Quando o assunto são as vocações e profissões, você sabe o que faz seus olhos brilharem? O que motiva a sair da cama todas as manhãs? Além de garantir a sobrevivência, qual o seu verdadeiro propósito? Conhecer a si mesmo é uma condição imprescindível na vida e na profissão.
O professor e fundador da Instituição EVOs ??? Educação, Valores e Orientações Tadeu Ferreet acredita que sem esse mergulho interior fica muito difícil reconhecer os próprios valores, habilidades, interesses. No mercado de trabalho, o autoconhecimento representa um ganho para os profissionais e para as organizações feitas por eles. ???O autoconhecimento não é uma tarefa fácil e nem deve ser corriqueira. Requer análise, observação, paciência e resiliência???, explica o professor.
CEO da Bendita Imagem, a empresária Michele Barcena afirma que, no mundo corporativo, o autoconhecimento pode ser uma vantagem competitiva, uma vez que, através dele, é possível entender seus pontos fortes e fracos. ???Saber quem se é possibilita visualizar quais são os melhores caminhos para chegar onde deseja e como vai enfrentar determinados desafios com base em suas principais habilidades ou mesmo em suas vulnerabilidades???, explica.
Escolhas pensadas
Tadeu Ferreet destaca que, embora a maioria das pessoas escolha sua profissão com base nas preferências, habilidades e competências, ainda assim, é possível que elas se equivoquem durante o processo. ???Observar os gostos particulares é um bom caminho, mas também vale a pena ouvir a própria intuição e não há nenhum problema em voltar e recomeçar???, pontua.
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Tadeu Ferreet chama atenção para que as pessoas sejam despertadas para a importância do propósito, além das habilidades e preferências (Foto: Acervo pessoal) |
Para ele, é preciso que os jovens sejam despertados na família e na escola para o propósito, a vocação e a paixão. ????? possível ser remunerado por uma atividade, reconhecendo o que se faz e desempenha bem, unindo a tudo isso uma resposta ao que o mundo precisa, ou seja, o trabalho precisa fazer sentido para quem exerce a atividade, para a empresa, clientes, fornecedores e para o universo que habitamos???, afirma.
Michelle reconhece que a escolha profissional, por vezes, é feita de forma muito precoce, quando as pessoas estão vivendo as experiências da adolescência. No entanto, ela também acredita que sem essa pressão, muitos jovens deixariam essas decisões para depois e, talvez, adiassem indefinidamente a decisão.
???Quanto maior for o autoconhecimento e o acesso a esse desenvolvimento pessoal para os jovens, maiores serão suas chances no mercado de trabalho. Quem reconhece suas forças e fraquezas, consegue usá-las de maneira inteligente e assertiva, inclusive no mundo corporativo???, complementa a empresária.
Tadeu completa reforçando que a jornada do autoconhecimento e a consequente escolha profissional não deve estar pautada na idealização familiar. ???Jovens com 17, 18 a 20 anos vão encontrar nos dias de hoje uma gama de áreas de atuação diferentes dos pais, de cursos de graduação e, sem o estudo prévio do mercado de trabalho, sem o sonho e o desejo, o resultado pode ser um profissional inquieto, frustrado na primeira tentativa por conta das muitas facilidades, por conta da agilidade e a pressa em conseguir uma posição de destaque???, analisa.
Ferramentas
Tadeu Ferreet diz que não existe uma receita pronta capaz de promover o autoconhecimento, mas que a buscar requer que se seja autêntico, fora dos modismos, priorize-se a alma, os valores, a ética e que se siga o coração.
???Pergunte qual é o seu propósito. O que te realiza e onde você quer estar? Esqueça a moda. Eu sugiro que aproveite o que já existe e transforme, faça a diferença com qualidade, atendimento de excelência, agregue valor e, principalmente, esteja apaixonado pela sua escolha???, completa.
Michelle Barcena reforça que existem muitos caminhos e eles podem ser percorridos de formas muito peculiares, com base nas características, no estilo de vida e também nas oportunidades que cada pessoa encontra ao longo da vida. ???Na minha opinião, a informação é a principal arma nessa jornada. Hoje em dia há, além dos tradicionais livros, vídeos no Youtube, sites especializados, cursos livres, palestras sobre autoconhecimento disponíveis???, pontua.
