A história de Lara do Prado de Sousa, uma jovem de 28 anos e natural de Brasília, é um reflexo doloroso de como a busca pela liberdade pessoal pode gerar um abismo emocional entre mães e filhos. Batizada Testemunha de Jeová na adolescência, Lara foi confrontada com uma escolha imposta pela religião ao decidir assumir sua bissexualidade e questionar doutrinas. Essa decisão resultou em sua expulsão da congregação, separando-a não apenas da sua fé, mas também de sua mãe, que de forma inabalável permanece leal ao grupo religioso.
Os relatos de ex-Testemunhas de Jeová são muitos, ecoando a dor de um isolamento forçado. A religião orienta seus fiéis a cortarem relações com membros desassociados, levando muitos a perderem suas redes de apoio e seus entes queridos. Em uma edição da revista *A Sentinela*, a própria organização justifica a desassociação como um meio de preservar a “pureza” da congregação, alegando que cortar laços é um ato de bondade que pode incentivar o retorno dos afastados.
“Desde criança, minha vida girava em torno da religião; era tudo o que conhecia. Porém, à medida que cresci, comecei a questionar dogmas que até então aceitava sem reflexão”, relembra Lara, que se tornou designer de cílios. O que era um ambiente acolhedor se tornaria hostil ao revelar sua verdadeira identidade, levando à sua expulsão após a aceitação de sua sexualidade.
No Distrito Federal, onde cerca de 200 congregações operam, as relações familiares se tornam complicadas. Lara e sua mãe, unidas na fé, enfrentaram um desmantelamento doloroso. “Fizemos tudo juntas, até que o meu ‘eu’ verdadeiro se tornou uma barreira entre nós”, lamenta Lara. Momentos simples, como sair para um filme, tornaram-se raros. Hoje, elas se encontram apenas por mensagens ocasionais que expressam amor, mas sem o calor de uma relação próxima.
“A dor de perder minha mãe é como ser órfã de uma mãe viva”, confessa. Essa relação conturbada impacta sua vida de maneira profunda, afetando até mesmo a expectativa de momentos futuros, como um casamento. O luto por sua conexão familiar é constante, e Lara se pergunta se algum dia sua mãe poderá aceitar sua nova vida.
O processo de desassociação traz à tona um controle que se assemelha a um ostracismo emocional, onde fã e família se tornam estranhos. “É como se você estivesse morrendo para eles”, observa Lara.
Além de sua história, a de Jacira da Silva Amaral, uma ex-Testemunha de Jeová de 72 anos, reforça a questão da separação imposta pela religião. Jacira, que dedicou 40 anos à comunidade, foi aconselhada a abandonar sua filha após sua separação. Os desafios familiares são profundos, levando mães a confrontos emocionais entre a lealdade a sua fé e o amor incondicional por seus filhos.
Jacira, agora ativista, expõe a crueldade da doutrina e a necessidade de mudanças. “A religião promove o corte de laços familiares. O amor é colocado em segundo plano, atrás das regras”, diz. Em um protesto recente, ela levou sua mensagem às ruas, decidida a ajudar outros ex-integrantes a recuperar suas histórias e conexões perdidas.
O Movimento de Ajuda às Vítimas das Testemunhas de Jeová (MAV-TJ) se estabelece como uma voz para aqueles que sofrem a separação e isolamento. “Estamos lutando por justiça, mudança e apoio psicológico para todos que tiverem suas vidas abaladas por essa religião”, afirma o líder do movimento.
Se você também vive ou conhece alguém que passou por experiências semelhantes, compartilhe sua história. É hora de trazer à luz as verdades escondidas e buscar a solidariedade entre aqueles que enfrentam o isolamento e a dor.
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