Família Bolsonaro ainda manda na direita (por Leonardo Barreto)

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O lançamento da candidatura de Flávio Bolsonaro foi interpretado — em parte pela própria família — como um movimento de barganha que buscava anistia em troca do apoio de um nome do Centrão. Essa leitura, no entanto, tende a ser dissipada à medida que o senador ganha notoriedade e sua mobilização nas redes se intensifica, tornando-o mais viável no jogo político.

A impressão inicial está se chamuscando, abrindo espaço para uma leitura distinta: o efeito concreto é o crescimento da percepção de que a família Bolsonaro ainda comanda uma parte significativa do eleitorado não lulista, mesmo com a distância de outras forças. A rapidíssima mobilização em torno do nome valoriza a possibilidade de Flávio entrar na disputa com força.

A velha máxima de que uma minoria mobilizada pode dominar uma maioria desmobilizada resume o dilema da chamada terceira via: buscar o isento como combustível para uma candidatura, sem conseguir acioná-lo de forma suficiente.

Em um cenário fortemente polarizado, quem aparece na frente costuma ser quem domina os polos. A demanda por um candidato “de fora” persiste, mas a oferta não segue por esse caminho, levando a especulações sobre o que realmente pode acontecer na frente de batalha eleitoral.

Faz sentido, no longo prazo, Flávio Bolsonaro — que hoje chega a quase 30% de apoio — ceder a liderança da chapa a alguém com cerca de 10%? A dúvida acompanha a leitura sobre quem consegue agregar de fato esse núcleo de apoio sem abrir mão de uma base sólida.

Há tempos se sabe que a direita bolsonarista e a direita de centro enfrentam um dilema de atuação coletiva: a desconfiança entre as partes e o foco no próprio interesse freiam a cooperação, justamente quando um ganho comum seria possível.

A família Bolsonaro desejava anistia para permitir que Jair Bolsonaro pudesse emprestar ou não o seu capital político a um nome do Centrão. Enquanto isso, os partidos defendiam uma lógica contrária: primeiro apoio, depois indulto.

A aposta do Centrão é que a prisão possa demonstrar à família o custo de manter o ex-presidente em jogo caso Lula permaneça até 2026. Em uma linha extrema, o grupo até sinalizou que Bolsonaro conseguiria viver bem em um cenário de “Lula 4”, enquanto Lula, afinal, não.

Mas Bolsonaro tem sua própria visão de mundo e acabou lançando Flávio. Se o anúncio foi negociação ou estratégia real pouco importa agora; o fato concreto é que ele mostrou que a família ainda detém boa parte do eleitorado não lulista.

O que se observa é que, se o nome de Flávio começar a mostrar competitividade — dada a dinâmica entre polos — o cenário tende a se consolidar independentemente dos protagonistas. Além disso, surge a pergunta sobre a capacidade do Centrão de se manter competitivo com seus próprios recursos.

Alguns apontam que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, poderia ter chances, mas quem seria seu padrinho dentro do jogo político para romper com Bolsonaro? A realidade é que o sistema não cria sozinho uma liderança viável; historicamente, o Congresso reluta a apoiar Lula, Dilma, Bolsonaro e, hoje, Flávio, mantendo uma dificuldade crônica de encontrar um rumo central capaz de unificar a oposição.

Sem liderança de centro, a polarização tende a ditar o ritmo da próxima eleição. Lula e Flávio parecem ocupar rapidamente os papéis centrais, enquanto outras combinações se tornam menos prováveis, observadas como parte de um processo de mudanças na formação de realidades políticas.

Como você vê esse quadro? Deixe sua opinião nos comentários e compartilhe sua leitura sobre o papel de Flávio Bolsonaro, do Centrão e a direção da eleição de 2026.

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