Na tarde de 5 de junho de 2005, um acontecimento que mudaria o rumo da política brasileira se desenrolava silenciosamente em um apartamento em São Bernardo do Campo. Lula, então presidente pela primeira vez, recebera um amigo médico e uma vidente. Durante esse encontro, o presidente compartilhou um pensamento perturbador: “O país vai virar pelo avesso a partir de amanhã e muitos acharão que será a minha morte política.” Essa frase prenunciava um turbilhão que estava por vir.
Poucas horas antes, Lula havia tomado conhecimento de uma bomba política: o deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, concedera uma entrevista bombástica à coluna Painel da Folha de S. Paulo. Nela, acusava o PT de pagar mensalmente 30 mil reais a deputados para aprovar projetos governamentais. Esse “mensalão” estava prestes a se tornar um símbolo de corrupção no país.
Jefferson já havia compartilhado a mesma história com Lula meses antes, e o presidente não havia conseguido conter as lágrimas. Ele também levara a denúncia ao ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Nesse cenário de tensão, Lula sabia que era preciso agir. Ele não hesitou em afirmar para o médico que pretendia demitir Dirceu, o principal atingido pela denúncia, e posteriormente Antonio Palocci, ministro da Fazenda.
No dia seguinte, a entrevista foi publicada. Em questão de semanas, Dirceu pedira demissão e Palocci, em março de 2006, seria forçado a sair após uma nova denúncia envolvendo um caseiro. O impacto dessas revelações reverberou por toda a nação.
É interessante recordar que, nesse mesmo dia fatídico, eu estava em Recife, quando recebi um telefonema do deputado Fernando Lyra (MDB-PE). Sua voz carregava um tom de urgência: “O mundo vai se acabar amanhã.” Intrigado, perguntei o porquê. Ele rapidamente me explicou sobre a explosiva entrevista de Jefferson.
Meu blog, que já existia desde março de 2004, estava prestes a testemunhar um dos maiores picos de audiência de sua história. Em um tempo em que as notícias eram reservadas para as edições impressas, recorri a um amigo em São Paulo pedindo que comprasse a Folha. Assim que tive acesso à entrevista, postei as partes mais impactantes rapidamente.
Lula, considerado por muitos como político terminado, surpreendeu o país ao ser reeleito em 2006, desafiando todas as previsões sobre sua morte política. A história do mensalão e suas consequências ainda ecoam na memória coletiva brasileira, ensinando que na política, o inesperado é apenas o começo de uma nova narrativa.
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