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Michelle Barcena diz que o autoconhecimento não é uma tarefa fácil, mas é fundamental, inclusive, como diferencial no mercado (Foto: Divulgação) |
Para a empresária, o autoconhecimento é mais uma questão da percepção da necessidade do indivíduo em querer enfrentar suas próprias barreiras ou limitações e buscar esse conhecimento sobre si mesmo. ???Nem sempre é fácil, mas sempre é possível. Então, assuma que precisa e pode mudar de profissão se não estiver mais feliz ou desconfortável com o que faz no momento. Faça ou aumente sua rede de contatos profissionais: relacionamentos são fundamentais no mercado de trabalho e podem te ajudar a chegar a novos lugares???, finaliza.
Quem é:
Uranio Bonoldi é o autor de “Decisões de alto impacto” e é professor de MBA de Tomada de Decisão da Fundação Dom Cabral, consultor em gestão, governança corporativa, planejamento estratégico, liderança e processos de decision making. www.uraniobonoldi.com.br
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Uranio Bonoldi defende que o desenvolvimento pessoal e profissional estão atrelados ao autoconhecimento (Foto: Divulgação) |
1. Como o autoconhecimento impacta na vida profissional do indivíduo?
R: Me permita responder de forma inversa para que fique bem claro. A falta do autoconhecimento impacta diretamente na vida de um indivíduo e de forma muito perversa. Um profissional que não sabe exatamente quem é (não conhece sua essência), do que gosta, quais são seus verdadeiros valores e qual o propósito daquilo que faz, pode estar vivendo a vida de outra pessoa, a vida de alguém que diz como sua vida deve ser vivida, com ideais que outras pessoas valorizam. Logo, o autoconhecimento é de fundamental importância para que o profissional veja propósito no que faz, inove, intua, escolha melhor, mais bem posicionado com relação a seus valores, arrisque-se (avaliando riscos), decida e, consequentemente, se desenvolva.
2. Como a jornada do autoconhecimento pode ser feita numa idade tão tenra como aquela que coincide com o final do ensino médio?
R: Os pais podem ter um papel fundamental nesse processo, buscando orientar seus filhos com base nas aptidões que eles demonstram no dia a dia. Porém, os pais devem ter muito cuidado em não orientá-los com base em seus desejos, mas sim nas vocações que seus filhos venham a ter. Aquela máxima: quero que meu filho seja médico, seja engenheiro, seja o que sou, porque domino o campo e posso ajudá-lo, não é bom caminho. Pode não ter qualquer ligação com os anseios e verdadeira vocação do jovem entrando na idade adulta. Por outro lado, você pode estar se perguntando: mas e jovens que não demonstram qualquer afinidade e são cheios de dúvidas? E aqueles casos em que os pais não identificam essas possíveis aptidões? Nestes casos, se possível, vale uma ajuda profissional, um teste de aptidão assistida, buscando identificar para qual caminho, mais provável, o adolescente pode ter maior chance de acertar em sua carreira. Tenho dois filhos, em um deles, aplicamos o teste vocacional para confirmar sua verdadeira vocação e ???pimba???, em cheio, deu cinema. No caso do outro, havia muitas dúvidas e ele acabou fazendo administração de empresas. Felizmente, ambos se deram muito bem. Caso não haja essa possibilidade, os pais podem buscar pessoas que conheçam bem seus filhos e que não tenham qualquer interesse na carreira do jovem, por exemplo, professores, tios ou tias próximas, amigos e por que não dizer, até amigos bem próximos do jovem que busca essa resposta. ??s vezes, um colega pode dar boas pistas.
3. Quais os caminhos para conhecer a si mesmo?
R: Há inúmeros testes, aplicativos que podem ser baixados, testes na internet que ajudam a trilhar o caminho do autoconhecimento de forma estruturada. Esse caminho pode ajudar a pessoa a começar o processo do autoconhecimento. Dando prosseguimento, avalio que a busca pela solitude (solidão voluntária) e meditação nos faz ter um excelente encontro conosco mesmos, em silêncio, sem qualquer interferência externa. A meditação é uma prática tão antiga quanto a humanidade e os benefícios que ela traz para nossas vidas são enormes. A meditação coloca o indivíduo em estado de observação de si mesmo e revela muitas informações, podendo trazer descobertas valiosíssimas para o indivíduo. Sugiro à pessoa que queira aplicar a meditação em sua vida, simplesmente comece. Se discipline a pesquisar formas possíveis na internet (eu comecei meditando através dos ensinamentos da Cabala e sigo até hoje) e descobrirá que há um mundo dando a chance das pessoas se conhecerem melhor. O processo de meditação faz com que a pessoa se equilibre, entenda seus medos, conheça formas de encará-los, desenvolva novos hábitos e se sinta mais plena, mais feliz.
