Reconhecimento para valorizar o patrimônio, destacar décadas de educação e enaltecer a história da capital. Em reunião a ser realizada hoje (3/8), o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH) avalia o possível tombamento do prédio do Colégio Pitágoras Cidade Jardim, localizado na Avenida Prudente de Morais, 1.602, na Região Centro-Sul.
Como se trata de uma reunião para ??análise e deliberação do dossiê de tombamento do bem cultural?, conforme a Fundação Municipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte, as autoridades preferem não se manifestar ainda sobre o assunto. Mas, para quem estudou no colégio, o momento é de comemoração antecipada.
??Decisão importantíssima, pois o patrimônio deve ser sempre valorizado. O prédio tem uma arquitetura bonita e guarda muita história?, diz a empresária Josette Condurú Davis, que, na década de 1960, cursou ??o ginásio e dois anos do científico?, hoje ensino médio, no Sacre Coeur de Jesus, que funcionava inicialmente no endereço, e o último ano, período de transição, já no Pitágoras. ??Nosso uniforme, no ginásio, era saia plissada e gravatinha, depois passou para calça azul e blusa branca. Quando mudamos para o Pitágoras, era da cor ocre, mas pedimos à direção para manter o antigo uniforme. E concordaram?, recorda-se Josette.
No colégio das freiras, onde estudavam apenas meninas, o idioma era francês, e com o tempo, entrou em vigor o português. ??Até hoje, temos um grupo de ex-colegas, sempre nos encontramos, ficamos amigas. Para se ter uma ideia das transformações no bairro, a entrada do colégio era pela Rua Iraí. Na Prudente de Morais passava o córrego a céu aberto, tinha mata fechada?, conta a empresária, dona de uma admiração especial pela Capela Mater, em homenagem a Nossa Senhora.
??Quando completei 50 anos, fiz questão de erguer uma capela, com a mesma devoção, na minha fazenda na Serra do Cipó. Era um momento na minha vida que pedia algo também especial?, conta Josette, que tem três filhos e é casada com o empresário Jorge Davis, a quem conheceu no último ano do ensino médio. “Ele ia buscar os irmãos”, conta.
A dentista Luciana Parreiras de Freitas França, casada e mãe de um casal, também aplaude o possível tombamento do prédio do colégio, que fechou as portas no ano passado, por ??ele fazer parte da história da educação, enriquecer o patrimônio cultural e ser um bem de toda a nossa cidade?.
Luciana estudou por mais de uma década no Pitágoras Cidade Jardim, dos 6 aos 17 anos, quando terminou o ensino médio e entrou na universidade PUC Minas. ??A escola sempre nos traz boas lembranças, dos colegas, professores e coordenadores. O Pitágoras tinha uma proposta diferente, era um ensino moderno?, conta.
O empreendedor Rafael Campos Barbosa de Castro, de 23, que mora em prédio ao lado do colégio onde estudou dos 9 aos 16, também defende a preservação. “Passei aqui, portanto, a maior parte da minha adolescência. Vidas escolar e social, futebol com os colegas, festinhas de 15 anos, um tempo bom. Um prédio assim deve ser preservado e abrigar, sempre, algo de bom para a sociedade”, disse Rafael.
Mais de 70 anos e muita memória
A história da construção começou há 72 anos, conforme documentos da Fundação Municipal de Cultura. A edificação abrigou inicialmente uma unidade do Colégio Sacré Coeur de Jesus de Belo Horizonte, cujo projeto original data de 9 de março de 1950. O prédio foi erguido em parte dos lotes 31, 33, 35 e 37, da ex-Colônia Afonso Pena. As colônias datam dos primórdios de BH e foram incorporadas à zona suburbana e, então, loteadas, nunca tendo servido ao propósito inicial de abastecimento da capital inaugurada em 12 de dezembro de 1897.
Em 1952, a primeira parte da edificação que se estende entre as ruas Iraí e Santa Madalena Sofia já estava concluída. Naquele ano, o prédio começa a ser usado como Colégio Sacré Coeur de Jesus. Quatro anos depois, o projeto ganha um bloco lateral esquerdo e parte do bloco central direcionado para a Avenida Prudente de Morais, com conclusão em1958. No ano seguinte, vem o término da última parte da construção: a capela. As pesquisas mostram que o responsável foi o engenheiro e arquiteto Vicente Buffalo, integrante da primeira turma da Escola de Arquitetura de Belo Horizonte, criada em 1930.
O Sacré Coeur de Jesus funcionou no lugar até a década de 1970, quando o prédio cedeu lugar ao Colégio Pitágoras Cidade Jardim, pertencente a um grupo estudantil leigo fundado na década anterior. Atualmente, o espaço se encontra em manutenção. Ainda conforme a PBH, ??o objetivo é que, depois da finalização das obras e reparos no local, ele seja devolvido de forma definitiva à Congregação da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus, para que dê continuidade ao seu uso?.
Quanto à importância do imóvel como patrimônio cultural de BH, os especialistas destacam tratar-se de representante de uma das diversas tipologias de escolas construídas na capital mineira. A edificação se insere no entorno do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Mosteiro Nossa Senhora das Graças. O estilo das fachadas frontais remete ao neoclássico, sendo um exemplar de grande representatividade arquitetônica e paisagística, ??bem como fonte de informação para a compreensão das estratégias de organização do espaço, técnicas construtivas e estudos da história da arquitetura?.
Hábitos
Se ganhar a proteção do patrimônio municipal, o prédio não poderá ser demolido, devendo qualquer obra, como ocorre em bens tombados na capital, ser precedida de aprovação do projeto pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município. A preservação da edificação propicia estudos sobre hábitos, valores, modos de ser e viver de uma pluralidade de grupos da sociedade belo-horizontina na metade do século 20, além de ser representativa para a educação patrimonial com subsídios importante para pesquisadores, estudantes, educadores, moradores e turistas.
A edificação é tida como referência de educandários que estão entre os mais tradicionais de BH, tanto enquanto abrigou o Colégio Sacré Coeur de Jesus quanto o Colégio Pitágoras. ??A proposta de proteção mantém a materialidade do espaço enquanto suporte de memórias individuais e coletivas, já que a importância das transformações urbanas não é incompatível com a permanência de marcos físicos de memória, sendo um exemplo de ??lugar de memória???, segundo as pesquisas para o dossiê de tombamento.
Imóvel tem fachadas em estilo que remete ao neoclássico, segundo especialistas, que consideram o conjunto de grande representatividade arquitetônica e paisagística
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