Esse pinto não é mole! Conheça Brunin, a ave que ‘pensa’ ser um cachorro

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???Esse pinto não é mole, esse pinto é safado???. Quem leu esta frase cantando com certeza lembra de um dos maiores sucessos da música popular baiana, ???O Pinto do Meu Pai???, da banda Raça Pura. Pois a personificação deste pintinho existe e mora na Barra. 

Brunin ainda não fugiu com a galinha da vizinha, mas se tornou uma celebridade nas ruas Aracaju e Belo Horizonte. Há duas semanas, o consultor Xicco Kairós adotou o pintinho da raça Balão. Criada solto no apartamento, junto com os dois cachorros, Keké e Odete Roitman, a ave passou a acreditar fielmente ser um cão. Toda manhã, crianças, adultos e idosos param para ver o pinto passeando ao lado dos irmãos caninos. Ele não precisa de coleira e segue fielmente o dono e seus ???irmãos??? pela calçada.

???O que é aquilo? Um pinto passeando com cachorros? Só na Bahia mesmo. Meu Deus, ele anda que nem os cães. Ele late também????, brinca Dona Maria, que estava levando o filho para a escola. ???Ele só falta latir. Passa o dia com os cachorros em casa. Quando ganhei Brunin, o deixei solto em casa. Quando ele se acostumou conosco, levei para passear. Foi automático. Meu medo é só alguém ou eu mesmo pisar sem querer. Ele fica caminhando entre minhas pernas, tenho que andar arrastando a chinela???, disse Xicco, seu tutor. Brunin só anda na calçada e atravessa a rua na faixa de pedestre. Até o elevador pega sem precisar de colo. 

Brunin também é fácil de fazer amigos. Qualquer pessoa pega nele, faz carinho, é um pinto bem carinhoso (lá ele).

???Não treinei Brunin. Ele foi pegando o jeito, seguindo os cachorros e aprendendo rápido. Quando ele se afasta da gente, começa a piar alto e os próprios cachorros voltam para buscá-lo???, contou Xicco, enquanto Odete abocanhava Brunin como se fosse engolir o bichinho. ???Essa galera tem umas brincadeiras pesadas, mas é normal???, tranquilizou.

Dentro de casa, Brunin passa o dia ciscando pela casa, brincando com os cachorros. A hora de dormir é um ritual. Assim que a noite cai, ele vai para uma gaveta do guarda-roupa e se enrola numa cueca velha do dono. Contudo, é o primeiro a acordar e, lógico, procura o dono para passear na rua.  ???Ele me acorda todos os dias, meu despertador natural???, conta Xicco. 

A chegada de Brunin tem dois propósitos nobres. O primeiro foi para substituir Dendê, um galo da casa que também passeava na rua, era conhecido no bairro, mas há dois meses precisou se mudar. 

???Dendê também se reconhecia como um cachorro, mas provavelmente da raça pitbull. Ele cresceu e começou a correr atrás de moradores e avançar nos outros cachorros. Hoje ele está feliz, numa casa com quintal???, lembra Xicco.

Dendê era da mãe dele, a bióloga e professora da Ufba aposentada Carmem Lemos, de 93 anos. O antigo galo fazia parte do tratamento de Alzheimer, conhecido como Terapia Assistida por Animais (TAA), ou simplesmente Pet Terapia. Agora, passou o bastão para Brunin.

A TAA é uma forma de tratamento que melhora a qualidade de vida da pessoa que sofre desta doença. Estudos indicam que a relação entre animais e pacientes dá resultados, como melhoria no convívio social e afetivo.  

Brunin tem sido uma companhia para dona Carmem Lemos, mas não é a única. Na casa além dos dois cachorros, ainda tem duas araras, um cágado, além de alguns passarinhos, todos devidamente registrados pelo Ibama.

???Minha mãe é bióloga, sempre gostou de bicho e passou isso para mim. Nossa casa sempre teve muito verde e animais. Hoje, distraem ela. Já criamos cobra, cutia, sapo??? Dendê era um galo que passava o dia no colo de minha mãe. Mas doamos. Ele era de uma raça caipira, mais braba. Brunin agora está fazendo este papel. Ela gosta???, conta Xicco. ???Nosso novo pinto é de uma raça mais sociável e mansa. Espero que continue sendo amigo da vizinhança???, completa o dono.

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Xicco com Brunin na mão (Foto: Marina Silva/CORREIO)

Este fenômeno de pinto acreditando ser um cachorro é bem mais frequente do que se imagina. Tem, inclusive, um nome para este tipo de relação: imprinting. Resumidamente, este conceito é quando o filhote reconhece a mãe ao nascer. No caso das aves, quando sai do ovo. ?? uma maneira de proteção também. Basta ver galinhas ou patos, por exemplo, com seus filhotes enfileirados atrás da mãe. No caso de Brunin, ele buscou nos cães esta forma natural de proteção e comunidade. Esta relação casa perfeitamente com as famílias caninas, que costumam preservar o laço da matilha. 

Para o médico veterinário Stéfano Mendes Lima, tudo é questão de simbologia para a pequena ave. Como nós, inclusive. Se eu falo a palavra pinto, sua mente vai reportar para vários significados, como um pênis, ou até cantar a música ???O Pinto do Meu Pai???. ?? assim com Brunin. Para ele, os cachorros e o tutor têm um simbolismo de sociedade, como se fosse a referência de família e sobrevivência. São as ???mães galinhas???.

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A brincadeira com os cães é pesada (Foto: Marina Silva/CORREIO)

????? uma leitura pessoal do animal. Não é que ele pense ser um cachorro. Ele se enxerga como um integrante daquela família. ?? a interpretação dele mesmo, como um simbolismo.  Se ele ver outro cachorro ou até mesmo uma galinha da mesma espécie que estejam fora deste ciclo, vai estranhar, pois não se enxerga mais como aquela raça. A referência dele é o tutor e os dois cachorros. O conceito de viver em sociedade não serve apenas para os humanos. Serve também para os bichos. Não é raro casos como o de Brunin. ?? bem possível???, explica Stéfano, que há 15 anos trabalha com  zoopsiquiatria. Ele também é psicólogo de humanos. 

Se você pretende criar um pinto de verdade misturado com seus pets, não vá de vez. ?? preciso conhecer a personalidade de cada animal. O apartamento de Xicco é repleto de animais acostumados com a convivência entre espécies. Não adianta, por exemplo, pegar um pinto e largar com seu gato ou com seu doguinho que nunca viram outro bicho na vida. Neste caso, o simbolismo do pinto pode significar comida. 

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