Novos detalhes sobre a morte de Igor Oliveira de Moraes Santos, ocorrida na favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, revelam que o cabo Renato Torquatto da Cruz, da Polícia Militar, foi o responsável pelo tiro que matou o jovem no dia 10 de julho, às 15h50.
Além dele, os policiais Robson Noguchi de Lima, Hugo Leal de Oliveira Reis e Victor Henrique de Jesus também dispararam durante a abordagem, contradizendo a versão inicial de confronto armado apresentada pelos PMs. Todos os envolvidos estão detidos no Presídio Militar Romão Gomes, na zona norte da capital.
Investigações e laudos periciais concedidos ao Metrópoles mostram que as câmeras corporais do Cabo Torquatto capturaram momentos em que ele atirou duas vezes contra Igor, que estava rendido com as mãos levantadas.
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Policial atira contra Igor Oliveira enquanto jovem estava rendido e desarmado
Arquivo Pessoal
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Ação policial termina com um morto em Paraisópolis
Arquivo Pessoal
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Imagens gravadas por câmeras corporais mostram toda a ação policial
Arquivo Pessoal
Os primeiros tiros não atingiram Igor, mas logo depois, Renato disparou novamente, causando a morte do jovem.
“Ânimo homicida”
Denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) alega que Renato e Robson agiram com “ânimo homicida”. Robson também disparou sua espingarda logo após Igor ser atingido inicialmente.
Além de Renato e Robson, Hugo Leal e Victor Henrique participaram da abordagem e dispararam em um cômodo onde Igor foi atingido.
Um laudo pericial de balística destacou correspondências entre marcas em uma peça de roupa e no corpo da vítima, indicando que os projéteis eram da arma de Hugo Leal. A pistola de Victor Henrique também foi disparada durante a ação.
Perseguição e morte
A equipe das Rondas com Motocicletas (Rocam), composta por Renato, Robson, Hugo e Victor, realizava uma perseguição a suspeitos de tráfico de drogas. Supostos traficantes se esconderam em uma casa na Rua Rudolf Lotze.
A versão inicial falava de um confronto armado, mas as câmeras mostraram que Igor já estava rendido, afastando a hipótese de legítima defesa. O jovem foi encontrado morto, com dois disparos no tórax e um no pescoço.
A gravidade dos fatos resultou na prisão em flagrante de Renato e Robson por homicídio no dia 11 de julho. A Justiça também determinou suas prisões preventivas.
A denúncia contra os quatro policiais foi aceita pela 4ª Vara do Júri em 23 de julho, e um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado para investigar as condutas de Hugo e Victor.
Até o momento, a defesa dos policiais não foi localizada. O espaço está aberto para manifestações.
Paraisópolis lidera mortes por PMs
De acordo com uma reportagem especial do Metrópoles, Paraisópolis é a localidade com o maior número de mortes causadas por PMs na capital. A análise de 246 casos revelou que 85 pessoas foram mortas desarmadas, e 47 foram atingidas nas costas.
Das delegacias de São Paulo, a 89ª DP (Morumbi) possui a maior quantidade de casos, totalizando 14. Desses, cinco estão relacionados a Paraisópolis. Um deles, envolvendo a morte de um adolescente, levanta suspeitas sobre a veracidade do confronto alegado pelos PMs.
Os incidentes aconteceram nas ruas Herbert Spencer, Pasquale Gallupi e Ernest Renan, sendo esta última a mesma onde ocorreu um tumulto com a chegada dos PMs, resultando na morte de jovens.
Entre os 22 policiais que mataram mais de uma pessoa em 2024, cinco são do 16º Batalhão, que atua na região de Paraisópolis.
O que diz a PM
- Em relação ao número de mortes causadas pela corporação, a Polícia Militar afirmou que “não tolera desvios de conduta”, informando que desde o início da atual gestão, 463 policiais foram presos e 318 demitidos ou expulsos.
- A PM declarou que todas as mortes são investigadas com acompanhamento da Corregedoria e do Ministério Público.
- Comissões são formadas em todos os casos para identificar “não conformidades”.
- O comunicado finaliza afirmando que a gestão atual investe em formação contínua, capacitações e aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, como armas de incapacitação neuromuscular.
Essa situação levanta questões importantes sobre a atuação da polícia e a segurança na região. O que você pensa sobre esse caso? Deixe seu comentário e participe da conversa.
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