Ao lado da Vale, a BHP controla a Samarco, mineradora responsável pela barragem. Após uma semana de argumentações na corte, cabe aos magistrados decidirem em algumas semanas se a companhia pode ser julgada no país pela destruição que a ruptura do barramento trouxe à Bacia Hidrográfica do Rio Doce, entre Minas Gerais e o Espírito Santo. A indenização seria de cerca de 5 bilhões de libras (R$ 31 bilhões).
Por outro lado, os advogados dos atingidos, do escritório internacional PGMBM, mostraram que, mais de seis anos depois do rompimento, não há em curso um processo indenizatório que abranja as vítimas no Brasil e possibilite uma total compensação.
CIDADES EM ESPERA
Na Inglaterra, o prefeito de Mariana, Juliano Duarte, planeja investimentos de curto e logo prazos com a verba que pode ser conquistada caso o processo seja aceito e julgado no Reino Unido.
???Vejo que Mariana chegaria a um outro patamar. Gostaria de priorizar alguma áreas, como o nosso sistema de abastecimento e distribuição de água da cidade e o tratamento de 100% do esgoto do município???, afirma o chefe do Executivo municipal.
Juliano afirma que também prioriza projetos habitacionais e a criação de um fundo de investimento para depositar recurso.
???Gerenciado esse fundo, com os lucros podemos financiar políticas públicas. ?? importante implementar ações urgentes, mas é igualmente importante pensar no futuro. Um fundo seria muito interessante para garantir esse poder de invesimentos???, afirma.
???As coisas caminham bem na corte do Reino Unido, ao contrário do Brasil, onde não se tem uma perspectiva de reparação. Foi um trabalho que começou no passado (2018) com o ex-prefeito de Mariana, Duarte Júnior ??? irmão de Juliano, e agora estamos unidos com os prefeitos da bacia hidrográfica. Sabemos que se a ação for aceita na Inglaterra teremos uma chance maior de justiça, já que no Brasil as questões caminham muito aquém das necessidades dos atingidos. O reconhecimento trará benefícios não apenas a Mariana, mas a todos os municípios afetados, pessoas físicas e jurídicas. Temos de reconhecer e parabenizar os advogados desta causa, pois até aqui fizeram um brilhante trabalho???, considera o prefeito.
“Tivemos um prejuízo imensurável. Pegou-nos de surpresa, nem acreditava que a lama chegasse. Psicologicamente, foi duro. Muitos pescadores vendo os peixes e o rio de onde tiravam o sustento morrendo. Hoje, estamos esperançosos. A ação no Reino Unido é uma oportunidade única para trazer a reparação para a comunidade. Não estamos na Inglaterra atrás de dinheiro. Estamos atrás de justiça, que não temos no Brasil. O dinheiro é importante para trazer alento para a região. Somos de uma região pobre, nosso município é muito carente, temos muitos habitantes que são pessoas humildes???, definiu o prefeito.
???Foi um trabalho duro, uma longa estrada até aqui. Fortalece a esperança de que os atingidos sejam enfim ouvidos, nem que seja fora do Brasil. Essa ação é um marco para nós, um divisor de águas. Se conseguirmos a decisão de que a BHP poderá ser processada no Reino Unido, tudo vai mudar. Chegaremos, enfim, muito próximos da indenização. Uma resposta justa às pessoas que sofreram com o rompimento da barragem e permanecem sofrendo com a injustiça???, considera.
PRESS??ES
Um dos sócios do escritório PGMBM, Tomás Mousinho se disse confiante e que o objetivo é garantir que qualquer indenização aos clientes seja justa, permitindo que as pessoas prossigam com sua vida, que ainda está sendo afetada pela tragédia.
“Estamos extremamente confiantes no sucesso da ação, principalmente depois da decisão de reabertura, que já foi histórica. Esse caso é um dos maiores da história do Judiciário do Reino Unido e ele é um caso brasileiro, é de autores brasileiros, no qual o direito brasileiro material está sendo aplicado”, observa.
“Nossos clientes têm reclamado que lhes foi proposto concordar com uma chamada ???cláusula de quitação integral??? em relação à ação inglesa quando eles não têm certeza se a indenização que podem receber no Brasil é proporcional às perdas que buscam ver indenizadas na Inglaterra. Também não está completamente claro para nós quão válidas são certas cláusulas de quitação. Seria uma matéria a ser decidida pela corte inglesa”.
O QUE DIZ A RENOVA
Por meio de nota, a Fundação Renova informou que permanece dedicada ao trabalho de reparação, propósito para o qual foi criada.
???Cerca de R$ 20,01 bilhões foram desembolsados nas ações de reparação e compensação pela Fundação Renova até fevereiro de 2022. As indenizações e auxílios financeiros emergenciais (AFEs) pagos a atingidos de Minas Gerais e do Espírito Santo chegaram a R$ 8,74 bilhões, para mais de 368,4 mil pessoas???, informa.
???Também foi concluído o repasse de R$ 830 milhões para os estados de Minas Gerais e Espírito Santo e 38 municípios para investimentos em educação, infraestrutura e saúde. Neste ano, o orçamento previsto da Fundação é de R$ 10,4 bilhões, sendo destinados mais R$ 5,4 bilhões para indenizações e R$ 1,79 bilhão para os reassentamentos???.
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