“Duas sanfonadas e acabou o forró”. Essa frase, utilizada por internautas para ilustrar a brevidade de diversas situações, também se aplica à música contemporânea. Afinal, você piscou e a canção pode já ter terminado. A verdade é que, nos últimos anos, as músicas estão se encurtando, e pesquisas da Universidade da Califórnia corroboram essa tendência. Estamos indo cada vez mais em direção à instantaneidade, com canções que muitas vezes se assemelham a jingles publicitários, com duração inferior a um minuto.
Marcelinho Oliveira, renomado produtor musical da Banda EVA, destaca que essa mudança se reflete na forma como o público consome música hoje. “As pessoas não têm tempo para introduções longas. Elas ouvem várias músicas em um único dia e buscam a eficiência na experiência sonora”, explica. Essa dinâmica se intensifica com o advento das redes sociais, onde formatar canções para captura rápida da atenção é essencial.
Gustavo Mioto, outro grande nome da música, afirma que essa brevidade é um reflexo do imediatismo da nova geração. “Precisamos descobrir maneiras de prender a atenção em três minutos, com letras mais curtas e profundas.” De acordo com o relatório Chartmetric de 2024, a duração média das faixas no Spotify caiu para cerca de três minutos, um reflexo da evolução do consumo musical.
Especialistas analisaram mais de 160 mil faixas entre 1990 e 2020 e constataram uma redução média de um minuto na duração das músicas. A icônica ‘Bohemian Rhapsody’, da banda Queen, era vista como um risco devido à sua longa duração em um mercado que prefere canções mais curtas. Hoje, isso não é mais um obstáculo. A faixa ‘clip 1’, da banda A-Reece, é registrada como a mais curta na plataforma, com apenas 32 segundos.
As cinco músicas mais ouvidas no Spotify Brasil em julho também confirmam essa tendência, com apenas uma ultrapassando os três minutos. Os serviços de streaming influenciam fortemente essa mudança, já que, em muitas plataformas, uma música só é contada como ouvida após os primeiros 30 segundos, incentivando os artistas a desenvolver canções curtas que possam se repetir e gerar hits virais.
Para muitos, esta mudança parece caracterizar um desafio. Marcelinho destaca a dificuldade em manter a identidade do artista ao mesmo tempo que busca criar canções mais curtas. “Em 20 segundos, você precisa ter um refrão que prenda o ouvinte.” Existe uma pressão para se adequar a este novo padrão, e artistas como Diggo, que produzem hits, reforçam a ideia de que a rapidez na produção e divulgação é crucial.
Nesse cenário moderno, a vida útil de uma música encurtou. Antigamente, uma canção poderia durar meses nas paradas. Hoje, o canal de sucesso começa a se estreitar após apenas algumas semanas. A sociabilidade online influencia a percepção da música, tornando alguns trechos tão repetitivos que, com o tempo, podem gerar saturação.
As redes sociais, principalmente o TikTok, estão entre as principais responsáveis por essa mudança. Com vídeos limitados a 60 segundos, os trechos mais impactantes das canções são escolhidos, viralizando rapidamente. Assim, músicas com introduções longas têm menos chances de sucesso, enquanto aquelas que vão direto ao ponto estão mais propensas a se tornarem hits.
Jorge Vercillo aconselha a nova geração a focar na qualidade musical em vez de apenas buscar popularidade nas redes sociais. “O que define a permanência no mercado é a qualidade”, destaca. Focar na essência da música, em um mundo que vai em ritmo acelerado, pode ser a chave para criar canções que realmente ressoem por mais tempo.
Com tanta transformação, a música se torna um reflexo das mudanças culturais e de comportamento. Seja em uma faixa curta ou longa, o que importa é o impacto que ela gera e a conexão que estabelece. A música, mais do que nunca, está aqui para se reinventar. Qual a sua opinião sobre essa nova tendência? Deixe seu comentário!
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