�? uma combinação infernal. De longe, Bolsonaro é o mais despreparado presidente da história do Brasil pós-ditadura de 64. A rigor, o mais despreparado dos presidentes, incluídos os generais que governaram entre 1964 e 1985.
Todos os governantes mentem, sejam de direita ou de esquerda. Os da ditadura mentiram ao negar que houvesse tortura e assassinato de presos políticos; Lula, ao dizer que o mensalão do PT jamais existiu. Dissera antes que fora traído pelos mensaleiros.
Outra vez, de longe, Bolsonaro é o maior mentiroso de todos. Mente sério, mente sorrindo, mente diariamente, e não distingue entre os públicos para os quais mente. Mente para os mais toscos dos seus devotos, assim como para os mais refinados ouvidos.
Ele costuma recorrer a um dos mais comuns truques dos mentirosos amadores ou profissionais, e até mesmo das crianças que instintivamente se valem dele para escapar da punição: a generalização da culpa. Jogue a primeira pedra quem não o faz.
Mas há uma diferença, uma enorme diferença entre quem é homem público e ainda por cima governante, eleito para um posto tão elevado como o que Bolsonaro ocupa, e quem não é. A mentira dita pelo homem público causa severos danos aos que a escutam.
Por mais de ano desde que a Covid-19 começou a matar por aqui, e ainda não parou de matar, Bolsonaro receitou drogas ineficazes para combatê-la. Foi por engano? Por estar mal informado? Até hoje, ele não bateu no peito em sinal de arrependimento.
Mentiu sobre a cloroquina e outras drogas porque o importante era salvar a economia, vidas, não. Como se a economia pudesse ser salva à custa de milhares de vidas. Sente-se culpado por parte das mais de 666 mil mortes? Sequer admite uma nesga de culpa.
Joga a culpa no vírus no Supremo Tribunal Federal que o teria impedido de combatê-lo (mentira), e em governadores e prefeitos que o combateram da forma errada (mentira). Se todos são culpados, não há culpados. Porque se todos são ninguém é.
No último sábado, em Manaus, Bolsonaro afirmou que os �??momentos difíceis�?� vividos pelo país estão chegando ao fim, e que �??os problemas estão no mundo todo, na política e na economia�?�, e que não há um responsável por isso. Se não há, ele tampouco.
Da mentira, saltou para o ataque aos adversários. Porque o ataque é melhor do que a defesa:
�??A parte material, brevemente, se regularizará em nosso país. Agora vem a questão espiritual. Nós sabemos o que o outro lado quer fazer. [�?�] Não aceitamos o comunismo ou o socialismo. Nós daremos a nossa vida pela nossa liberdade.�?�
O medo é um grande eleitor. Os militares, mas não só, usaram o medo do comunismo para dar o golpe que salvaria a democracia. Nos 21 anos seguintes, a democracia foi suprimida. O comunismo não existe mais como perigo nem mesmo na Rússia, onde nasceu.
Bolsonaro tenta ressuscitá-lo como uma ameaça para enganar seus adeptos e garantir o apoio dos militares à sua candidatura. Se for bem-sucedido, a culpa será de todos os que acreditaram nele. Quer dizer: não será de ninguém, Não cabem todos no banco dos réus.
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