4. Geralmente, as pessoas escolhem suas profissões com base nas preferências, habilidades e competências. ?? possível que essas bases recaiam sobre uma escolha equivocada? Como isso pode ser minimizado?
R: Sempre digo que quando uma pessoa está em busca da escolha de sua profissão, ela nunca deverá tirar de perspectiva que ela está escolhendo uma atividade para servir às pessoas, à sua comunidade. Então veja a responsabilidade desta escolha. Ela é uma escolha de alto impacto para si e para as demais pessoas à nossa volta, certo? Portanto, para que se escolha algum ofício que permitirá a pessoa exercer a profissão escolhida com maestria, passa por um processo cognitivo de enorme importância. Assim tudo que você acaba de enunciar como base para escolha, como preferência, habilidades e competências, está corretíssimo e, eu adiciono apenas mais um ponto, se fazer perguntas: A escolha que está para ser feita e a decisão que está prestes a ser tomada, entre as alternativas que se apresentam, tem a ver com a ESS??NCIA do agente decisor (do indivíduo)? Tem a ver com seus valores? Faz seus olhos brilharem? O faz levantar da cama todos os dias sentindo o propósito daquilo que ele faz? O que significa isso, senão fazer perguntas a si mesmo, refletir e responder de forma honesta? Isso é autoconhecimento.
5. No pós pandemia, muitos se viram trocando de profissão. Como o autoconhecimento pode ajudar nesse momento?
R: Sim, esse movimento aconteceu pelo fato que a pandemia acabou por fazer com que as pessoas tivessem que ficar em casa e, sem querer, ou inconscientemente, passassem a refletir mais e deixassem de agir automaticamente. Entendo que isso proporcionou às pessoas baixarem a pressão sobre si mesmas – provavelmente aquela pressão que se viam submetidas no dia a dia. Muita correria, muito barulho, trânsito, consequentes atrasos, rádio ligado no carro, notícias e informações além do limite aceitável, buzinas, reuniões, almoços intermináveis e por aí vai. Quando as pessoas tiveram mais tempo e, mais tempo consigo mesmas, e tiveram tempo de refletir, começaram a perceber que provavelmente havia alguma coisa de errado com elas. Por vias tortas, acabaram trilhando um bom caminho e viram que talvez fosse hora de mudar seu curso, que muitas coisas que pareciam ter valor, talvez não fizessem tanto sentido assim. Ou seja, indiretamente estavam se autoconhecendo um pouco melhor. O incrível é que o autoconhecimento pode ajudar seja amplamente consciente ou até de forma inconsciente, como pode ter ocorrido em inúmeros casos. Porém, importante destacar que precisamos fazer esse exercício de forma consciente, pois de forma inconsciente, pode carregar fortes doses de emoção e isso não é bom. O levar nossas ideias ao mundo da razão, da reflexão, da intuição, que é da consciência humana, não anda de mãos dadas com emoção. A emoção turva nosso sistema decisório, portanto, estar consciente e presente é de fundamental importância.
6. Que dicas e orientações podem ser dadas àqueles profissionais que se dizem desconfortáveis com as profissões escolhidas?
R: Incrível, mas um movimento relativamente recente surgiu e, a meu ver, ele demonstra exatamente esse desconforto. O movimento ???quiet quitting??? ou, traduzindo de forma direta, desistência silenciosa. A expressão surgiu para designar o hábito de trabalhadores executarem apenas o mínimo exigido de suas atribuições, sem interesse em entregar mais do que lhe é esperado. Veja que esse tipo de comportamento não pode levar a um ???final feliz??? para a empresa e para o colaborador. Penso que, neste caso, o colaborador deve olhar para si, buscar o autoconhecimento e entender seu propósito, entender do que gosta de fazer, avaliar se seu propósito está alinhado ao propósito da empresa em que trabalha e se faz sentido para ele. Caso contrário, deve estabelecer um plano de deixar a empresa, de forma responsável, e buscar outra que lhe faça sentido ou outra profissão que lhe dê propósito de vida. Do contrário, o profissional não será interessado pelo que faz, não se estimulará em buscar se desenvolver cada vez mais, arriscar, perseguir seu aperfeiçoamento e, consequente crescimento na organização. Ruim para ele e para a empresa, uma vida sem significado.
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