Saudades do futuro: o fim das utopias (por Felipe Sampaio)

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Há duas décadas, Fernando Henrique Cardoso, em “Cartas a um Jovem Político”, já destacava a responsabilidade geracional sobre questões prementes, como o impacto das redes digitais nas crenças e comportamentos da juventude. Hoje, duas décadas depois, Jonathan Haidt, em “A Geração Ansiosa”, aponta que essa realidade evoluiu para uma verdadeira epidemia de transtornos mentais, ecoando o que foi retratado na série “Adolescência”. A mente humana, de fato, parece desordenada.

A recente entrevista da apresentadora Lívia Andrade, após um incidente aéreo, ilustra esses desafios. Ao compartilhar sua experiência de quase acidente, ela destaca que, após se sentir aliviada, decidiu viver intensamente o presente, já que o futuro, em sua visão, não é garantido. Contudo, é importante lembrar que é a atuação decisiva e competente da piloto Nayane Porto, de apenas 23 anos, que realmente garantiu a segurança de todos a bordo. A falta de menção ao seu papel crucial reflete uma cultura que valoriza o imediatismo em detrimento do reconhecimento do esforço e da competência.

Embora possamos perdoar Lívia por seu desabafo sob tensão, seu chamado a viver mais intensamente o agora revela uma visão coletiva mais ampla: a crença de que aproveitar o momento é o máximo que podemos esperar. A cultura contemporânea, impulsionada pela publicidade e pelas redes sociais, frequentemente nos convida a consumir e desfrutar, enquanto deixa de lado as questões mais profundas sobre o futuro.

A reflexão nos leva a um alerta implícito: independentemente da gravidade das dificuldades, a mensagem predominante é a de valorizar o momento presente, deixando que o “restante” seja tratado como uma questão divina. Por outro lado, o exemplo da jovem piloto nos ensina que, apesar das adversidades, a capacidade de tomar decisões informadas e agir coletivamente é fundamental para atravessar crises.

O futuro, que um dia parecia promissor, agora parece esquecido. A humanidade, tantas vezes distraída por seduções efêmeras, precisa resgatar a coragem e a clareza de visão que conduzem ao progresso verdadeiro. Que a comandante Nayane sirva de inspiração, mantendo seus olhos fixos na meta, e não se deixando levar pela superficialidade ao seu redor. Como disse Adhemar de Barros: “Fé em Deus e pé na tábua”.

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