Simone retorna essencial em álbum que reverencia o Nordeste

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Da Gente é o 42º álbum da cantora

Ao telefone, Simone diz que está muito “féliz” – assim, com a letra “e” bem aberta – com seu novo álbum, Da Gente, que chegou nesta sexta-feira às plataformas de música. E o sotaque, que ela faz questão de manter mesmo morando fora da Bahia há 48 anos, tem tudo a ver com este que é o 42º álbum da cantora.

Explicamos: é que o disco, que começou a ser esboçado na cabeça dela há mais ou menos dez anos, é uma homenagem aos ritmos e aos compositores e compositoras nordestinos.

“Há vários ‘brasis’ dentro do Brasil e o Nordeste é um deles. Há várias culturas no país e temos influências distintas. O próprio sotaque é uma delas. E até o abecedário: no Nordeste, as letras são ‘mê’, ‘nê’, ‘rê’…”

Longe dos estúdios desde 2013, quando lançou ?? Melhor Ser, Simone não quis voltar a gravar enquanto não fosse para realizar o desejo de festejar suas origens. O projeto de fazer um disco marcado pela regionalidade rondava a cabeça dela há mais ou menos dez anos, mas era um tanto diferente do atual. ?? que, naquela época, muitos compositores nordestinos que estão em Da Gente talvez nem tivessem começado a carreira.

A maioria é gente revelada há pouco tempo, como os pernambucanos Isabela Moraes e Martins e a baiana Joana Terra, que lançou seu primeiro álbum há apenas três anos. Tem veteranos, é verdade, como Zeca Baleiro, e outros que são da geração de Simone, como Fagner e Cátia de França.

Uma das responsáveis por essa ponte com a nova geração foi Zélia Duncan, com quem Simone gravou o CD e DVD Amigo ?? Casa – Ao Vivo, em 2008. A baiana diz que confia na amiga de olhos fechados e por isso ela assina a direção artística. A direção musical é de Juliano Holanda, pernambucano que assina duas composições do álbum e foi através de Zélia que Simone o conheceu.

Juliano é o autor da faixa que abre o lançamento, Haja Terapia.

“?? um soco no peito, que fala do fatiamento do tempo, da finitude… A música chamou muito a minha atenção, não só pelo fator pandemia que a gente ainda está vivendo. Ela cria imagens fantásticas”, diz, entusiasmada.

E Simone tem razão: a letra de Juliano toca fundo, assim como a melodia. “Mas há algo de flor e de asfalto nesses tempos encardidos/ A peça já está no seu terceiro ato e os atores estão bem perdidos/ Não sei em que altura da estrada a gente perdeu a poesia”, diz a letra.

Tudo funcionou tão bem entre Simone, Zélia e Juliano, que as gravações foram em tempo recorde: apenas dez dias. Até para evitar muito contato durante a pandemia. A cantora, por sinal, fez questão de dizer durante a entrevista, uma quatro ou cinco vezes, que todos estavam vacinados quando começaram a se encontrar. A agilidade na gravação aconteceu também graças aos músicos Webster Santos (violões) e Rapha B (bateria, udu, clave e ganzá), além do polivalente Juliano, que tocou baixo e violão de aço.

 Zélia e Juliano foram responsáveis também pela inclusão de Nua, um poema do português Tiago Torres da Silva musicado pela cantora. Graças à insistência da dupla, Simone acabou cedendo. “Sou compositora bissexta, tenho pouquíssimas músicas, mas tenho parceiros respeitadíssimos. Compus com Hermínio Bello de Carvalho, Abel Silva, Fernanda Montenegro…”.

Juliano e Zélia também tomaram uma decisão que foi fundamental para deixar o álbum mais “limpo”, o que deu mais evidência à bela voz de Simone: eles decidiram excluir piano e teclado das gravações. E a cantora, que pela primeira vez cantou sem esses instrumentos, diz não ter sentido falta. “Se sentisse, eu pediria para incluir. Mas não me senti desamparada. Era um disco em que a gente queria minimalismo”, revela a Cigarra.

E essa sonoridade mais “limpa” fez um bem danado a Simone, que, apesar de quase uma década longe dos estúdios, voltou muito bem. Os excessos de alguns álbuns anteriores deram lugar a uma roupagem quase antagônica e, como diz ela, Da Gente “respeita espaços e silêncios”. ?? candidatíssimo a uma dos melhores álbuns de sua carreira, que completa 50 anos em 2023.

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