Um mês após uma grande operação de remoção liderada pela Secretaria do DF Legal, o Setor de Inflamáveis (SIN) testemunhou a resiliência de seus moradores, que rapidamente ergueram novas estruturas improvisadas. O Metrópoles retornou à região e encontrou pelo menos 10 barracos construídos com madeirite e lona, desafiando a ordem que tentava restabelecer a normalidade.
A Defesa Civil classificou o local como um verdadeiro “campo minado”. As precárias barracas, feitas de madeira e lona, carecem de instalações regulares de energia e água e estão alarmantemente próximas a depósitos de combustíveis inflamáveis. Essa proximidade não só gera riscos, mas também compromete a segurança de quem reside ali.
Em uma realidade marcada pela adversidade, muitos moradores enfrentam condições extremamente difíceis. Dormem em barracas improvisadas, usam matas como banheiro e contam com a generosidade de amigos para tomar banho. Além disso, a escassez de água potável, alimentos e itens de higiene, juntamente com a poeira e lixo despejado nas ruas, tornam o dia a dia insuportável. Para cozinhar, eles improvisam fogões com pedras e tijolos, revelando a luta pela sobrevivência em condições desumanas.
Veja imagens da ocupação no Setor de Inflamáveis:
O lixo jogado a céu aberto deixa mau-cheiro e causa riscos à saúde dos moradores
Pessoas construíram barracos improvisados
Galinhas e cachorros são criados no local
Derrubadas
Na ação do dia 5 de maio, a resistência dos moradores foi palpável. Após a remoção, protestos ocorrem nas adjacências da Estrada Parque Taguatinga Guará (EPTG), com ocupantes chegando a invadir a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). O GDF, por sua vez, justificou a ação como necessária, dada a natureza pública e irregular do terreno, localizado em uma zona de armazenamento de produtos perigosos.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) moveu uma ação civil pública visando proteger os direitos das crianças e adolescentes afetados pela remoção. Para buscar soluções pacíficas em conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça do DF realizou uma visita ao local no dia 29 de maio.
Ações Suspensas por 90 Dias
O Governo do Distrito Federal (GDF) anunciou que a regularização do Setor de Inflamáveis será considerada no Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot). Durante os próximos 90 dias, as remoções em áreas de risco serão suspensas. Moradores que não estão em locais de risco extremo poderão permanecer, enquanto uma avaliação técnica da Defesa Civil é realizada.
“Campo Minado”
O especialista em avaliação de risco ambiental, Raimundo Barbosa, alertou sobre os perigos do local, mencionando a presença de depósitos de combustíveis e gás. A localização de alguns barracos sobre dutos aumenta o risco de explosões, especialmente devido a gambiarras na rede elétrica. Barbosa defendeu a necessidade de uma fiscalização preventiva para evitar ocupações perigosas, enfatizando que a falta de ações proativas do governo coloca vidas em risco.
A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) afirmou acompanhar a situação, oferecendo apoio a 38 famílias, mas muitas delas recusaram acolhimento institucional. No entanto, foram disponibilizadas refeições e assistências financeiras, com um total de quase 11.500 refeições servidas desde a operação.
“Foram solicitados auxílios de Vulnerabilidade e Excepcionalidade, com alguns benefícios já concedidos. Outros pedidos estão em processo de análise”, destacou a Secretaria em nota.
Arcebispo de Brasília
Recentemente, o arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa, visitou a ocupação, expressando sua preocupação com a situação. “As pessoas têm o direito de ter suas casas para morar”, afirmou, prometendo dialogar com o GDF em busca de soluções razoáveis para os moradores. Em resposta à realocação, a Casa Civil garantiu que todos serão cadastrados na lista de vulneráveis da Codhab para que suas situações sejam avaliadas dentro dos critérios legais.
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