GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – Após mais de um mês de guerra no Leste Europeu, o número de pessoas que deixaram a Ucrânia para fugir do conflito chegou a 4 milhões, mostram dados divulgados pelo Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) nesta terça (29). A cifra representa cerca de 9% do total da população do país, estimada em 44 milhões de pessoas.
A gravidade da crise migratória, considerada a maior desde a Segunda Guerra Mundial, é evidenciada se levadas em conta as mais de 6,5 milhões de pessoas que, ainda segundo a ONU, tiveram de se deslocar internamente para sair de regiões ameaçadas. Ou seja: a cada quatro habitantes da Ucrânia, ao menos um já teve de deixar sua casa desde 24 de fevereiro, quando teve início a invasão capitaneada pela Rússia.
O fluxo diário de pessoas que deixam o país, no entanto, vem diminuindo. A União Europeia (UE) informou que, após um pico em que seus países-membros, juntos, chegaram a receber 100 mil refugiados ucranianos por dia, agora a média caiu para cerca de 40 mil. O bloco, principal destino dos que fogem da guerra, vê-se desafiado frente a mais uma onda migratória que não dá indicativos de cessar.
Como deixar a Ucrânia tornou-se um desafio, com cidades sitiadas e desrespeito a corredores humanitários, e o único meio de fazê-lo é por terra, os principais destinos dos que emigram seguem sendo os países vizinhos, com destaque para a Polônia. O país, membro da UE, recebeu até aqui 2,3 milhões de refugiados.
Autoridades polonesas, outrora conhecidas por se recusarem a receber refugiados, têm demonstrado postura diferente frente à crise humanitária em um país vizinho e acolhido os imigrantes, ainda que comecem a esboçar preocupação com o fluxo crescente de ucranianos que entram no país -alguns com o desejo de estabelecer residência, e outros em busca de emigrar para outra nação.
Levantamento divulgado pelo Acnur nesta quarta-feira (30) traçou um perfil da massa de ucranianos que ingressam na Polônia. A pesquisa, que de 9 a 28 de março conversou com 215 pessoas em dois campos de acolhimento, mostrou que 88,4% dos refugiados são mulheres e 82,3% têm idades entre 18 e 64 anos. Em relação a religião, 63,7% disseram-se católicos, enquanto 23,7% afirmam ser ortodoxos.
O levantamento mostra ainda que a principal demanda apresentada pelos respondentes é o apoio econômico (16%). Afinal, 37,1% deles disseram estar desempregados, enquanto 17% são aposentados. Quase metade das pessoas disseram que têm como objetivo retornar para a Ucrânia assim que for possível, e outros 29% afirmaram não saber o que planejam para o futuro nesta altura do conflito.
Com as cifras crescendo dia a dia, a UE busca traçar planos para promover o acolhimento dessas pessoas. Países como a Alemanha já assumiram postura crítica, pedindo que os refugiados sejam distribuídos de forma mais igualitária entre os países europeus.
A política de cotas, modelo adotado durante a crise de refugiados observada em 2015 para obrigar países relutantes a aceitar imigrantes, foi rechaçada até aqui. Em contraponto, as lideranças europeias dizem que é preciso uma política ancorada na solidariedade regional.
Maior país da UE, com mais de 80 milhões de pessoas, a Alemanha diz ter registrado mais de 270 mil refugiados ucranianos até o momento. A França, segundo maior do bloco, por sua vez, afirma ter registrado 30 mil. Já a Espanha fala em 25 mil, e a República Tcheca em 300 mil.
O Reino Unido, onde a política inicial de acolhimento aos refugiados criou um mal-estar para o governo do premiê Boris Johnson, informou nesta quarta que já emitiu 25,5 mil vistos para ucranianos desde o início da guerra, e que o total de pessoas inscritas para pleitear um visto no país chega a quase 60 mil.
Na última semana, a UE lançou um pacote conjunto de dez pontos para coordenar a ação dos países-membros no recebimento de ucranianos. A lista, com poucas medidas de impacto imediato e mais promessas de organização, diz, entre outras coisas, que serão traçadas orientações para o acolhimento de crianças e um plano de combate ao tráfico de pessoas.
Crítico, o governo alemão lamentou o fato de o pacote não ter caráter vinculativo -ou seja, ter de ser obrigatoriamente cumprido pelos países-membros. A ministra do Interior do governo do premiê Olaf Scholz, Nancy Faeser, disse que em algum momento as normas deverão ser obrigatórias. “Quanto mais refugiados vierem, maior será o desejo de uma distribuição equilibrada e obrigatória”, afirmou.
A comissária de saúde da UE, Stella Kyriakides, afirmou recentemente que um plano está sendo traçado para comprar e distribuir vacinas contra doenças como sarampo, poliomielite, tuberculosa e, é claro, Covid-19, para imunizar refugiados ucranianos, com prioridade para as crianças, e, assim, minimizar os riscos de novos surtos nos países que acolhem esses imigrantes.
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