A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou uma megaoperação, na manhã desta quinta-feira, que revelou um esquema de corrupção e fraudes no Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF). Coordenada pela 18ª Delegacia de Polícia em Brazlândia, a ação cumpriu 45 mandados de busca e apreensão em diversas regiões do DF e no Entorno.
Cerca de 120 policiais estiveram envolvidos na operação, que visou servidores públicos e empresários do setor automotivo. Segundo as investigações, que se estenderam por um ano, dois servidores do Detran eram os principais articuladores do esquema, emitindo Autorizações de Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV-e) sem checar a documentação necessária. O pagamento de R$ 150 por processo facilitava a prática.
A investigação, chamada de Wrong Way — que significa “caminho errado” — apontou que, em quatro anos, centenas de transferências irregulares foram realizadas, beneficiando pelo menos 36 empresários de 15 empresas de compra e venda de veículos usados. Essas empresas atuavam como despachantes informais, prometendo a entrega dos carros já transferidos, sem que os clientes precisassem ir ao Detran.
Movimentações suspeitas
As buscas ocorreram em 13 regiões, incluindo Cidade do Automóvel, Taguatinga e Águas Claras. O delegado-chefe da 18ª DP, Fernando Cocito, explicou que os servidores usavam suas credenciais para fraudar o sistema, burlando regras em troca de pagamento por serviços ilícitos.
Durante a operação, documentos, computadores e celulares foram apreendidos para perícia técnica. Em março, uma primeira fase da operação já havia identificado transferências fora das dependências do Detran, levando ao afastamento dos servidores investigados. Os levantamentos também revelaram movimentações bancárias incompatíveis com os salários dos servidores, com alguns valores superando dez vezes a renda mensal.
Indícios de lavagem de dinheiro foram encontrados, incluindo tentativas de esconder a origem ilícita dos recursos. A perícia confirmou que senhas funcionais foram compartilhadas irregularmente, permitindo acesso indevido ao sistema do Detran.
Esquema articulado
O funcionamento do esquema era coordenado: empresários e intermediários enviavam dados e documentos, frequentemente falsos, aos servidores, que realizavam as transferências diretamente. Em troca, recebiam pagamentos fixos por cada operação. A investigação aprofundada revelou mais um servidor envolvido e identificou os empresários que pagavam pela atuação ilícita.
A operação resultou de um trabalho minucioso que incluiu o cruzamento de dados administrativos, bancários e digitais, além de depoimentos de testemunhas e suspeitos ao longo de 12 meses. Com as provas reunidas, a 18ª DP obteve novos mandados de busca e apreensão, assegurando também a suspensão das funções dos servidores e o bloqueio de bens para garantir o ressarcimento dos danos causados.

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