Ney Matogrosso: “O Brasil andou para trás nos últimos 3 ou 4 anos”

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Ney Matogrosso

Depois de três anos, Ney Matogrosso está de volta a Salvador, com o show Bloco na Rua, que será apresentado neste sábado (24), na Concha Acústica. O repertório mistura clássicos da carreira de um dos maiores intérpretes de nossa história, como Homem com H e Sangue Latino, com outras que entraram mais recentemente no repertório dele, como a até então inédita Inominável, de Dan Nakagawa, e Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, de Sérgio Sampaio, que ele canta pela primeira vez.

Aos 81 anos, a saúde e o vigor físico de Ney no palco continuam impressionando. Apesar disso, ele diz que só se preocupou em fazer exercícios quando fez 50 anos e, até hoje, não parou. “Mas para mim, isso de fazer ginástica era coisa de americano”, admite o cantor nesse papo com o CORREIO.

Ney também fala sobre o espetáculo Homem com H – O Musical, que estreou em São Paulo neste mês e fica em cartaz até outubro. Ele aprovou e disse que um dos méritos da produção é não ter apelado para algo “ostentatório”. O astro comenta ainda a biografia que saiu no ano passado, escrita pelo jornalista Júlio Maria. Diz que nunca lhe passou pela cabeça proibir alguém de escrever sobre ele, mas avisa: “Não mintam porque, se tiver mentira, posso processar”.

E ele manda um recado para aqueles que, há cinco anos, o criticaram porque ele havia dito que não levanta “bandeiras” de minorias. Por isso, o cantor foi muito criticado por parte da comunidade LGBTQIA+. . “Eu não preciso levantar bandeira porque a bandeira sou eu. Gente, há 50 anos, eu falo disso!”

Desde a época do Secos & Molhados, seu figurino sempre se destacou em suas apresentações. Desta vez, é novamente exuberante. Você participa da escolha dos figurinos?
Pela primeira vez, eu não participei da criação do figurino, porque a pessoa que fez [Lino Villaventura] não quis que eu me aproximasse. Acho insegurança da parte dele. Mas eu gosto [da roupa], embora não seja tão confortável como as que Ocimar [Versolato, ex-figurinista de Ney morto em 2017] fazia. Mas o efeito é bem interessante. Estranhei o pedido dele e disse isso a ele. Mas eu tinha que confiar nele, afinal eu que o procurei.

O repertório do show inclui a canção Tem Gente com Fome, que você havia gravado na década de 1980. O Brasil parecia ter praticamente acabado com a fome, mas ela parece ter voltado e a música soa bastante atual.
Olha, antes quero fazer uma observação: o repertório já havia sido decidido antes mesmo das eleições e antes da pandemia. Mas a volta da fome é assustadora. Uma vergonha para o país ter essa multidão de 33 milhões de pessoas na miséria! Mas a música infelizmente é muito atual. Ela havia sido censurada, era pra ter sido gravado pelo Secos & Molhados. Mas a Censura nunca permitiu, até que 84 ou 85, foi liberada e eu gravei. �? um discurso muito forte, que não tem subterfúgios: “tem gente com fome”.

O show tem também Homem com H, uma das músicas emblemáticas de sua carreira. Ela foi gravada como uma resposta irônica às especulações sobre sua sexualidade?
A música era um deboche e não servia para eu me afirmar [sobre a sexualidade]. Era um deboche e não uma afirmação. E nem havia “especulação” sobre minha sexualidade, porque especulação foi só no começo. Até porque nunca escondi, então não havia especulação. Então, foi apenas debochando do assunto.

Seu vigor no palco e sua saúde aos 81 anos impressionam. Você continua praticando exercícios físicos? Sempre se preocupou em cuidar da saúde?
Sim, pratico exercício, mas na pandemia precisei suspender, não podia encontrar o personal. Não tinha preocupação com saúde e isso de fazer ginástica era pra mim coisa de americano. Mas aos 50 anos, resolvi fazer porque tudo que dava na minha cabeça, eu fazia. Comecei, gostei e nunca mais parei. Gosto de trabalhar com peso, ferros… mas não pra ficar forte, mas para ter tônus muscular.

No ano passado, saiu uma biografia sua escrita pelo jornalista Júlio Maria e está em cartaz um musical baseado em sua carreira. O que achou dessas obras?
Não me envolvi na biografia. A única coisa que digo às pessoas que escrevem sobre mim é apenas que não mintam porque, se tiver mentira, posso processar. Não se pode acreditar em tudo. Já teve jornal que disse que eu havia sofrido um acidente, era castrado e, por isso, minha voz era aquela. Quanto ao espetáculo, me chamou a atenção o fato de não ter aquela coisa ostentatória da Broadway, de ser mais “enxuto”. Não dava pra contar a minha vida em duas horas, né? Então, o pessoal fez escolhas e eu aceito isso.

Você já disse que o mundo ficou mais “careta” de um tempo pra cá. Por que?
Acho que o Brasil andou para trás nos últimos três ou quatro anos. Imagina que estamos falando de Terra Plana! Isso é coisa da Idade Média! E tem a questão política, evangélica… religião misturada a política e isso influencia muito nessa caretice. Nos anos 70, a gente vivia na ditadura, mas existia uma liberdade comportamental.

Em 2017, você deu uma entrevista à Folha de S. Paulo, dizendo que não lhe interessa levantar bandeiras de minorias. Disse ainda a frase “Que gay o car…! eu sou é ser humano!”. Parte da comunidade LGBTQIA+ lhe fez críticas nas redes sociais e achou que você, como artista, devia carregar a bandeira. O que achou disso?
Você acha que essas pessoas LGBT podem dizer algo assim de mim? Então, vai se informar sobre mim. Mas não me esquento com isso. Eu não preciso levantar bandeira porque a bandeira sou eu. Gente, há 50 anos, eu falo disso! [de questões que envolvem sexualidade]. Não preciso ser panfletário. Sou assim em minha vida.

SERVI�?O
Ney Matogrosso
Quando: 24 de setembro de 2022 (sábado), 19h
Onde: Concha Acústica do Teatro Castro Alves
Quanto:
Arquibancada: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia)
Camarote: R$ 240 (inteira) e R$ 120 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos
Realização: Palco Produções
 

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