Carnaval de Salvador para além dos trios elétricos: Escolas de samba já deram o tom da folia na capital baiana

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O Carnaval em Salvador é comumente visto através da lente dos trios elétricos e da animação típica dos foliões, mas a história das escolas de samba traz uma rica perspectiva que merece ser lembrada. Mergulhar nesse universo significa deixar de lado os abadás e explorar a celebração que marcava a festa na capital baiana antes da explosão do Axé Music.

As escolas de samba começaram a tomar forma no final da década de 50, inspiradas principalmente pelos modelos do Rio de Janeiro e do São Paulo. Mas não eram apenas cópias; elas fundiram essas influências com as tradições locais de Salvador, como as batucadas e os afoxés, criando uma vertente única de carnaval.

Como destacou a pesquisadora Caroline Fantinel, “essa fase das escolas de samba em Salvador foi um grande momento do Carnaval”. Em um contexto onde as pessoas ainda estão vivas para relatar essa história, as memórias coletadas pelo projeto “Memórias do Reinado do Momo” mostram que foi um esforço coletivo marcante, que durou mais de uma década.

As primeiras escolas de samba, como a Ritmistas do Samba, surgiram de um desejo de valorização do samba. Criada em 1957 por um grupo de dissidentes de uma batucada, essa escola buscou trazer mais organização e brilho para a festa. Enquanto as batucadas se apresentavam em fileiras, as escolas de samba introduziram uma nova estrutura, com alas e sambas-enredos.

No período de 1950 a 1975, Salvador abrigava 25 escolas de samba ativas, cada uma contribuindo para o mosaico cultural da festa. No entanto, ao longo das décadas, o foco central do Carnaval começou a mudar. A popularização dos trios elétricos, com sua sonoridade amplificada e o apelo à participação ativa do público, ofuscou a presença das escolas de samba, que passaram a ter uma função secundária na festa.

O que era um cenário vibrante na década de 60, com escolas de samba sendo destaque nas capas dos jornais, se transformou. O público desejava uma experiência mais imersiva, e os trios elétricos proporcionaram isso ao levar multidões para dançar atrás dos caminhões. A falta de financiamento e apoio das autoridades municipais também contribuiu para a diminuição da relevância das escolas de samba no Carnaval.

Atualmente, a proposta de um sambódromo em Salvador levanta discussões sobre a valorização do samba e das escolas de samba. Em setembro de 2025, a Câmara Municipal aprovou a criação de um espaço para essas apresentações. Porém, a pesquisadora Caroline Fantinel alerta que é fundamental ouvir os sambistas sobre suas necessidades. Um espaço sem esse diálogo pode não atender às expectativas e necessidades da cidade.

Para os representantes das atuais escolas de samba de Salvador, há uma necessidade clara de não apenas preservar a tradição, mas também de profissionalizar a produção cultural. A ideia é que esses espaços sirvam para além do Carnaval, garantindo a sustentabilidade e o crescimento das agremiações.

A história das escolas de samba em Salvador é rica e repleta de nuances. Embora um retorno completo aos dias de glória pareça improvável, há espaço para novas propostas e a reinvenção das tradições. Que tal compartilhar sua opinião sobre o papel das escolas de samba no Carnaval atual? Sua voz é importante neste debate cultural.

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