As baianas Ana Mametto e Laila Garin estão no elenco da série Só Se For por Amor, produção original da Netflix que chega hoje ao streaming. A produção conta a história da banda Só Se For por Amor, que consegue viralizar uma música e tem a chance de um contrato com uma grande gravadora e produtora. O problema é que a empresa se interessa apenas pela vocalista, Deusa (Lucy Alves) e quer lançá-la como artista solo.
Surge aí, o primeiro conflito, porque, se aceitar a proposta, ela pode ser taxada de traidora pelos três amigos da banda e pelo namorado Tadeu (Filipe Bragança). Enquanto isso, o grupo vai atrás de uma nova cantora e conhecem Roberta (Luiza Fittipaldi) e a misteriosa Eva (Agnes Nunes), que deseja emplacar uma música no topo das paradas, custe o que custar.
As baianas Ana Mametto e Laila Garin estão no elenco. Mametto vive Ana Lígia, uma das donas da gravadora, que é casada com o sócio César Marcolo (Gustavo Vaz). “Nós, mulheres, estamos nesse lugar do ‘braço direito’ do homem e esses clichês que precisamos desconstruir. Mas uma hora, Ana dá um basta e quer sair desse lugar. Acho que ela vai trazer essa reflexão às mulheres”, diz a atriz, sobre a personagem.
Laila interpreta Gorete, dona de um bar onde os músicos se apresentam em uma tentativa de dar projeção à carreira. “Gorete tem um prazer em ver os artistas reunidos, em dar um empurrão… ela é uma mulher livre, transa com homem e pode transar com mulher. Mas tem um segredo que a gente não sabe”, diz Laila.
A série tem versões para músicas bem conhecidas, como a clássica Evidências, ou uma axé music da Banda Eva e o pop de Anitta. Mas as versões são sempre “bonitinhas”, o que, no fim das contas, as torna insossas e caretas. Baladinhas acompanhadas de um arranjo nada original, como fazem Anavitória, Ana Vilela (a do Trem Bala), Melim e outras neste estilo. E o roteiro vai na mesma linha: embora tenha uma pitada de empoderamento feminino e diversidade representada no sotaque das personagens, não passa disso: é careta como a trilha, com diálogos artificiais e frases românticas piegas. Nem o elenco, que se esforça, consegue salvar.
ENTREVISTAS
Ana Mametto, que interpreta Ana Lígia, sócia da gravadora
Você além de atriz, é cantora. Acha importante essa dupla atuação?
A arte se mistura em todos os vieses. Quando você canta, de certa forma, você cria uma persona. O teatro chega agregando o meu canto. Não fiz nada programado para o mercado. Foi tudo consequência do meu amor pela arte e pela música. E pelo destino, pela força que a gente deposita no que a gente acredita, as oportunidades chegam. E o artista deve buscar novos saberes. Mas isso não é para ter mais opções de trabalho, mas para tornar sua arte mais potente.
A série promove uma diversidade de sotaques, com personagens de vários estados. O que acha disso?
Não posso transformar meu sotaque num sotaque que não existe. Assim como Goiânia hoje é um grande polo da música brasileira, um lugar de onde artistas nacionais vêm… então, chegam pessoas de todos os lugares do Brasil. Então, por que vou pra Goiânia e tenho que ter outro sotaque lá? Fico muito feliz, porque é minha primeira experiência no audiovisual. Quando chega à minha mão uma personagem baiana, que fala como eu, me deixou feliz, por mostrar como a gente fala.
Ana Lígia é uma empresária bem-sucedida, sócia do marido e que vive casamento em crise. Qual o recado dela para as mulheres?
Ana representa tantas outras mulheres… a gente vive relacionamentos onde o protagonismo nunca chega pra gente, sempre tá nesse lugar de suporte, de apoio… na grande maioria das vezes, tudo acontece por conta dessas mulheres. E a gente tá nesse lugar do “braço direito”, do “por trás de um grande homem há uma grande mulher” e esses clichês que precisamos desconstruir. Mas uma hora, Ana dá um basta e quer sair desse lugar. Acho que ela vai trazer essas reflexão às mulheres. Até o quarto episódio, ela ainda tem essa falta de liberdade, essa tristeza… mas a liberdade dela chega. A gente precisa quebrar essa corrente e ser protagonista de nossa vida.
Laila Garin é Gorete, dona de um bar onde as bandas locais se apresentam
Você além de atriz, é cantora. Acha importante essa dupla atuação?
Eu já comecei cantando no teatro, então desde o início foi assim. E existem muitos musicais sendo feitos no país agora, mas o Brasil faz há muito tempo, desde o teatro de revista, desde operetas, isso não é uma coisa nova. Mas houve outros momentos em que essa pergunta foi feita pra mim: “Isso não atrapalha?”. Mas com essa coisa da internet, se você perceber, a gente tá exigindo que as músicas sejam lançadas nas redes sociais, que tenham um minuto e meio, mas que tenham também tratamento visual… agora mesmo, vi uma novela em que tem Gaby Amarantos como atriz. Sempre vivi esse misto e muitas vezes, tive que priorizar uma coisa. Sou mais atriz que cantora. Então, quando tem um projeto em que a gente pode ser as duas coisas é maravilhoso. No teatro, sempre misturei os dois [canto e interpretação]. Pra mim, é mais fácil cantar quando tenho um personagem. Sempre misturei. Até porque na Bahia a gente é muito musical.
A série promove uma diversidade de sotaques, com personagens de vários estados. O que acha disso?
Essa diversidade é muito importante. Só o sotaque, que parece um detalhe, já é importante. Quando você tem certo reconhecimento, tem uma liberdade de ser você mesma. Quando cheguei a SP, ainda tinha uma crença de que deveria mudar meu sotaque pra ser aceita. E fui discriminada… na minha primeira entrevista com Amaury Júnior, já dei uma ‘patada’ nele… (risos). E tem essa coisa até hoje. Mas isso tá mudando. �? muito importante. Na série, tem ainda uma justificativa dramatúrgica, porque Goiânia tem gente do país inteiro, por ser um polo para a música. Mas é lindo que todos tenham vindo com o sotaque do jeito que têm. Isso favorece a diferença. Eu mesmo, na série, às vezes, tenho sotaque baiano e às vezes, pernambucano. Mas é isso mesmo.
Ana Lígia é uma empresária bem-sucedida, sócia do marido e que vive casamento em crise. Qual o recado dela para as mulheres?
Gorete tem um prazer em ver os artistas reunidos, em dar um empurrão… ela é uma mulher livre, não tem problema com sexo, transa com homem, pode transar com mulher e… é livre. Mas tem um segredo que a gente não sabe. Ela tem isso de ser livre, é uma hedonista, independente e autônoma. Mas é generosa, então não é amarga.
Que você achou desse assunto?