Um novo estudo promete esclarecer a origem dos misteriosos relevos em forma de coroa na superfície de Vênus, conhecidos como coronae. Pesquisadores acreditam que um tipo de “teto de vidro” no manto do planeta poderia estar aprisionando calor e gerando correntes lentas, responsáveis por essas estruturas circulares.
“Em Vênus, há um padrão que está nos dizendo algo”, afirmou Madeleine Kerr, doutoranda do Instituto de Oceanografia Scripps, da Universidade de San Diego, e principal autora do estudo. “Acreditamos que o que encontramos é a chave para desvendar o mistério da origem dessas coronae.”

As “coroas” de Vênus
- Terra e Vênus são considerados “planetas gêmeos” devido às suas dimensões, densidade e distância semelhante do Sol, mas suas superfícies têm trajetórias evolutivas distintas;
- Em Vênus, a presença das coronae, que são únicas no Sistema Solar, representa uma das principais diferenças;
- Mais de 700 coronae já foram mapeadas no planeta, com diferentes dimensões e formas, e o desafio é entender sua origem, uma vez que Vênus não possui placas tectônicas e sua crosta é contínua;
- Pesquisas anteriores associaram as maiores coronae, com diâmetro acima de 500 km, a plumas do manto e processos tectônicos como subducção;
- Já as menores, com cerca de 200 km, eram relacionadas a plumas menores, semelhantes a bolhas em uma lâmpada de lava;
- Contudo, essas hipóteses não foram totalmente comprovadas.
David Stegman, professor de geociências na Universidade de San Diego e coautor do estudo, explicou que o conhecimento atual sobre Vênus é similar ao período pré-teoria das placas tectônicas nos anos 60. “Ainda não temos uma explicação unificadora que conecte a transferência de calor interno às formações tectônicas e magmáticas na superfície”, comentou.

O que diz a nova hipótese?
A nova pesquisa sugere que existe um limite a cerca de 600 km de profundidade, onde materiais frios que descem da crosta se encontram com materiais quentes que sobem do manto. Esse encontro forma uma barreira conhecida como “teto de vidro”.
Plumas menores não conseguem atravessar essa camada e se espalham lateralmente abaixo dela. Apenas as mais potentes conseguem alcançar a superfície e gerar grandes elevações vulcânicas. O material aprisionado abaixo dessa barreira permanece aquecido, mas sem derreter, funcionando como um reservatório de calor.
Segundo o artigo, essa camada de fluido quente, situada entre 600 e 740 km de profundidade, cria instabilidades térmicas de várias escalas, que não seguem exatamente os modelos clássicos de dinâmica do manto. Modelos computacionais da equipe mostraram que “gotejamentos” de rocha fria da crosta de Vênus podem iniciar um processo que gera múltiplas plumas de material quente.
Antes, os cientistas necessitavam partir de modelos que já incluíam essas plumas para simular a formação das coronae e dos vulcões. Agora, os novos cálculos apresentam uma explicação natural para o surgimento inicial desses fluxos de calor.

As simulações indicam que essas plumas secundárias, que sobem, derretem e depois afundam novamente, poderiam explicar a diversidade de coronae na superfície de Vênus. O modelo funciona quando o manto de Vênus está entre -23,1 °C e 126,8 °C mais quente que o da Terra, embora ainda não se saiba por quanto tempo essa condição pode ser mantida.
Os pesquisadores enfatizam a necessidade de mais estudos. As próximas etapas incluem simulações tridimensionais e a inclusão de processos de fusão, análise de diferentes composições do manto e a evolução do planeta ao longo da história.
Essas investigações terão um papel importante na compreensão de como o calor interno e os movimentos do manto moldam as coronae, vulcões e a superfície de Vênus. O que você acha dessas descobertas? Deixe sua opinião nos comentários!
Facebook Comments