Representantes das Santas Casas debatem a crise na filantropia

O presidente da Confederação das
Santas Casas de Misericórdia (CMB), Mirocles Véras, se reuniu nesta segunda-feira,
14, com representantes da Federação das Santas Casas da Bahia (Fesfba) para discutir
a atual condição da filantropia no país.
O encontro, que ocorreu no Hotel Mercure
(Rio Vermelho) teve como objetivo fortalecer a integração entre as instituições
filantrópicas de saúde e a confederação na empreitada de cobrar o governo
federal o repasse prometido em maio de 2021 de R$ 2 bilhões para as unidades
filantrópicas do Brasil.
Também na pauta a crise financeira
instalada em algumas instituições filantrópicas da Bahia, a exemplo das Obras
Sociais Irmã Dulce (Osid), que fez recentemente um ato para chamar atenção da
falta de recursos e como isso vem impactando o atendimento da instituição.
Devido a um déficit operacional de R$
24 milhões, valor que ainda pode ser acrescido em mais R$ 20 milhões até o
final do exercício de 2022, totalizando R$ 44 milhões de défict, as Obras
Sociais Irmã Dulce revelam estar ???atravessando um momento extremamente
delicado???.
De acordo com a superintendente das Osid,
Maria Rita Pontes, a crise financeira é resultado da insuficiência dos valores
recebidos em razão dos serviços prestados ao Sistema ??nico de Saúde (SUS), que
se mantém inalterado ao longo dos últimos cinco anos, sendo insuficiente para
cobrir os custos dos serviços e que teve o cenário agravado pela pandemia.
???Sempre fizemos muito com poucos
recursos financeiros. Só que agora, esse pouco está pouco demais. Precisamos,
mais do que nunca, da ajuda de todos para seguirmos atendendo à população???,
ressalta.
Atendimento pelo SUS
O setor filantrópico totaliza 1824
hospitais e 1078 maternidades em todo o país e 169 mil leitos, sendo 26 mil de
UTI. Responsável por mais de 50% do atendimento do sistema de saúde público do
país, porém, atualmente, já apresenta um déficit monetário de complexidade do
SUS e 70% da alta complexidade, a instância é considerada base do 60%, dessa
forma, essas instituições estão pagando para trabalhar.
Nos últimos 10 anos, o Brasil teve
mais de 350 hospitais filantrópicos fechados,com  mais de sete mil leitos  desativados. Já no estado, 15 santas casas foram descontinuadas por falta de
subsídio desde 2017.
???Existe na Câmara dos Deputados um
projeto de lei de um auxílio de R$ 2 milhões que foi prometido pelo presidente
no ano passado e ainda não foi repassado para essas instituições???, explicou Mirocles
Verás, presidente da CMB.
???Com esse déficit de 60% do valor dos
procedimentos, é impossível que essas entidades continuem, não porque querem
parar, mas por sobrevivência. Se não houver aprovação emergencial desse
projeto, o sistema único de saúde do Brasil fica realmente em uma situação
difícil???, acrescentou.
Segundo o gestor da entidade
nacional, o auxílio financeiro foi a pauta principal durante a reunião das
entidades filantrópicas.
???Sem nós, como o Sistema ??nico vai sobreviver,
se temos base de quase 70% do atendimento? Como vamos ser substituídos de uma
hora para a outra e quem vai substituir essas entidades? E por que não pagar a
essas entidades o valor justo de remuneração pelo trabalho desempenhado????,
questiona.
Para Verás, o fechamento dessas
instituições é um grande mal para o sistema público. ???Uma vez que você fecha
essas unidades por falta de auxílio, você está fechando leitos de atendimento
ao usuário do SUS, às pessoas mais carentes que não tem condição de pagar um
plano de saúde???, afirma.
Segundo a presidente da Federação das
Santas Casas Misericórdias  do Estado da
Bahia (FESFBA), Dora Nunes, 80% das entidades filantrópicas da Bahia estão
operando no vermelho, com déficit no fluxo de caixa.
“O que mais pesa na situação das
Santas Casas é a questão do subfinanciamento, o repasse dos contratos do SUS,
onde essas instituições são contratadas para prestar o serviço aos órgão
públicos, entretanto o repasse desses recursos financeiros está defasado há
mais de 10 anos???, explica.
 * Sob a supervisão do editor Divo
Araújo