No 1º DP de Guarulhos, Ana Paula Veloso Fernandes, de 36 anos, prestou depoimento após sua prisão em 7 de setembro por suspeita de envenenar quatro pessoas. Ela admitiu envolvimento em dois casos e explicou o contato que manteve com as vítimas antes dos homicídios.
O interrogatório, que durou mais de três horas, foi obtido pelo Metrópoles. O conteúdo revela recursos usados por Ana, como um aplicativo que mudava sua voz para a de um homem, que ela utilizou para desviar o foco das investigações. Além disso, mencionou um suposto ritual com sangue de galinha após uma das mortes.
Ana Paula está presa preventivamente, assim como sua irmã gêmea, Roberta Cristina Veloso Fernandes, que também foi indiciada por envolvimento nos quatro homicídios. Roberta nega todas as acusações.
Outro ponto importante é a prisão de Michele Paiva da Silva, que teria contratado as gêmeas para matar o próprio pai, Neil Corrêa da Silva, em 26 de abril no Rio de Janeiro. Ela foi detida em território fluminense e é mantida em cela separada de Roberta. Após 60 dias em Guarulhos, Ana foi transferida para a penitenciária feminina de Santana, na zona norte de São Paulo.
Durante seu depoimento, Ana, acompanhada de seu advogado, detalhou sua viagem ao Rio e como se posicionou para evitar que testemunhas interferissem no envenenamento de Neil, o qual acompanhou até sua morte.
Ana e Roberta negociaram um valor com Michele para o assassinato, conforme mensagens interceptadas pela polícia. Ela chegou a se desentender com Roberta sobre a divisão do dinheiro, que, segundo Ana, viria de pagamentos por TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso), um código usado para se referir aos homicídios.
“Estou com o valor em espécie, peguei”, teria escrito Ana, ao que Roberta respondeu: “Michele [filha de Neil] te deu o dinheiro e você está guardando só pra você”.
Além disso, Ana utilizou um aplicativo para alterar sua voz com o intuito de enviar mensagens a quem estava ligado às vítimas, tentando incriminar outras pessoas. Ela chegou a se passar por um policial militar, com quem alegava ter um relacionamento, para atribuir um dos crimes a ele.
Após acompanhar a morte de Hayder Mhazres, uma outra vítima, Ana pediu a Roberta que conseguisse sangue de galinha para realizar um ritual, sem explicar a motivação ou se chegou a concretizá-lo.
As quatro vítimas das gêmeas do crime
- Marcelo Hari Fonseca – encontrado morto em 31 de janeiro, em Guarulhos. Ana teria envenenado os alimentos após desentendimentos, visando controlar o imóvel onde morava.
- Maria Aparecida Rodrigues – morreu entre 10 e 11 de abril, em Guarulhos. O crime ocorreu para incriminar o ex-amante de Ana.
- Neil Corrêa da Silva – morto em 26 de abril, no Rio de Janeiro, após ingestão de feijoada envenenada. O homicídio foi supostamente encomendado por Michele, também presa.
- Hayder Mhazres – morto em 23 de maio, em São Paulo. Ana teria oferecido bebida adulterada após um encontro via app, motivada por vantagens financeiras.
As investigações apontam que Roberta ajudou a ocultar provas, com depoimentos indicando que ela queimou um sofá onde o corpo de Marcelo foi localizado.
De acordo com o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, devido à gravidade das evidências digitais, todos os casos foram centralizados em Guarulhos.
Entraves e próximos passos da investigação
Ana está presa desde 4 de setembro e foi qualificada como “verdadeira serial killer” devido ao planejamento e à dissimulação nos crimes. Roberta também está detida e responde a inquérito para aprofundar sua participação.
A polícia planeja realizar exumações, perícias toxicológicas e apreensões de dispositivos de comunicação para identificar possíveis cúmplices na série de assassinatos.
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