SALVADOR
De um passado rural a um polo de comércio e serviços, a Pituba teve sua história traçada por um planejamento urbano

A Pituba que conhecemos hoje não surgiu por acaso. Ao contrário de outros bairros de Salvador, sua formação resultou de um planejado desenvolvimento urbano que começou nos anos 1930. A região passou a contar com ruas amplas, um traçado geométrico e boa arborização.
O historiador Rafael Dantas destaca que a Pituba representa uma ruptura com o Centro Antigo de Salvador. “Pituba é um bairro que nasce planejado”, afirma.
Diferente do passado colonial português, a Pituba foi idealizada com inspirações modernas, apresentando ruas amplas e loteamentos organizados. Antes, a área era marcada por grandes fazendas e vegetação, com registros do século XIX a apontarem uma região rica em verde.

Parque Júlio Cesar | Foto: Cedoc A TARDE
Esse processo de transformação se alinhou a um movimento maior de reorganização urbana que outras capitais brasileiras vivenciaram nas primeiras décadas do século XX. Cidades como Belo Horizonte e São Paulo buscavam modernidade em seus espaços.
Foi Joventino Pereira da Silva quem, ao receber terras do cunhado Manoel Dias da Silva, teve a visão de transformar a Pituba em um bairro de alto padrão. Nos anos 1920, ele contratou o engenheiro Theodoro Sampaio para elaborar um plano urbanístico que foi aprovado em 1932, prevendo a abertura de dez vias paralelas ao mar e 15 transversais.
O projeto seguia os critérios do Plano de Desenvolvimento Urbano de Salvador, exigindo infraestrutura adequada como áreas verdes, vias públicas, abastecimento de água e energia elétrica.
Na mesma época, famílias e construtoras começaram a adquirir grandes terrenos, apostando na expansão de Salvador para o norte. Entre eles estava a família Odebrecht, que adquiriu terras que mais tarde se tornariam parte do Caminho das Árvores.

Avenida Magalhães Neto | Foto: Cedoc A TARDE
Pavimentação da orla
A transição de área rural para bairro urbano se consolidou na primeira metade do século XX, especialmente com a pavimentação da Avenida Octávio Mangabeira, em 1949. “Esse movimento foi muito importante para a Pituba, pois conectou os bairros da orla oceânica de Salvador”, explica Dantas.
Até o fim dos anos 1950, a região ainda mantinha coqueirais, pescadores e poucas construções, que eram em sua maioria casas amplas com quintais.
A urbanização acelerou a partir dos anos 1960 e 1970, com a implantação de equipamentos como o Colégio Militar de Salvador, o Clube Português, o Parque da Cidade e a Igreja de Nossa Senhora da Luz.

Praça Belo Horizonte – Pituba | Foto: Cedoc A TARDE
Na segunda metade da década de 1970, a Pituba se consolidou como uma área estratégica para a expansão urbana. A criação da “Zona Homogênea da Pituba” em 1976 definiu o bairro como ideal para empreendimentos voltados para as classes mais altas. A abertura de avenidas como Tancredo Neves, Magalhães Neto e Antonio Carlos Magalhães foi essencial para conectar a região ao novo crescimento da cidade.
Com a instalação do Terminal Rodoviário, do Detran e do Shopping Iguatemi, a área começou a se transformar em um novo centro financeiro, deslocando a centralidade econômica da cidade para a Pituba, Itaigara e Caminho das Árvores.
Esse crescimento foi impulsionado ainda mais pela nova dinâmica econômica trazida pela Refinaria Landulpho Alves e pelo Polo Petroquímico, que atraíram uma classe média com maior capacidade de compra para o bairro.
Conjuntos residenciais, como o Parque Júlio César, marcaram o início da verticalização, que se intensificou nas décadas de 1970 e 1980. “Com as primeiras avenidas e a chegada de grandes empreendimentos, a Pituba começou a se consolidar como um bairro moderno e integrado à cidade”, ressalta Dantas.
Ao chegar aos anos 2000, a requalificação da Praça Nossa Senhora da Luz e seus arredores visavam resgatar a centralidade social do bairro. Atualmente, a Pituba é uma área dinâmica, com uma alta concentração de habitação, comércio e serviços de saúde e educação, em sua maioria privados.

Bairro da Pituba | Foto: Cedoc A TARDE
LINHA DO TEMPO
SÉCULOS XVII e XVIII
Início do século XVII: A área já existia como fazenda, com uma capela e a imagem de Nossa Senhora da Luz, vinda de Portugal. As terras foram doadas a Dom Antônio Ataíde, passando posteriormente a seu filho José Félix, Barão do Rio Vermelho.
SÉCULO XIX
1881: Os herdeiros do Barão do Rio Vermelho vendem as terras ao português Manoel Dias da Silva, que nomeia a principal rua do bairro. A região era quase desabitada, com coqueirais e vilas de pescadores.
SÉCULO XX
Início dos anos 1920: Joventino Pereira da Silva recebe as terras do cunhado e planeja transformar a Pituba em um bairro de alta renda, encomendando o projeto ao engenheiro Theodoro Sampaio.
Segunda metade da década de 1920: Loteamento de terras e início da construção de casas de veraneio. A família Odebrecht compra terras que darão origem ao Caminho das Árvores.
1932: Aprovação do Plano Urbanístico de Theodoro Sampaio, com abertura de vias. A prefeitura aprova a Estrada da Pituba como Avenida Manoel Dias da Silva.
1949: Pavimentação da Avenida Octávio Mangabeira, impulsionando a urbanização.
1954: Começo da construção da Igreja de Nossa Senhora da Luz.
1959: Joventino Silva doa e vende terras que darão origem ao Parque da Cidade.
1960: Entrega da Igreja de Nossa Senhora da Luz.
1961: Inauguração do Colégio Militar de Salvador.
1963: Inauguração do Clube Português.
1968: Abertura da Avenida Tancredo Neves.
Fim dos anos 1960: Começo da verticalização do bairro.
Início dos anos 1970: Construção do Parque Júlio César.
1970: Abertura da Avenida Magalhães Neto.
1974: Implantação do Terminal Rodoviário de Salvador e do Detran-BA.
1975: Inauguração do Parque da Cidade e do Shopping Iguatemi, além da abertura da Avenida ACM.
1976: A Pituba é declarada Zona Homogênea.
Final da década de 70: A expansão urbana avança com a refinaria Landulpho Alves e o Polo Petroquímico.
Início dos anos 1980: Intensificação da verticalização. A Avenida Tancredo Neves torna-se o novo centro econômico.
1999: A Avenida Manoel Dias passa por reforma.
2001: Reurbanização do Parque da Cidade.
2012: Requalificação da Praça Nossa Senhora da Luz e seu entorno.
2014: Nova reforma e modernização do Parque da Cidade.
A partir de 2020: A Pituba se consolida como um bairro dinâmico, com alto comércio, serviços privados e densidade habitacional.
E você, o que acha da transformação da Pituba ao longo dos anos? Compartilhe sua opinião nos comentários e participe da discussão sobre esse bairro que é parte importante da história de Salvador.
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