importante na economia da cidade.
Apesar de obstáculos, como a disputa por espaço na antiga Fábrica São Braz, o prefeito Bruno Reis continua defendendo os benefícios do Salcine. Ele acredita que a criação de um espaço voltado para gravações e formação de mão de obra em audiovisual poderá transformar vidas nas comunidades mais carentes de Salvador.
Em nível estadual, a nova Bahia Filmes, estabelecida pelo governador Jerônimo Rodrigues, promete dinamizar o setor, garantindo um aporte de R$ 22 milhões ao ano. Essa nova estrutura buscará parcerias para a distribuição de filmes e o funcionamento de salas públicas de cinema, além de atrair produções de fora da Bahia.
O cenário está se moldando, e Salvador se prepara para ser um protagonista no universo audiovisual. A democratização do acesso ao cinema pode ser um passo fundamental na formação de cidadãos mais críticos e conscientes. O que você acha dessa iniciativa? Comente sua opinião e compartilhe suas expectativas para o futuro do cinema em nossa cidade!
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