Quando assumi a Secretaria da Fazenda de Pernambuco, mal havia completado trinta anos. O que seria uma fase de fulgor juvenil era também uma época de aprendizado, na qual o chamado de Nelson Rodrigues ressoava em minha mente: “Envelhecei, antes dos quarenta somos todos cretinos fundamentais”. Mas a verdade é que a idiotice se encontra em todas as faixas etárias, a ética não envejece. Meu primeiro instinto foi ouvir os mais experientes, reconhecendo que o saber é uma jornada contínua.
Certa vez, um deputado estadual, amigo de meu pai e um verdadeiro “vovô” da política, veio me visitar. Sua sabedoria e o seu pragmatismo eram notáveis. Após as formalidades, nossa conversa fluiu para o cerne da política: “Governar é arrecadar e gastar, nomear e demitir; aos inimigos, o rigor da lei; aos amigos, os favores da lei”. Frases simples, mas recheadas de significados profundos e, de certa forma, atemporais.
Essas máximas revelam a verdade oculta do poder: o que deveria ser uma administração voltada para o bem público, muitas vezes se transforma em um jogo de interesses pessoais. O olhar crítico de Frei Vicente de Salvador em sua obra *História do Brasil* ecoa até hoje: “Nem um homem nesta terra é republico nem zela ou trata do bem comum senão cada um do bem particular”.
A política brasileira, marcada por conflitos entre os poderes, não transmite a harmonia idealizada na Constituição. Eventuais invasões de competências provocam crises que afetam a estabilidade política, e o lema atual parece ser “cada um por si”. Contudo, no meio desse caos, restam vozes minoritárias buscando soluções. É um quadro devastador, mas não raro ouvimos sobre a resiliência do trabalhador e do empresário, que seguem firmes, apesar das ineficiências do Estado.
A teoria da separação dos poderes, legado de Montesquieu, nos ensina que somente um poder pode conter o outro. No entanto, o patrimonialismo – o predomínio do interesse privado sobre o público – persiste como um câncer na nossa sociedade. Raimundo Faoro evidencia essa questão em sua obra *Os Donos do Poder*, onde descreve a burocracia como uma classe que se aproveita das fragilidades do sistema para acumular privilégios.
Faoro, um democrata por excelência, tira lições de Max Weber, que adverte sobre o político que, ao buscar poder, se deixa levar pela vaidade em vez de servir a uma causa maior. Em suma, os verdadeiros pecados da política são a falta de objetividade e a irresponsabilidade, frutos dessa vaidade disfarçada de querer.
Neste contexto, reforço a relevância de refletirmos sobre nossos líderes e a mecânica do poder. Será que estamos prontos para requerer integridade e compromisso verdadeiro dos que nos governam? Compartilhe sua opinião e vamos debater este tema fundamental.
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