“Aqui só se fala a verdade, somente a verdade. Doa a quem doer”. Esse era o lema do repórter policial Mário Eugênio Rafael de Oliveira, assassinado por policiais no estacionamento da Rádio Planalto, em Brasília, na noite de 11 de novembro de 1984. Naquela época, o Brasil enfrentava os horrores da ditadura militar.
Natural de Comercinho, Minas Gerais, Mário denunciou um grupo de extermínio composto por policiais e militares, responsável pela morte de um dono de chácara em Luziânia, uma cidade próxima ao Distrito Federal. Essa denúncia custou sua vida, marcando a história do jornalismo brasileiro.
Mário foi atacado com uma facada na nuca e tiros de uma espingarda calibre 12 e um revólver calibre 381, resultando em danos irreparáveis ao seu crânio.
O inquérito indicou sete suspeitos envolvidos no crime, todos denunciados pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). Apesar disso, muitos cumpriram penas mínimas e responderam em liberdade. Entre os condenados, estavam o ex-secretário de Segurança Pública do DF, coronel Lauro Melchiades Rieth, e o delegado Ary Sardella, chefe da Delegacia Especializada da Polícia Civil do DF (PCDF).
O coronel Rieth, crítico frequente de Mário e acusado de outros crimes, foi um dos mandantes do assassinato. Ele admitiu que militares estavam envolvidos e desafiou Mário a publicar a verdade. Curiosamente, a filha de Rieth recebe uma pensão militar de R$ 35 mil desde outubro de 2018, prazo que sugere que ele faleceu sete anos antes.
Ary Sardella, agora com 88 anos, recebe mais de R$ 30 mil mensais. Após se aposentar, ele se dedicou ao tiro esportivo e chegou a ser conhecido como “O mestre do tiro”. Enquanto estava ativo, ele passou a dar aulas, mantendo um estilo de vida confortável.
Além de Sardella, outros agentes estão envolvidos. O ex-sargento Antônio Mortari, que recebeu uma pensão militar de R$ 2.837,87, e os cabos David Antônio do Couto e Aurelino Silvino de Oliveira, condenados, mas que também gozam de certa liberdade.
Entre os participantes do crime, Divino José de Matos, conhecido como Divino 45, recebeu uma aposentadoria de R$ 4,7 mil, enquanto Iracildo José de Oliveira faleceu em 1999 e Aurelino Silvino de Oliveira permanece sem informações sobre sua situação atual.
Participantes do crime
- Divino José de Matos (Divino 45): matou Mário Eugênio e foi condenado a 14 anos. Cumpriu pena em liberdade após parecer favorável ao indulto em 2010.
- Antônio Mortari: condenado a 27 anos por seu envolvimento, mas liberado em 2019. Em 2015, recebeu outra condenação de 23 anos por latrocínio.
- David Antônio do Couto: fugiu do local do crime e cumpriu pena mínima, em liberdade atualmente.
- Iracildo José de Oliveira: condenado a dois anos e meio, faleceu em 1999.
- Aurelino Silvino de Oliveira: envolvido nas tentativas de encobrir o crime, sua situação atual é desconhecida.
- Moacir de Assunção Loiola: suspeito de participação e faleceu um ano após o crime.
Com as aposentadorias e pensões, o governo do Distrito Federal e da União gasta mais de R$ 70 mil mensalmente em relação a essas pessoas. A morte de Mário, embora esquecida por muitos, permanece registrada em arquivos do MPDFT e do TJDFT. Durante o período da ditadura militar, 25 jornalistas foram dados como mortos ou desaparecidos, evidenciando o clima de repressão da época.
A reportagem tentou contato com a Polícia Civil do DF e o Sindicato dos Delegados, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestações sobre o assunto.
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